Aterro com resíduos proibidos está a arder lentamente há quatro anos

24 mar 2023, 21:30

Cheiro é intenso e moradores temem efeitos sobre a saúde. Combustão debaixo do solo prolonga-se desde um incêndio em 2019. Governo está há meses para revelar conclusões de estudo

Os sinais de que alguma coisa continua a arder, numa combustão lenta sem chama no subsolo do aterro do Zambujal, em Sesimbra, notam-se pelo cheiro e pelo fumo que surge em vários pontos, sobretudo ao início da manhã.

O fenómeno parece inexplicável e alarma a população da zona, em pleno Parque Natural da Arrábida, que há quase quatro anos convive com um cheiro que surgiu pela primeira vez em agosto de 2019 depois de um incêndio que foi extinto à superfície, mas que continua activo debaixo do solo desta antiga pedreira convertida num aterro.

"São vários pontos de fumo a sair do chão", descreve um morador, que recorda os cheiros intensos e incomodativos de um aterro que foi encerrado e selado à força em 2019 pelas autoridades ambientais depois de uma inspecção ter confirmado que tinham sido depositados de forma ilegal resíduos proibidos, para os quais não havia licença, e contaminados.

"Algo de muito errado está debaixo destas terras", acrescenta outra moradora. 

Governo gasta 100 mil euros em estudo

O cheiro já foi mais intenso, mas continua evidente na zona, como constatou a reportagem da TVI (do grupo da CNN Portugal). Os vizinhos evitam abrir as janelas, num mistério sobre a origem do cheiro que preocupa quem vive por perto e que já devia estar resolvido. 

Há ano e meio o Governo encomendou um estudo, por 100 mil euros, para fazer o diagnóstico e um plano de recuperação ambiental.

O estudo devia estar pronto há um ano, mas teve meses de atraso e agora demorou meses para ser homologado pelo Ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, deixando o município de Sesimbra e os moradores sem resposta. 

O presidente da autarquia, Francisco Jesus, diz que mantém-se a dúvida constante se existe ou não um problema de saúde pública, havendo o risco de que aqueles fumos possam ser tóxicos.

Promessa de proteger a "saúde humana"

A autarquia contesta tanta demora e o ambientalista da associação Zero, Rui Berkemeier, sublinha que o estudo "já devia ser público: As pessoas têm de saber aquilo que estão a respirar". 

Contactado pela TVI, o gabinete do ministro responde que, entretanto, já homologou o plano para o aterro, mas não adianta grandes conclusões. Apenas diz que a solução aprovada prevê a "renaturalização" e o confinamento dos resíduos no local para "salvaguardar o ambiente e proteger a saúde humana".

Moradores, ambientalistas e autarquia de Sesimbra avisam, no entanto, que precisam de conhecer o estudo completo e esclarecer aquilo que está, de facto, depositado no aterro, ainda mais sabendo-se que a empresa que ali trabalhava está a ser julgada depois de uma denúncia da Inspecção-Geral do Ambiente que detectou fortes indícios do crime de poluição neste espaço.

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