Kathleen Folbigg fala pela primeira vez após perdão por matar os filhos: "É uma vitória para a ciência e para a verdade"

6 jun 2023, 14:32
Kathleen Folbigg falou pela primeira vez depois de ser libertada (Foto: AP)

Australiana partilhou um vídeo em que se mostra aliviada com o perdão e agradece à família e amigos o apoio durante o longo período que passou na prisão, acusada de matar os quatro filhos

A australiana condenada a 40 anos de prisão por matar os filhos, e que foi libertada na segunda-feira por haver "dúvidas razoáveis" da autoria dos crimes, falou pela primeira vez após sair da cadeia, descrevendo a sua libertação como uma vitória da ciência e da verdade.

Kathleen Folbigg foi inocentada após cumprir 20 anos de pena, tendo sido presa em 2003 por três acusações de homicídio e uma de homicídio por negligência após a morte dos seus quatro bebés ao longo de uma década. Em todos os casos, foi ela quem encontrou os corpos, embora não houvesse provas físicas de que tivesse causado as mortes das crianças.

"Estou extremamente aliviada e agradecida por ter sido indultada e libertada da prisão", diz Folbigg, num vídeo divulgado esta terça-feira. Agradecendo aos amigos e família, sem os quais diz que não teria conseguido aguentar o "calvário" a que foi sujeita, a australiana declara que a sua libertação é "uma vitória para a ciência e, sobretudo, para a verdade".

"Durante os últimos 20 anos em que estive na cadeia, sempre pensei e pensarei sempre nos meus filhos, chorei pelos meus filhos, amei-os e senti terrivelmente a falta deles", diz ainda a australiana, atualmente com 55 anos. 

 

Folbigg sempre defendeu a sua inocência e foi libertada na segunda-feira após decisão do procurador-geral do estado australiano de Nova Gales do Sul, Michael Daley, depois de serem conhecidos os resultados de uma nova investigação científica aos alegados crimes. As novas provas sugerem que as crianças poderiam ter uma mutação genética que lhes provocou a morte.

Num memorando dirigido ao procurador-geral, o antigo presidente do Supremo Tribunal australiano, Thomas Bathsurst, que liderou a nova investigação - coordenada também por uma cientista espanhola, Carolina García Vinuesa - escreveu que existia uma possibilidade razoável de que três das crianças tivessem morrido de causas naturais, devido a uma mutação genética conhecida como CALM2-G114R, e a quarta criança não teria sobrevivido a um transtorno neurogénico subjacente a esta mutação. 

Diários de uma "mãe enlutada"

Folbigg tinha apenas 20 anos quando se casou com Craig Folbigg, que tinha conhecido na sua cidade natal, Newcastle, na costa norte de Nova Gales do Sul. No período de um ano, engravidou de Caleb, que nasceu em fevereiro de 1989 e viveu apenas 19 dias. No ano seguinte, os Folbigg tiveram outro filho, Patrick, que morreu aos oito meses. Dois anos mais tarde, Sarah morreu aos 10 meses. Em 1999, a quarta filha do casal e a que viveu mais tempo, Laura, morreu aos 18 meses.

A investigação policial sobre a morte das quatro crianças começou no dia em que Laura morreu, mas passaram-se mais de dois anos até que Kathleen fosse presa e acusada. Nessa altura, o casamento tinha terminado e Craig estava a colaborar com a polícia para construir um caso contra a mulher.

Kathleen entregou à polícia os seus diários, que, segundo os procuradores, continham os pensamentos mais profundos de uma mãe torturada pela culpa do seu papel na morte dos filhos. Mas Thomas Bathsurst afirmou que "as provas sugerem que se tratava de escritos de uma mãe enlutada e possivelmente deprimida, que se culpava pela morte de cada um dos filhos, e não de admissões de que os tivesse assassinado ou prejudicado de qualquer outra forma".

O antigo presidente do Supremo Tribunal da Austrália também admitiu dúvidas quanto às provas apresentadas contra Kathleen pelo ex-marido, Craig Folbigg, que afirmava que a sua mulher era "mal-humorada" com os filhos e que "ralhava com eles de vez em quando".

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