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Colunista e comentador

"Convido o novo presidente da Liga a afastar-se, se verificar que é mais uma marioneta do sistema e nada consegue mudar"

7 out, 14:26

Numa das Mensagens de Rui Santos desta semana, o comentador da CNN diz que, a propósito do ruído sobre as arbitragens, que a todos envolve e compromete, "ninguém avança com soluções e há uma espécie de 'futebol-botox' que nos querem impingir com o objetivo de calar a crítica e distribuir os dividendos com o silêncio cúmplice de muitos atores da bola indígena

Para completar o pleno dos clubes portugueses mais representativos em relação às queixas sobre arbitragem, só faltava o Sporting de Braga e António Salvador juntarem-se às queixas que esta época têm sido mais audíveis por parte do Benfica de Rui Costa e do Sporting de Frederico Varandas, sendo certo que também o FC Porto de André Villas-Boas foi muito duro para as arbitragens na época passada e muito recentemente tomou posição sobre a derrota da equipa “B” na partida com o Torreense.

Dir-se-à que é mais do mesmo e, no caso do SC Braga, as queixas vão para outros agarrões não terem sido identificados pela videoarbitragem de Cláudia Ribeiro, que não teve dúvidas em chamar o árbitro Cláudio Pereira, ao minuto 90+4, para o alertar de um puxão ostensivo de camisola de Hjulmand sobre Lagerbielke, cuja transformação do respectivo penálti deu o empate, ao cair do pano, à equipa minhota.

Isto tem sido um forrobodó de queixas e, como se vê, ninguém fica de fora: nem Varandas, nem Rui Costa, nem Villas-Boas, nem Salvador e, mesmo entre os treinadores, nem Mourinho, nem Farioli e mesmo o mais calmo de todos, Rui Borges, são incapazes de se manter à margem do ruído.

Já sabemos todos porquê: porque há anos sobre a reincidência da aplicabilidade de uma lei que está acima de todas as outras: quem não reclamar fica debaixo da probabilidade muito séria de ser prejudicado.

E é isto que coloca em causa todo o edifício do futebol em Portugal. Mas este ano tem sido impressionante: não basta a identificação e a descrição dos lances, nos comunicados ou através das declarações dos protagonistas; há acusações firmes (por parte do Benfica, de Rui Costa e de candidatos ao lugar de Rui Costa), segundo as quais há um ‘lençol verde’ a proteger, através da FPF, o Sporting e Frederico Varandas.

Varandas responde que o presidente da FPF e da Liga são do Benfica, o FC Porto vai em primeiro e não tem sido tão impactante nas suas observações, mas já antevemos todos que, no momento em que houver perda de pontos, lá virá a ladainha do costume.

Portanto, o que está em causa é todo este sistema de organização que permite a existência deste tipo de afirmações, a colocar em causa há muito a integridade das competições, sem que nada aconteça de verdadeiramente significativo, em termos de punições realmente dissuasoras.

É uma brincadeira há muitos anos, de gente que faz mal ao futebol e este ‘futebol-botox’ que nos querem impingir, isto é, disfarçar as imparidades e as imperfeições da falta de regulação e de liderança com convites ao silêncio ou críticas àqueles que nada fazem para promover a verdade desportiva — e desde já convido o presidente da Liga, Reinaldo Teixeira, de quem tenho a melhor impressão, que não pactue com esta fantochada, se verificar que o seu trabalho está a ser boicotado, que corre o risco de ser absolutamente inoperante ou é apenas uma marioneta.

Oiço por aí que ‘basta’ aumentar as multas e que o importante é que os atores do futebol assumam as suas responsabilidades… Isso dizia eu há mais de 20 anos em ambiente televisivo, pugnei pelo aparecimento do VAR quando ninguém falava disso nem de verdade desportiva e quando fui à Assembleia da República, completam-se 16 anos em janeiro, levando comigo os presidentes da FPF e da Liga de então, tentar sensibilizar os partidos e o país de que era preciso fazer alguma coisa para travar práticas anti-éticas num regime de medos, coações e violências várias, já dizia que questões operacionais tinham de ser acompanhadas por uma nova mentalidade e, sem a presença de chefes de claques a condicionar tudo e todos, tudo seria mais fácil.

Os clubes decidem em causa própria, não há independência, não há regulação, o sistema está viciado.

Está quase tudo na mesma e o pior é que, tirando o efeito das claques (aqui, Varandas merece o maior dos elogios), aumentou o debate antirrivais nas televisões e ninguém discute soluções.

Já avancei com a solução dos árbitros estrangeiros. Não querem. E não sei porque não se aciona com eficácia o mecanismo legal que está ao alcance dos clubes: que reflexões sobre estas matérias estão a fazer os grupos de trabalho? A Direção Executiva está a cumprir as suas funções? E a Direção da Liga? E as ratificações por parte da AG da Liga e da AG da FPF?

Sabem uma coisa? Nada funciona. A não ser a vontade de preencher umas vagas e receber as mordomias.

Tanto dinheiro gasto em feiras de vaidades! Para reduzir as críticas a quase… zero!

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