Santos Silva fez do 25 de Abril um elogio ao 10 de Junho (um discurso, o primeiro, interrompido)

25 abr 2022, 13:21

Discurso do presidente da Assembleia da República ficou marcado pelo desmaio de um funcionário do protocolo, que sofreu uma quebra de açúcar e caiu inanimado atrás da bancada dos membros do Governo

Naquele que foi o seu primeiro discurso de 25 de Abril como Presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva centrou-se na "Revolução Libertadora do 25 de Abril" e na capacidade de Portugal de se abrir ao Mundo.

Começando por lembrar a guerra na Ucrânia, que "constitui a mais grave ameaça em décadas", o presidente do Parlamento sustentou que a abertura de Portugal ao mundo é um bem precioso em tempos de ódio.

"Em tempos tão difíceis, as características essenciais da nossa pátria, como uma democracia madura, um país seguro e pacífico e uma sociedade coesa e aberta ao outro, emergem como um valioso património e um exemplo internacional. Graças à revolução libertadora do 25 de Abril e ao modo como fomos desde então construindo uma democracia pluralista que a todos procura integrar, sem admitir fraturas de base religiosa, territorial ou identitária, não tem cessado de crescer o reconhecimento internacional da capacidade portuguesa de comunicar com todos, de fazer pontes entre realidades distintas e de ser uma nação europeia aberta ao mundo", afirmou, sendo aplaudido pelo hemiciclo.

Santos Silva lembrou que "é muito o que a democracia deve às comunidades no reconhecimento que gozamos" e "a capacidade" de Portugal se abrir ao mundo que faz com que a "sociedade e o civismo" sejam sempre associados aos portugueses.

Discurso interrompido

Santos Silva discursava há sensivelmente cinco minutos quando um funcionário de protocolo da Assembleia da República sofreu uma quebra de açúcar e caiu inanimado atrás da bancada dos membros do Governo. A sessão solene foi de imediato interrompida e, para prestar socorro entraram dois elementos do INEM, o médico e a enfermeira do Parlamento, bem como o secretário de Estado Lacerda Sales e o deputado do PSD Ricardo Batista Leite, ambos médicos, que se aproximaram para tentar ajudar, tendo acompanhado o funcionário quando foi retirado da sala para receber assistência.

O discurso foi interrompido cerca de dez minutos e, depois de o funcionário ter sido retirado do hemiciclo, a sessão solene foi retomada de imediato, com Santos Silva a voltar a discursar como se nada se tivesse passado.

Reconhecendo que este seria um discurso esperado no 10 de Junho, Santos Silva quis destacar que "é preciso acarinhar a abertura aos outros de um país como Portugal".

"Em tempos de fechamento e ódio, a abertura aos outros de um país como Portugal, onde vivem atualmente cidadãos de quase todas as nacionalidades sem que isso constitua qualquer problema, onde qualquer confissão religiosa é bem-vinda e que se sente tão à vontade a lidar com os seus parceiros europeus como na relação com África, as Américas e as várias regiões da Ásia, essa abertura é um bem precioso que se deve acarinhar”, referiu.

O agradecimento aos capitães de Abril

Lembrando ainda que Portugal é um país “fazedor e atravessador de pontes", o presidente da Assembleia da República afirmou que "várias das portas que o 25 de abril abriu foram abertas pelos migrantes".

"E muito do que a democracia deve às comunidades, o reconhecimento internacional de que gozamos como país pacífico, seguro, humanista e cosmopolita. Sendo mais de cinco milhões e residindo em mais de 180 países, a influência que assim projetam os portugueses e lusodescendentes é verdadeiramente global. As comunidades que formam são uma demonstração concreta de quão falso é o mito da contradição entre identidade originária e integração, sobre quem repousam variadas estirpes de xenofobia. De facto, as comunidades portuguesas são um exemplo claro de dupla vinculação harmoniosa: de uma banda, ligação profunda a Portugal e às respetivas regiões e localidades; da outra, inserção plena nas sociedades de acolhimento, com respeito escrupuloso pelas suas leis, usos e costumes", afirma Santos Silva, lembrando a participação dos portugueses lá fora nas últimas eleições.

Augusto Santos Silva terminou o discurso com o agradecimento aos capitães de Abril, presentes nas galerias da Assembleia, dizendo que foi também com a sua luta que Portugal se "fortaleceu como casa" de gente humanista graças à "democracia onde cabem todos os portugueses, independentemente de onde nasçam".

“A revolução que encheu de cravos os canos das espingardas fez deles e dos seus descendentes membros plenos da comunidade cívica que é a nossa pátria. E assim Portugal alargou horizontes e fortaleceu-se no seu papel mais frutífero no concerto das nações: como berço e casa de gente a seu modo cosmopolita, pacífica, humanista, solidária, aberta aos outros, calcorreando pelo mundo e em todo o lado derrubando muros e erguendo pontes. Também por isso, capitães de Abril, do fundo do meu coração, muito muito obrigado."

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