Arménia e Azerbaijão de novo em conflito. Porquê?

13 set 2022, 19:00
Negociações entre Arménia e Azerbaijão, mediadas pela Rússia (AP)

Países estão em disputa permanente desde a independência da União Soviética. Conflitos na madrugada de terça-feira foram os mais graves em dois anos

A noite de segunda para terça-feira ficou marcada por confrontos entre forças da Arménia e do Azerbaijão. Os combates, os mais mortíferos desde a guerra entre os dois países em 2020, fizeram 49 mortos do lado arménio e 50 entre as tropas azeris, de acordo com os respetivos governos nacionais.

Os dois antigos estados da União Soviética estão de costas voltadas desde a independência. Porquê? A resposta é a região de Nagorno-Karabakh. Este território, reconhecido internacionalmente como parte de Azerbaijão, é povoado quase inteiramente por habitantes étnicos arménios, e tem sido alvo de cobiça por parte dos dois países.

Até 2020, a região montanhosa era totalmente controlada pela Arménia. Durante a guerra desse ano, o Azerbaijão, que matou 2906 combatentes azeris e 3825 arménios, Baku recuperou e conquistou uma grande porção territorial dentro e em torno da região. O conflito durou cerca de um mês e meio, tendo terminado com um cessar-fogo intermediado pela Rússia, que mantém forças de manutenção de paz no local.

Na madrugada desta terça-feira, contudo, as forças azeris não atacaram locais na região, mas sim as algumas localidades como Goris, Kapan e Jermuk, reconhecidas internacionalmente como parte da Arménia. Fonte governamental azeri garante que o país apenas respondeu a “provocações arménias”.

O timing dos bombardeamentos não será inocente. A relação entre os dois países é largamente intermediada pela Rússia, que atravessa um período difícil na guerra contra a Ucrânia, com as forças de Kiev a recuperarem em pouco tempo uma boa parte do território que a Rússia conquistou em Kharkiv.

À Reuters, Laurence Broers, membro do Programa para a Rússia e Eurásia do think tank Chatham House, afirma que a guerra minou a posição da Rússia enquanto mediador, facto que terá encorajado o Azerbaijão a atacar o país vizinho.

"Penso que há um sentimento no Azerbaijão de que agora é o momento de utilizar o seu poder, a sua vantagem militar, e de extrair o máximo que pode obter", diz Broers.

Baku também poderá contar com a inação da União Europeia, com quem recentemente anunciou um acordo para o fornecimento de gás, e da NATO, cujos membros não querem provocar a Turquia, parceiro da Aliança Atlântica e grande aliado do Azerbaijão.

Outro facto que poderá dificultar a tarefa de Yerevan é o facto de os seus maiores aliados regionais, a Rússia e o Irão, serem hostis às potências ocidentais.

Uma guerra total entre os dois Estados acarreta vários riscos, como o arrastamento da Rússia, que mantém uma base militar na Arménia, e da Turquia para o conflito. A situação de Moscovo na Ucrânia também dificulta o destacamento de mais forças de paz para a região, que poderia dissuadir ambos os países a escalar as hostilidades.

"Penso que o risco é o estabelecimento de uma espécie de novas zonas tampão, zonas de segurança, uma espécie de fragmentação da parte sul da Arménia, e a impotência de atores externos para impedir que isso aconteça", refere Laurence Broers.

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