O adepto que vai da Serra da Estrela ao Restelo pelo Belenenses

27 mai 2020, 09:19
João Figueiredo, adepto do Belenenses (arquivo pessoal)

João Figueiredo tem 19 anos e cresceu a ver jogos do clube. Mais tarde, soube que herdou a paixão desportiva do avô

«Até ao Fim» é uma rubrica do Maisfutebol que visita adeptos que tenham uma paixão incondicional por um clube e uma história para contar. Críticas e sugestões para rjc.externo@medcap.pt

Na vila de São Romão, concelho de Seia, na Serra da Estrela, há um adepto especial com o Belenenses no coração. João Figueiredo, de 19 anos, cresceu a ver futebol e o azul da Cruz de Cristo despertou-lhe atenção maior. Mesmo com o Restelo a 300 quilómetros de distância.

Tem como primeira memória a final da Taça de Portugal de 2007, perdida para o Sporting. Antes, não esquece a meia-final ganha ao Sp. Braga, com Rolando, Silas, Cândido Costa ou Rúben Amorim como protagonistas. Da inocência dos seus sete anos, vibrou com os golos de Dady e Zé Pedro que carimbaram presença no Jamor.

Muitas vezes diz-se que é de família. No caso de João, foi. Mas sem querer. Mal sabia que o avô tinha sido um adepto do Belenenses.

«Houve um dia que eu estava a ver um jogo do Belenenses na televisão e o meu pai disse-me que o meu avô, que nunca cheguei a conhecer, também era do Belenenses. A partir daí, nunca mais deixei de ser do Belenenses», explica, ao Maisfutebol.

É sócio desde 2016 e não teve «quaisquer dúvidas» em apoiar o clube após o conflito com a SAD. «Não podia ser de outra forma. Eu pago as quotas é ao clube, não à SAD. A partir do momento em que saíram do Restelo para ir o Jamor perdi ligação. E acompanho o Belenenses na distrital», nota.

Após associar-se ao clube, fê-lo também à claque Fúria Azul. Começou por ver um Académica-Belenenses para a Taça de Portugal, em 2016. «Na época a seguir, também só vi dois jogos, um no Bessa e outro no Restelo. Depois, quando foi essa situação com SAD e clube, passei a ir mais vezes aos jogos no Restelo», diz. Nessa vez no Restelo, viu o Belenenses vencer o FC Porto (2-0) e gostou do ambiente, mas diz sentir mais o clube na distrital do que na I Liga.

Após uma viagem de 300 quilómetros, João vê os jogos do Belenenses no meio da claque Fúria Azul (Foto: Pedro Figueiredo)

«Quando vi o Belenenses jogar na distrital, o ambiente foi diferente. Na distrital, a primeira vez que fui ver, foi um jogo com o Atlético [na pré-época, jogo de apresentação]. Não esperava aquela enchente, cerca de 5 mil pessoas. Acho que há equipas na I Liga que não têm, se calhar, um terço do ambiente que o Belenenses tem na distrital. Os adeptos de outros clubes com os quais nos damos bem dizem que somos exemplo para o país desportivo. Acima de qualquer cifrão que apresentem do outro lado, os valores e identidade são mais importantes», defende.

Sair ao amanhecer e chegar a casa à noite

Com a ida do Belenenses para os distritais da Associação de Futebol de Lisboa, João conseguiu mais oportunidades para ver os jogos ao vivo. Sozinho, sai cedo de São Romão para a viagem, almoça com uma prima na capital e vai ao Restelo ver a bola à tarde, antes do regresso a casa. Esta época assistiu a quatro jogos. É sair com o sol a nascer. Chegar, já perto da madrugada.

«Os jogos são todos às 15 horas, agora está mais facilitado. Sensivelmente, com viagem de ida e volta, fica perto de 600 quilómetros. Acordo às 6h30, apanho o autocarro, tenho quatro horas de viagem. Chego pelo meio-dia, vou a casa da minha prima almoçar, na Ajuda. Vou para o Restelo, vejo o jogo, no final a minha prima vai-me buscar, leva-me até Sete Rios e depois são mais quatro horas. Chegou a São Romão pelas 23h15. A viagem para cá custa mais, mas sempre com o sentimento de dever cumprido, de apoiar o clube», sublinha.

Não esquece os dois jogos ante o Estrela da época passada - no Restelo e na Reboleira - e admite que «custa ver um clube da dimensão do Belenenses na distrital», mas acredita que o futuro vai ser risonho desportivamente. Segue as modalidades e destaca a equipa de andebol, que vai à Taça EHF em 2020/2021. «Mas o principal objetivo é a equipa de futebol na primeira, o lugar do qual nunca devia ter saído», frisa.

Com o tempo, foi criando ligação com outros adeptos mais próximos geograficamente ao clube. «Comecei mais a conhecer a partir da distrital, a interagir com a claque. Venho de longe e fazem uma festa sempre que lá vou. Falo com sócios, também para perceber o que se passa», partilha.

Em casa, guarda cachecóis e camisolas. Lá reside também uma «rivalidade saudável» com a família: o pai é benfiquista e a mãe sportinguista. Assim como o resto da família. «Eu sou o único diferente», atira.

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