Pelo Marítimo de Norte a Sul do país, mesmo perdido e assaltado

18 abr 2019, 01:12
Pedro Camacho (Facebook)

Pedro Camacho é madeirense e adepto do Marítimo. No Continente desde 1986, acompanha o Marítimo de Norte a Sul de Portugal desde 1990. Cerca de 200 jogos e milhares de quilómetros pela paixão que herdou do pai e que também ele já passou ao filho. Dois clubes? O que é isso?

«Até ao fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história para contar. Críticas e sugestões para mgandrade@mediacapital.pt

Pedro Camacho é madeirense, adepto do Marítimo e vive em Lisboa desde 1986. Aos 40 anos, e muitos anos depois de deixar a ilha, mantém a paixão pelo emblema insular e, não, não tem outro clube.

«Para mim isso não existe. Era mais fácil ter e pertencer a um clube com mais gente e do Continente, mas não vejo o desporto assim», começou por dizer ao Maisfutebol, sublinhando: «É também como se costuma dizer: muda-se de tudo, e já fui casado duas vezes, mas de clube nunca se muda.»

A paixão foi transmitida pelo pai e, apesar de ter deixado a Madeira com sete anos, essa nunca foi abalada. «Jamais e as maiores e melhores memórias que guardo da Madeira, e da minha infância, são as tardes nos Barreiros com o meu pai», contou, dizendo o que é ser maritimista, sobretudo longe da Madeira: «É ser-se, no mínimo, diferente, é não negar as origens e é representar a ilha com todo o orgulho. E é, no fundo, ser-se madeirense duas vezes.»

Sócio do Marítimo desde os três meses de vida, entretanto, também ele já passou a paixão ao filho que nasceu há 13 anos no Continente e que também é sócio desde que nasceu. «Vai aos jogos comigo e diz com orgulho que é do Marítimo. Lida bem com a questão de ser 'diferente' e quando lhe perguntam se tem outro clube diz que não», revelou orgulhoso.

A passagem de testemunho tem acontecido com naturalidade na família de Pedro Camacho, uma família que «ou não liga muito ao futebol ou se liga é do Marítimo», e conta com muitas histórias. E jogos, também.

Por isso, Pedro Camacho diz que é difícil escolher os jogos que mais o marcaram, mas claro que há vários… e até há um que o marcou por não ter ido. «A final da Taça com o Sporting em 1994/1995. Estava de castigo, não me deixaram ir por causa das notas», começou por dizer, sublinhando: «É a maior pedra no meu sapato.»

Coisas da adolescência, que ficou ainda marcada por outros dois episódios mas que não o demoveram de continuar a estar na bancada: «Aos 13 anos perdi-me nos transportes a caminho da Amadora e aos 14 fui assaltado, também nos transportes, depois de um jogo no Restelo, fiquei sem a carteira e sem o casaco.»

Ou seja, o Marítimo está acima de tudo, ou de qualquer adversidade, mas agora de forma mais consciente do que quando era jovem: «Faltar ao trabalho? Não. Tento sempre conciliar, a única coisa que já falhei foram compromissos familiares. Ao trabalho nunca foi preciso faltar, mas já meti férias, por causa de um jogo ou outro, sim (risos).»

Pedro Camacho coleciona momentos sozinho e, nos últimos anos, além da companhia do filho, com os muitos adeptos do Marítimo que há em Lisboa e que pertencem à claque Fanatics 13. «Atualmente aos jogos no Continente somos capazes de ir 40/50 adeptos madeirenses.»

«É muito giro assistir à evolução. Agora fazemos uma ‘mancha’, porque nos conhecemos e vamos vestidos a rigor, antigamente via-se apenas um adepto ‘aqui e outro acolá’ no estádio e parecia também que havia vergonha de mostrar que éramos diferentes, mas agora não há disso e ainda bem», referiu.

«Vamos aos jogos e, acima de tudo, convivemos», acrescentou, dizendo que os maritimistas se encontram na zona de Telheiras, em Lisboa: «É uma zona central, é lá que vemos os jogos que se jogam nos Barreiros e é de lá que saímos para os jogos fora de casa.»

Uma dessas saídas deu também numa boa história, e na certeza de que os jogos pequenos são sempre os melhores de ir ver: «A deslocação à Lourosa, num jogo da Taça, em 2015. Chegámos lá e estava tudo fechado, acabámos a comer na sede do clube, onde fomos muito bem recebidos mesmo depois de o menu do dia já ter terminado.»

«A cozinheira esmerou-se e no final da refeição saiu da cozinha de avental e touca até à nossa mesa: ‘Boa sorte e bom jogo, mas não chamem filho da **** ao 23 porque é meu filho», recordou com uma gargalhada.

A próxima deslocação é mais perto, à Luz, na segunda-feira, e já está por isso nos planos  no entanto, este não é o tipo de jogos que mais atrai esta massa associativa: «A maior parte dos maritimistas do Continente não gosta de ir aos jogos com os ditos grandes. Há menos convívio, não somos tão bem recebidos e também não gostamos muito de ver o biclubismo.»

«Eu, por acaso, vou à Luz e a Alvalade, e aonde tiver de ser, mas há gente que não vai para evitar algumas chatices por causa de se verem pessoas na zona destinada aos adeptos do Marítimo a apoiar o outro clube», lamentou, acrescentando: «Eu vou com a minha camisola e o meu cachecol do Marítimo.»

(artigo originalmente criado às 23h59 de 16/04/2019)

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