Uma análise preliminar a uma amostra recolhida do asteroide Bennu sugere que a rocha espacial teve um passado inesperadamente rico em água – e pode mesmo ter-se separado de um antigo mundo oceânico.
A missão OSIRIS-REx da NASA recolheu a amostra imaculada de 121,6 gramas do asteroide próximo da Terra em 2020 e devolveu-a à Terra em setembro passado.
Desde então, os cientistas têm estado a analisar as rochas e poeiras do asteroide para perceber que segredos poderão conter sobre a composição do asteroide e se este poderá ter fornecido à Terra os elementos necessários à existência de vida. Os asteroides também intrigam os cientistas porque são os restos que sobraram da formação do sistema solar.
Uma primeira análise de uma parte da amostra, partilhada em outubro, sugeria que o asteroide continha uma grande quantidade de carbono.
Durante uma nova análise da amostra, a equipa descobriu que a poeira de Bennu é rica em carbono, azoto e compostos orgânicos, que ajudaram a formar o sistema solar. Estes ingredientes são também essenciais para a vida tal como a conhecemos e podem ajudar os cientistas a compreender melhor como os planetas semelhantes à Terra evoluem.
Um estudo que detalha as descobertas foi publicado a 26 de junho na revista especializada Meteoritics & Planetary Science.
"A OSIRIS-REx deu-nos exatamente o que esperávamos: uma grande amostra de um asteroide pristino, rico em azoto e carbono, de um mundo anteriormente húmido", diz em comunicado o coautor do estudo Jason Dworkin, cientista do projeto OSIRIS-REx no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no Maryland.
Os elementos para a vida
A maior surpresa foi encontrar fosfato de magnésio e sódio na amostra, que a análise remota inicialmente não detetou quando a OSIRIS-REx, ou a missão Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, and Security - Regolith Explorer, estava a orbitar Bennu.
O fosfato de magnésio e sódio é um composto que pode ser dissolvido em água e serve como componente da bioquímica da vida.

É possível que o asteroide se tenha separado de um pequeno e primitivo mundo oceânico que já não existe no nosso sistema solar, indicam os investigadores.
A amostra do asteroide é maioritariamente constituída por minerais de argila, incluindo serpentina, o que a torna muito semelhante às rochas encontradas nas cristas médio-oceânicas da Terra. Estas cristas são o local onde o material do manto, a camada por baixo da crosta superficial da Terra, encontra a água.
Um fosfato semelhante foi encontrado numa amostra do asteroide Ryugu recolhida pela missão Hayabusa2 da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão e devolvida à Terra em dezembro de 2020. Mas o composto da amostra de Bennu é mais puro e tem grãos maiores.
"A presença e o estado dos fosfatos, juntamente com outros elementos e compostos em Bennu, sugerem que o asteroide tem um passado aquoso", diz o coautor do estudo Dante Lauretta, investigador principal da OSIRIS-REx e professor regente da Universidade do Arizona, Tucson, em comunicado. "Bennu poderia potencialmente ter sido parte de um mundo mais húmido. No entanto, esta hipótese requer mais investigação."
Cápsulas do tempo cósmicas
As rochas recolhidas em Bennu representam uma cápsula do tempo dos dias primordiais do sistema solar há mais de 4,5 mil milhões de anos.

“A amostra que devolvemos é a maior reserva de material de asteroide inalterado existente na Terra neste momento”, diz Lauretta.
Os astrónomos acreditam que rochas espaciais como os asteroides e os cometas podem ter servido como antigos mensageiros no nosso sistema solar.
"Isto significa que asteroides como este podem ter desempenhado um papel fundamental no transporte de água e dos blocos de construção da vida para a Terra", refere, em comunicado, o coautor do estudo Nick Timms, que integra a equipa de análise de amostras da OSIRIS-REx e que é professor associado da Escola de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade de Curtin.
Se estes corpos rochosos mais pequenos transportavam água, minerais e outros elementos, e chocaram com a Terra quando esta se estava a formar há milhares de milhões de anos, podem ter ajudado a preparar o terreno para o início da vida no nosso planeta.
"Estas descobertas sublinham a importância de recolher e estudar material de asteroides como Bennu – especialmente material de baixa densidade que normalmente arderia ao entrar na atmosfera da Terra", diz Lauretta. "Este material é a chave para desvendar os intrincados processos de formação do sistema solar e a química pré-biótica que pode ter contribuído para o aparecimento da vida na Terra.”
A riqueza do material recolhido do asteroide significa que mais laboratórios em todo o mundo vão receber os seus próprios pedaços da amostra para estudar.
"As amostras de Bennu são rochas extraterrestres de uma beleza tentadora", diz o coautor do estudo Harold Connolly Jr., cientista de amostras da missão OSIRIS-REx e presidente do departamento de geologia da Escola de Terra e Ambiente da Universidade de Rowan em Glassboro, New Jersey, em comunicado. "Todas as semanas, a avaliação da equipa de análise de amostras da OSIRIS-REx fornece novas e por vezes surpreendentes descobertas que estão a ajudar a aplicar importantes limitações sobre a origem e evolução de planetas semelhantes à Terra."