Mo Farah revela ter sido traficado e escravizado em Inglaterra

12 jul 2022, 00:16
Mo Farah em 2020 (Francisco Seco/AP)

Revelação aterradora do atleta que foi quatro vezes campeão olímpico

O atleta britânico Mo Farah, que soma quatro títulos olímpicos, seis mundiais e quatro europeus, entre os 5.000 e os 10.000 metros, revelou ter sido traficado ilegalmente para o Reino Unido, onde foi escravo doméstico.

«Durante anos fui mantido em cativeiro. Estive anos preso», denunciou ‘sir’ Mo Farah, em entrevista à BBC, na qual revelou que o seu verdadeiro nome é Hussein Abdi Kahin e que não pôde ir à escola, tendo sido forçado a trabalhar para poder comer.

Aos 39 anos, Mo Farah, que sempre disse ter vindo para Inglaterra com os pais, desde a Somália, confessou agora que afinal veio do Djibuti, aos nove anos, com uma mulher que não conhecia, que lhe atribuiu o nome de Mo Farah e que, no Reino Unido, o obrigou a cuidar dos filhos de outra família.

Num documentário da estação televisiva britânica, Farah contou ainda que os pais nunca estiveram no Reino Unido e que a mãe e dois irmãos seus vivem numa fazenda da família, no estado separatista de Somalilândia, que declarou a independência em 1991, mas não é reconhecido internacionalmente.

O pai, de nome Abdi, foi morto a tiro quando o atleta tinha somente quatro anos, precisamente durante a violência civil que se vivia na Somália.

Aos «oito ou nove anos», o multi-premiado atleta foi levado de casa para ficar com a família no Djibuti, acabando por ser desviado para o Reino Unido pela tal mulher que não conhecia e não era sua parente, e que lhe disse que o levava para a Europa para viver com parentes.

«Eu nunca tinha estado num avião», recorda, assumindo que estava animado com a nova ideia de vida.

Quem o levou ilegalmente apresentou às autoridades documentos falsos com o nome Mohamed Farah, instalando-o posteriormente num apartamento a oeste de Londres, em Hounslow, altura em que lhe roubou um papel que tinha os contactos dos seus parentes.

«À minha frente, rasgou o papel e colocou-o no lixo. Naquele momento percebi que estava em apuros», confessou.

‘Sir’ Mo disse que, «para ter comida na boca», teve de fazer tarefas domésticas e cuidar de crianças, sendo ameaçado e obrigado a «nada dizer, se queria ver a família novamente».

Só foi autorizado a ir para a escola quando tinha cerca de 12 anos, altura em que se matriculou no sétimo ano no Feltham Community College, tendo os funcionários sido informados de que era refugiado da Somália.

A sua antiga professora Sara Rennie disse à BBC que a criança chegou à escola «mal-cuidada», a falar pouco inglês e «alienada emocional e culturalmente».

Acrescentou que as pessoas que se diziam ser os seus progenitores nunca compareceram a qualquer reunião de pais.

Já o seu professor de educação física, Alan Watkinson, garante que a vida do jovem mudou completamente quando entrou numa pista de atletismo.

«A única linguagem que ele parecia entender era a da educação física e do desporto», recordou o campeão olímpico dos 5.000 e 10.000 metros em Londres2012 e Rio2016.

Mo Farah assumiu que o desporto foi a sua salvação, pois «a única coisa que poderia fazer» para se livrar desta situação de vida «era sair e correr».

O jovem acabou por confessar que revelou a Watkinson a sua verdadeira identidade, o seu passado e sobre a família para a qual estava a ser forçado a trabalhar.

O documentário da BBC, sobre o qual foi divulgado um pequeno resumo nesta segunda-feira, será exibido na quarta-feira.

 

 

 

 

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