Agentes no futebol: nova regulamentação da FIFA «é abusiva»

26 nov 2021, 13:27
Mercado de Transferências - Aperto de Mão

Presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol critica reforma que o organismo que rege o futebol mundial quer implementar no agenciamento

Presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol, Artur Fernandes critica a nova regulamentação de agenciamento da FIFA, que apresenta reformas como a redução das comissões máximas recebidas, a proibição da dupla representação ou o regresso a um sistema de licenciamento à escala global.

«O ‘draft’ [da nova regulamentação] é abusivo no que toca à lei da competitividade, à lei da representação, à lei da liberdade de imprensa. Se reparar, num parágrafo diz que o agente não pode falar à imprensa. A FIFA viola um sem-número de liberdades e direitos humanos e profissionais. É um assunto que tem tudo para acabar mal», começou por dizer, à agência Lusa.

«Este é o segundo ‘draft’ e é ainda pior do que o primeiro. A FIFA não se sentou à mesa da discussão e agora quer colmatar um erro que cometeu em 2015 [quando houve uma desregulamentação do regime dos agentes de futebol], mas através de uma legislação completamente abusiva. Provavelmente, isso significará uma batalha legal, tal como no caso da Lei Bosman, que a FIFA perdeu. Também vai perder esta», acrescentou.

Segundo Artur Fernandes, a FIFA está a demonstrar um claro «abuso de poder» e «uma falta de sensibilidade muito grande».

«A FIFA não se cansa de fazer asneiras, fundamentalmente por ignorância em relação àquilo que é a profissão de um agente. Não tem a mínima noção do nosso trabalho e agora está a ter uma posição ditatorial e tirana. Alguma coisa que possa parecer boa no ‘draft’ já traz água no bico, porque certamente vai trazer problemas no futuro.»

Na passada quarta-feira, mais de 200 agentes dos movimentos ‘The Football Forum’ estiveram reunidos para discutir este assunto, e esperam agora que as vozes de empresários reputados como Jorge Mendes ou Mino Raiola possam alterar a situação.

«Vamos esperar para ver o que é que a FIFA fará. Das duas, uma: ou reconhece a nossa importância e conseguimos um acordo que seja justo ou nem sequer nos vamos sentar à mesa e encetaremos outro tipo de atitudes. Como estamos em posições completamente extremadas, tenho a certeza de que o tema vai acabar nos tribunais europeus», atirou.

Também o advogado Fernando Veiga Gomes critica esta reforma da FIFA, que, ao que tudo indica, entrará em vigor em 2022.

«É um passo atrás da FIFA, que quis nos últimos anos desregulamentar a atividade dos agentes, mas, efetivamente, isso correu mal. O sistema entrou em roda livre, com abusos enormes em várias situações, pelo que a FIFA deu a mão à palmatória e quer trazer de novo uma regulamentação apertada. Muitos desses aspetos irão, de certeza, gerar bastante celeuma nos próximos meses», defendeu.

Uma das mudanças propostas pelo organismo que rege o futebol mundial é que a taxa máxima de comissão numa transferência seja de três por cento, caso representem o clube comprador ou o jogador, ou de dez por cento, se atuarem em nome do clube vendedor.

«É uma questão central e que irá dar muita discussão. Há um grande número de agentes que se dedicam a descobrir talentos e a apoiar jovens atletas no início da carreira. Para quem faz esse trabalho, ter percentagens tão baixas é extremamente desmotivante. Por outro lado, quem representar o clube vendedor num negócio futuro continuará com os seus 10% garantidos. Isto merecia ser repensado», referiu.

«A dupla representação era um dos aspetos que causava algum melindre. Ou seja, se o agente aparece a representar um jogador e o clube com quem este assina, é permitido. Não é permitido é que o agente venha a representar o clube numa transação futura. Isso colide com aquela que tem sido prática normal na grande maioria dos contratos», acrescentou ainda.

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