Crime à queima-roupa deixou os nova-iorquinos aterrados. As buscas prosseguem com recurso a imagens e várias pistas
Uma fotografia que mostra um homem encapuzado a sorrir - com a máscara virada para baixo - pode dar pistas importantes que poderão ajudar a encontrar o suspeito do tiroteio fatal sobre Brian Thompson, CEO (presidente executivo) da seguradora norte-americana UnitedHealthcare.
Uma imagem divulgada pelo Departamento de Polícia de Nova Iorque mostra um homem a quem as autoridades chamam “pessoa de interesse procurada para interrogatório” no assassínio de quarta-feira. O homem é captado num momento de sedução com uma funcionária de um hostel no Upper West Side de Nova Iorque, onde estava hospedado, segundo avançou um agente da autoridade à CNN.
A funcionária pede ao homem que baixe a máscara, altura em que são captadas as fotografias divulgadas pelas autoridades na quinta-feira, disse a mesma fonte.
“Ele baixa a máscara e faz um grande sorriso”, descreve John Miller, analista-chefe de inteligência e aplicação da lei da CNN. “Esse pequeno flirt entre os dois, de uma forma bem-humorada, deu origem ao que é, até agora, a pista mais significativa para o identificar.”
As imagens do hostel estão entre as principais provas à disposição dos investigadores que procuram um atirador ainda à solta, depois de ter morto a tiro o executivo do sector da saúde na zona Midtown de Manhattan, na quarta-feira de manhã, antes de aparentemente desaparecer.
Os investigadores têm também um rasto de vídeos de vigilância, um telemóvel e uma garrafa de água que se crê terem sido deixados cair pelo suspeito quando este fugiu do local do tiroteio - primeiro a pé e depois de bicicleta -, bem como munições com as palavras “depose” e “delay” [respetivamente, "depoimento" e "adiamento"] escritas, deixadas no local do crime, segundo revelaram fontes à CNN.
Como o suspeito chegou à cidade de Nova Iorque
O vídeo do assassinato descarado - realizado à vista de pedestres na movimentada área de Manhattan - ajudou os investigadores a determinar os primeiros movimentos do suspeito após o tiroteio, disse a polícia.
O atirador mascarado esperou por Thompson à porta do Hilton Midtown pouco antes das 7 horas da manhã de quarta-feira e disparou várias vezes contra ele antes de fugir por um beco e subir para uma bicicleta eléctrica. Foi visto pela última vez às 6h48 em direção ao Central Park, segundo a polícia de Nova Iorque.
Thompson, que vivia no Minnesota e estava a caminho do hotel para participar na conferência anual de investidores da sua empresa, foi declarado morto menos de meia hora depois.
Estão agora a surgir novos pormenores sobre os movimentos do suspeito nos dias que antecederam o tiroteio.
O suspeito viajou num autocarro da empresa Greyhound, que iniciou o seu percurso em Atlanta, segundo disseram à CNN várias fontes policiais. As autoridades não sabem se o suspeito embarcou em Atlanta ou noutro local.
A polícia acredita que o assaltante chegou ao terminal de autocarros Port Authority de Nova Iorque a 24 de novembro - 10 dias antes do tiroteio - e depois registou-se num hostel em Upper West Side, segundo um funcionário da polícia.
Depois disso, parece ter-se deslocado pela cidade.
Fontes policiais disseram à CNN que o suspeito de ter disparado parecia usar uma máscara durante a maior parte da sua estadia no hostel. Ele estava alojado num quarto para várias pessoas, juntamente com dois outros homens, disse uma fonte.
O suspeito saiu do albergue a 29 de novembro e voltou a entrar em 30 de novembro, ainda segundo várias fontes policiais.
Segundo uma fonte, o suspeito pagou o estabelecimento em dinheiro, tendo feito o check-in no hostel com uma carta de condução falsa de New Jersey, afirmara antes um agente da autoridade à CNN.
Pistas do local do crime
A polícia está ainda a tentar determinar onde é que o suspeito arranjou a bicicleta eléctrica, mas os investigadores estão a recolher pistas do telemóvel e da garrafa de água que o atirador terá deixado cair quando fugiu do local do crime.
Foi recolhida uma impressão digital da garrafa de água, disse um agente à CNN. No entanto, a impressão está manchada, o que a torna menos conclusiva, disse o funcionário.
O telemóvel pode fornecer impressões digitais, ADN e - se os técnicos da polícia conseguirem desbloquear o telemóvel - outras pistas sobre a identidade do suspeito, disseram os investigadores. Mesmo um telemóvel descartável pode fornecer pistas sobre comunicações e buscas antes do tiroteio. Na tarde de quinta-feira, a polícia ainda estava a tentar aceder a esse telemóvel, disse um agente da autoridade.
As autoridades têm feito buscas naquela área, mas não encontraram a bicicleta ou a arma do atirador.
Um invólucro recuperado de uma das balas disparadas contra Thompson tinha a palavra “depose” escrita, enquanto “delay” estava escrito num projétil que foi ejectado quando o atirador parecia estar a resolver um problema, segundo fontes policiais.
A polícia está a investigar se as palavras encontradas indicam um motivo, apontando para uma frase popular na indústria dos seguros: “atrasar, negar, defender”.
Uma agulha num palheiro
O maior desafio para a polícia de Nova Iorque é seguir os movimentos de uma pessoa numa cidade com mais de oito milhões de habitantes, disse Andrew McCabe, antigo diretor-adjunto do FBI, à CNN.
O suspeito pode ter tomado medidas depois de ter fugido para o Central Park para evitar ser detectado, como mudar de roupa, acrescentou McCabe.
Durante toda a quarta-feira, a polícia enviou forças móveis para efetuar uma busca em rede, procurando em caixotes do lixo, contentores e arbustos, numa extensa busca por uma mochila cinzenta desaparecida, que o agressor foi visto a usar durante o tiroteio, disse à CNN um alto funcionário da polícia.
A polícia iniciou a busca depois de os detectives terem analisado as imagens de segurança que mostravam o suspeito já sem a mochila, depois de ter saído do Central Park pela saída da West 77th street.
Os investigadores não localizaram a mochila, segundo o funcionário.
John Miller, Shimon Prokupecz, Amanda Musa, Ashley R. Williams, Linh Tran, Sara Smart, Taylor Galgano, David Goldman, Rebekah Riess e Elise Hammond da CNN contribuíram para este artigo.