Texugo ajuda a desenterrar tesouro de mais de 200 moedas romanas

11 jan 2022, 12:51
209 moedas romanas desenterradas numa caverna em Espanha Foto: Consejería de Cultura del Principado de Asturias

Devido ao mau tempo do inverno passado, um texugo teve de escavar para conseguir alimento e tirou do solo um tesouro que depois foi encontrado por arqueólogos, em Espanha. "Um momento único", diz um dos investigadores envolvidos

Quando a tempestade Filomena cobriu de neve grande parte de Espanha, no ano passado, muitos animais viram-se em dificuldades para recolher alimento. Foi o caso de um texugo, que teve de sair da toca dentro da gruta de La Cuesta em Berció, nas Astúrias, para escavar em busca de comida. Mas, em vez de bagas ou minhocas, encontrou um conjunto de moedas que pouco lhe interessaram, abandonando-as no solo. Terá sido pouco depois, segundo o El País, que Roberto García, um habitante da zona, visitou o local com mais dois arqueólogos, deparando-se os três com o achado do texugo: nada menos do que o maior tesouro de moedas romanas encontrado numa caverna no norte de Espanha.

Os trabalhos de investigação arqueológica iniciaram-se a 5 de abril do ano passado, mas só agora, após publicação do relatório oficial, se soube que foram recolhidas numa primeira escavação de emergência, financiada pela Consejería de Cultura do Principado das Astúrias, um total de 209 moedas que datam do período entre os séculos III e V d.C., algumas provenientes de destinos tão longínquos como Londres ou a antiga cidade de Antioquia, no atual território turco. 

Segundo os arqueólogos, que publicaram sobre a investigação nos Cadernos de Pré-História e Arqueologia da Universidade Autónoma de Madrid, o local onde foram encontradas as moedas sempre foi muito procurado pelos chamados “caça tesouros”, que procuravam desde o século XVIII a gruta de um rei bárbaro chamado Godulfo, que faz parte do imaginário popular. Acredita-se que as moedas encontradas junto à toca do texugo sejam apenas um “depósito secundário” que fazia parte de um conjunto maior, hoje inexistente, e que terá sido engolido pelas frechas no solo.

Foto: Consejería de Cultura das Astúrias

O tesouro terá sido ocultado na gruta perante a iminente chegada dos suevos, um povo de origem germânica que invadiu a Península Ibéria durante o império romano. De acordo com os arqueólogos, uma das moedas foi cunhada na época do imperador Valentiniano III, no ano de 430. “Este marco temporal permite-nos datar o depósito, de momento, e à falta de novas escavações no interior e exterior da cavidade, na segunda metade do século V d.C. Um momento interessante da expansão sueva no noroeste peninsular”, disse ao El País Alfonso Fanjul, um dos investigadores envolvidos no achado.

Foi precisamente nesta zona do vale de Grado, nas Astúrias, que foi encontrado no anos 30 do século passado o tesouro de Chapipi, 14 moedas de ouro da época de Constantino, que reinou entre 306 e 337 d.C., bem como um anel de ouro. “Esta acumulação de importantes achados, sendo cautelosos, poderia responder a este contexto de intensa conflitualidade num território de fronteira”, esclarece Fanjul. Perante o invasor, as reservas de riqueza eram muitas vezes ocultadas em lugares insuspeitos, para depois serem recuperadas - ainda que nem sempre os proprietários conseguissem regressar ao local.

O texugo que desenterrou o tesouro agora descoberto deixou à vista 90 moedas junto da sua toca, tendo os arqueólogos desenterrado as restantes. As moedas estão agora a ser limpas e serão expostas no Museu Arqueológico das Astúrias.

“É um momento único com que sonhas desde tenra idade”, confessou Alfonso Fanjul à CNN. “É um momento excecional que nunca pensas que terás enquanto arqueólogo”. O especialista acredita que novas escavações no local irão permitir alargar a compreensão sobre a queda do império romano e a ascensão de reinos medievais no norte de Espanha.

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