Gelo da Gronelândia está a derreter de baixo para cima (e muito mais depressa do que se pensava)

CNN , Isabelle Jani-Friend
27 fev 2022, 10:00
Cientistas descobrem nova ilha na Gronelandia

A base da camada de gelo que cobre a Gronelândia está a derreter rapidamente e a injetar muito mais água e gelo no oceano do que se pensava anteriormente, segundo uma nova investigação, algo que pode ter graves implicações no aumento global do nível do mar.

Níveis “sem precedentes” de degelo foram observados na parte inferior da camada, causados por enormes quantidades de água que cai da superfície, segundo o estudo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” ou PNAS.

À medida que a água resultante do degelo cai, a energia potencial gravitacional da mesma é convertida em energia cinética, que acaba por aquecer a água enquanto esta se acumula na base da camada de gelo. O estudo descobriu que, durante esse processo, a camada de gelo da Gronelândia produz mais energia do que as 10 maiores barragens hidroelétricas do mundo juntas.

“No entanto, o calor gerado pela queda da água não é usado para produzir eletricidade. Em vez disso, derrete o gelo”, disse à CNN Poul Christoffersen, o cientista da Universidade de Canmridge que participou no estudo.

Durante os meses mais quentes, a água do degelo acumula-se em lagos e ribeiros à superfície da camada de gelo. Parte dessa água é drenada para o fundo da camada, caindo através de fendas e grandes fraturas que se formam no gelo devido ao movimento e à tensão.

Essa água contribui para um maior degelo na parte inferior da camada e também se comporta como um lubrificante que promove um fluxo mais rápido e aumenta a quantidade de gelo que é largada no oceano.

Christoffersen explicou que, ao investigar o degelo das bases das camadas e dos glaciares, os estudos tendiam a focar-se em fontes externas de calor.

“Mas aquilo que realmente não analisámos foi o calor gerado pela própria drenagem da água do degelo”, disse ele. “Há muita energia armazenada na água que se forma na superfície e, quando a água cai, a energia tem de ir para algum lado.”

A camada de gelo da Gronelândia é a segunda maior do mundo e é já a maior responsável para o aumento global do nível do mar.

“Os nevões não conseguem acompanhar o ritmo acelerado com que o gelo da Gronelândia está a derreter à superfície, portanto, há uma grande perda com o degelo”, disse Christoffersen à CNN. “Numa parte substancial do gelo, temos ritmos de degelo que podem chegar aos cinco ou seis centímetros por dia.”

No entanto, medir as condições diretamente na base da camada – cerca de um quilómetro abaixo da superfície - apresenta desafios, principalmente na Gronelândia, onde os glaciares estão entre os que se movem mais depressa no mundo.

Para este estudo, os investigadores de Cambridge juntaram-se a cientistas da Universidade da Califórnia em Santa Cruz e do Serviço Geológico da Dinamarca e da Gronelândia. O estudo concentrou-se no Glaciar Store, um grande canal de descarga da camada de gelo da Gronelândia.

Para medir as taxas de degelo, os investigadores usaram uma técnica desenvolvida no British Antarctic Survey chamada ecossondagem de rádio sensível à fase, um processo através do qual conseguem medir a espessura do gelo.

É um método que já tinha sido usado em camadas de gelo flutuantes à volta da Antártida.

“Não tínhamos a certeza se a técnica resultaria num glaciar de fluxo rápido da Gronelândia”, disse Tun Jan Young, primeiro autor do estudo, que instalou o sistema de radar no Glaciar Store.

“Comparado com a Antártida, o gelo deforma-se muito depressa e há muita água resultante do degelo no verão, o que complica o trabalho.”

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