Fred Ebami ilustra a África moderna com a sua visão contemporânea da Pop Art

CNN , Nadia Leigh-Hewitson
27 jan 2022, 13:00

As suas obras de arte, criadas principalmente em computador, têm como objetivo trazer a Pop Art para o século XXI

Na última década, Fred Ebami tem traçado o caminho para um estilo a que chama "Novo Pop" - Pop Art digital através de uma lente africana.

O artista franco-camaronês de 45 anos cria imagens de esperança que vão do quotidiano ao icónico – com especial destaque para o continente africano e para a diáspora global africana. Os seus retratos são uma mistura rica de iconografia, padrões simbólicos, slogans e interpretações das imagens clássicas da Pop Art.

As suas obras de arte, criadas principalmente em computador, têm como objetivo trazer a Pop Art para o século XXI e têm estado em exposição na Tate Modern em Londres, nos Campos Elíseos em Paris e na Art Basel em Miami. Em novembro, Ebami inaugurou uma retrospetiva em Lagos, na Nigéria, e a sua obra pode ser vista atualmente numa exposição intitulada "NOVA POP" em Brest, França.
 
Retratos de Fred Ebami – muitas vezes inspirados em Andy Warhol, celebram os ícones africanos. Esta obra mostra o músico nigeriano e criador do Afrobeat, Fela Kuti. Direitos: Fred Ebami

De desenhar em paredes

A vida de Ebami como artista começou aos 7 anos, a desenhar nas paredes da casa onde passou a infância, em  Villeneuve-la-Garenne, França. "Não era uma pessoa muito faladora, quando era criança", disse. "Desenhar era a minha forma de falar."

Ebami queria exprimir-se através de imagens, tornar o dia-a-dia extraordinário com as cores e o drama que via na banda desenhada, em cartazes de filmes e na Pop Art. Conheceu o trabalho de Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Jean-Michel Basquiat ainda em criança e foi movido pelo entusiasmo e admiração pelas explosões de cor que criavam a partir de temas simples.

"Andy Warhol foi o primeiro artista de Pop Art com que me deparei", disse Ebami. "Ele pegava na vida quotidiana, pessoas da vida quotidiana e tornava-as mais bonitas, mais interessantes.

"Quando vi as obras deles, era exatamente o que eu tinha na cabeça. Mas eu tinha de descobrir a minha própria forma de o fazer", acrescentou. "Aquelas três pessoas foram como uma ignição para mim."

Ebami espera honrar os artistas originais da Pop Art, com um rato e ecrã de computador. Fora  algumas experiências na escultura e na pintura, Ebami trabalha digitalmente – encara o computador como uma extensão dele próprio. Diz que esta forma de trabalhar permite-lhe criar peças sempre que sentir inspiração. 

Super-heróis do dia-a-dia e herança africana 

Em maio, prepara-se para lançar uma banda desenhada que conta a trágica história real de dois adolescentes que morreram de hipotermia quando se esconderam num avião que ia da Nova Guiné para Bruxelas, em 1999. Com eles, foi encontrada uma carta com um apelo para que a Europa ajudasse as crianças de África.

Enquanto Warhol ficou famoso pelas serigrafias coloridas de estrelas do rock e supermodelos, Ebami inspira-se muitas vezes nos atos extraordinários de pessoas comuns – ele prefere criar imagens marcantes de heróis do dia-a-dia.

"A minha arte é uma mistura da vida e da sociedade quotidiana e da banda desenhada – porque eu sempre quis representar super-heróis", disse Ebami. "Ao crescer, percebi que os super-heróis não são como o Homem-Aranha ou o Super-Homem. São as pessoas do dia-a-dia, como os enfermeiros, os bombeiros, os soldados."

Mas a sua obra também celebra estrelas africanas, como os músicos camaroneses André-Marie Tala e Manu Dibango e, em vez dos fundos simples, pontilhistas, feitos com pontos de cores, preferidos por muitos mestres da Pop Art de meados do século XX, Ebami usa padrões de têxteis ligados à sua herança africana.

Ao crescer em França, filho de pai descendente de camaroneses, Ebami reparou que as conversas sobre África no ocidente eram sempre negativas – depois de viver em Douala, nos Camarões durante a adolescência e de regressar à Europa já adulto, ele diz que pouco mudou: "A narrativa é que só há pobreza, só há guerra, só há pessoas más, só há pessoas assassinadas. Mas existe uma nova geração que tem de mostrar que somos maravilhosos, tem de mostrar que somos super. Quero mostrar o novo lado de África, e se conseguir fazer isso com a minha arte, é o que farei até morrer."

Pop Art na era digital

Desde o início da sua carreira profissional, Ebami enfrentou críticas à sua forma de trabalhar. Diz que há pessoas em África que têm dificuldade em valorizar o seu trabalho digital como "uma verdadeira arte", embora as atitudes estejam a mudar.

Apesar da contínua resistência dos círculos artísticos mais tradicionais em África, Ebami tem mostrado o seu trabalho na região e tem dado master classes de Arte Digital nos Camarões, na África do Sul, na Costa do Marfim e em Marrocos.

"As pessoas em África estão a começar a aperceber-se de que o digital pode ser poderoso", disse Ebami. "É a linguagem do futuro e elas têm de a aprender, se não quiserem ficar para trás."

"O meu objetivo é não ser o único", acrescentou. "O meu objetivo é inspirar a nova geração e mostrar outra forma de comunicar. Mostrar outra forma de estar ligado ao mundo."

 

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