Gato marsupial pode estar a contribuir para a própria extinção ao trocar o sono por sexo e "morrer de exaustão"

1 fev 2023, 10:49
Gato marsupial

Machos da espécie percorrem dezenas de quilómetros numa única noite à procura do maior número de fêmeas

Os gatos marsupiais são uma espécie ameaçada de extinção, cujo declínio se deve a vários fatores: perda de habitat, predadores como raposas e gatos selvagens, e consumo de sapos venenosos. Mas, de acordo com um novo estudo, pode haver um outro motivo para o rápido desaparecimento da espécie: os machos estão a trocar o sono por sexo, o que pode mesmo resultar na sua morte.

As fêmeas podem reproduzir-se logo após atingirem a maturidade sexual, com um ano, e até ao fim da vida, por volta dos quatro anos. Quanto aos machos, tendem a sobreviver apenas a uma época de acasalamento - e os cientistas começam a perceber porquê.

"[Os machos] cobrem grandes distâncias para acasalar o mais frequentemente possível, e parece que este impulso é tão forte que abdicam do sono para ter mais tempo para procurar fêmeas", explica Cristofer Clemente, investigador da universidade australiana de Sunshine Coast onde o estudo foi publicado esta quarta-feira, sendo citado pela BBC.

Para tentar perceber o padrão de comportamento destes marsupiais carnívoros (que, ao contrário do que o nome indica, não são da família dos felinos), os investigadores equiparam os animais de ambos os sexos com localizadores e estudaram o seu percurso pela ilha de Groote Eylandt, no nordeste da Austrália. Nos 42 dias em que foram acompanhados, machos e fêmeas revelaram diferenças significativas: quer nos percursos percorridos, quer na probabilidade de sobrevivência na Natureza.

Os machos descansavam menos e percorriam maiores distâncias à procura de fêmeas, com alguns exemplares da espécie a trilhar mais de 10 quilómetros numa única noite - o equivalente a 40 quilómetros para um adulto humano, com base no comprimento médio dos passos.

Na busca obsessiva pela renovação da espécie, os machos acabavam por descurar a manutenção do pelo e não se mostravam tão vigilantes quanto as fêmeas na procura por comida. Como consequência, revelaram-se muito mais vulneráveis a parasitas ou a ataques de predadores.

"A privação de sono durante um período prolongado, e todos os sintomas a ela associados, tornam a recuperação impossível e podem explicar as causas da morte dos machos após a época de acasalamento", justifica o autor principal do estudo, Joshua Gaschk. "Tornam-se alvos fáceis, são incapazes de evitar colisões com veículos, ou simplesmente morrem de exaustão".

Gaschk acrescenta que estes resultados preliminares exigem uma investigação mais aprofundada dos efeitos da privação de sono em todos os mamíferos marsupiais da Austrália, e também de outras espécies. "Se os gatos marsupiais descuram o sono em detrimento da sua própria sobrevivência, podem tornar-se um excelente exemplo de estudo para os efeitos da privação do sono nas funções corporais", afirma, citado pela BBC.

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