EUA deixam de enviar à Rússia informação sobre o arsenal nuclear (que servia para evitar mal-entendidos)

1 jun 2023, 23:03
Rússia realiza ensaio com armas nucleares (AP)

Decisão surge meses depois da decisão do Kremlin de abandonar o New START, o acordo que limita a proliferação de armas nucleares

O governo dos Estados Unidos afirmou que vai deixar de enviar várias informações necessárias sob o tratado de não proliferação nuclear New START, incluindo localizações dos seus mísseis e dos seus lançadores, devido às "violações" de Moscovo. 

“Os Estados Unidos estão comprometidos na implementação mútua e total do tratado New START. Consistente com esse compromisso, os EUA adotaram contramedidas legais em resposta às violações contínuas da Federação Russa do Tratado”, escreveu o Departamento de Estado, numa nota publicada no seu site.

Os norte-americanos revelam que vão parar de fornecer dados telemétricos dos seus mísseis intercontinentais e de mísseis disparados dos seus submarinos. Isto significa que a Rússia deixa de saber as trajetórias e a velocidade dos mísseis americanos. Esta informação é geralmente partilhada para evitar mal-entendidos sobre as intenções dos testes.

O departamento de Estado, liderado por Antony Blinken, assegura que as medidas são “proporcionais”, mas também “reversíveis”. Os Estados Unidos notificaram a Rússia previamente de que iam deixar de divulgar estas informações.

O tratado, criado para limitar a proliferação nuclear entre as duas potências que têm o maior arsenal, foi assinado em 2010, na Áustria, entre o presidente Barack Obama e o homólogo russo Dmitri Medvedev‎.  O documento limitava o número de ogivas nucleares estratégicas que os dois países podiam destacar para “apenas” 1.550. A limitação de stocks estendia-se também ao número de mísseis intercontinentais, mísseis submarinos, bem como o número de bombardeiros equipados com armamento nuclear.

Dias antes do primeiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin anunciou perante a Assembleia Federal russa a suspensão do tratado, afirmando que a Rússia não podia deixar os Estados Unidos e a NATO inspecionarem as suas instalações nucleares. O líder russo insistiu que Washington continua a desenvolver o seu arsenal nuclear e a realizar testes e que Moscovo mantém o direito de fazer o mesmo.

A decisão foi altamente criticada por vários líderes mundiais, incluindo o secretário-geral de NATO, Jens Stoltenberg, que classificou a decisão como “irresponsável” e apelou à Rússia para “respeitar os acordos existentes”. No entanto, os americanos continuaram a partilhar informações com o lado russo.

A suspensão do acordo motivou mesmo uma viagem do chefe dos serviços secretos norte-americanos, William Burns, para se encontrar com o homólogo russo, Sergey Naryshkin, em Ancara, na Turquia. O diretor da CIA disse que o encontro serviu para “passar a mensagem” de que escalar o arsenal nuclear estratégico terá “consequências”.

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