Parlamento rejeita inquérito sobre “eventual ingerência” de Costa no Banco de Portugal

Agência Lusa , MJC
16 dez 2022, 14:29
António Costa (Lusa/Stephanie Lecocq)

O inquérito teve votos favoráveis do Chega e da Iniciativa Liberal

O parlamento rejeitou esta sexta-feira a comissão parlamentar de inquérito proposta pelo Chega para avaliar “a eventual interferência política do primeiro-ministro” sobre o antigo governador do Banco de Portugal “para proteger a filha do Presidente de Angola”.

O inquérito teve votos favoráveis do partido proponente e da IL, abstenção do PSD e do PAN e votos contra do PS, PCP, BE e Livre.

O Chega propunha um duplo objeto para esta comissão parlamentar de inquérito.

Por um lado, “avaliar a eventual interferência política” de António Costa sobre o antigo governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, “quanto à posição da empresária Isabel dos Santos no BIC Português S.A., procurando apurar se houve abuso de poder por parte do líder do governo com o intuito de salvaguardar objetivos ou interesses externos à estabilidade do mercado financeiro português”.

Em segundo lugar, o partido queria que o parlamento avaliasse “se o processo de resolução do Banif foi objeto de interferência abusiva, por parte do Governo, quer no respetivo processo de negociação e informação com as instituições europeias, quer na escolha da sociedade financeira que viria a adquirir o Banif”.

Na exposição de motivos, o Chega assume que o motivo na base deste inquérito são as revelações do livro “o Governador”, do jornalista do Observador Luís Rosa, sobre os mandatos de Carlos Costa entre 2010 e 2020, e no qual o antecessor de Mário Centeno acusa o primeiro-ministro de intromissão política sobre o Banco de Portugal.

Em causa, segundo o ex-governador numa versão contestada pelo primeiro-ministro, está um telefonema de António Costa em 12 de abril de 2016 em que o primeiro-ministro lhe teria dito que “não se pode tratar mal a filha do presidente de um país amigo de Portugal”, que entendeu como um pedido para que o Banco de Portugal não afastasse a empresária angolana Isabel dos Santos (filha do então Presidente de Angola José Eduardo dos Santos) da administração do BIC.

O primeiro-ministro tem acusado Carlos Costa, por várias vezes, de fazer afirmações “falsas e ofensivas” e já anunciou que irá processar o ex-governador do Banco de Portugal por ofensa à sua honra.

Para o Chega, o alegado telefonema, bem como uma mensagem escrita que António Costa terá enviado a Carlos Costa já depois das primeiras notícias sobre o livro, “são indiciadores de uma ingerência inaceitável do poder político” no banco central.

“Também no referido livro ficam plasmadas sérias dúvidas e suspeições sobre o processo de resolução do Banif, quer no âmbito da informação transmitida pelo Governo da República às instâncias europeias, quer na forma como foi conduzido o processo de ‘salvação' da instituição bancária”, refere ainda o partido, dizendo que “parecem existir indícios suficientes de interferência política” e podem estar em causa “eventuais crimes de abuso de poder ou até prevaricação”.

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