«Chalana olhava para a bola como uma criança olha para um chupa»

David Marques , Estádio da Luz, Lisboa
10 ago 2022, 10:04
Chalana

Os testemunhos de Diamantino Miranda, Álvaro Magalhães e de António Simões, que entregou a posição ao «pequeno genial»

[artigo publicado originalmente a 18 de novembro de 2019]

Benfica: morreu Chalana, aos 63 anos

«Chalana, a vida do génio», livro da autoria de Luís Lapão, conta com testemunhos de antigos futebolistas e outras pessoas próximas do antigo futebolista, de 60 anos.

À margem da apresentação da obra em 2019, o Maisfutebol falou com três ex-jogadores do Benfica - dois deles antigos colegas e um que lhe passou testemunho para a estreia pelo Benfica em 1976 - e desafiou-os a recordar pelo menos um episódio com ele.

Diamantino Miranda -  «Há centenas de histórias, porque desde os 17 anos que viajávamos para aqui na famosa carrinha do peixe do Bento. Haveria muitas histórias para contar, mas lembro-me de uma recente. Em 2010, quando fui treinar os juniores do Benfica, o Chalana era o meu adjunto. E ele, que ainda tinha uma paixão enorme por jogar futebol, entrava a cada treino sempre que havia possibilidade. E os miúdos andavam sempre a dizer-me: 'Oh, mister! O Chalana joga connosco, dizem que você também jogava bem e ainda não o vimos sequer tocar na bola.' Um dia o Chalana agarrou-me pelo braço e disse-me que eu também ia jogar. 'Oh Chalas, olha que o meu joelho...' A primeira vez em que ele me passou a bola, fiz um passe e fiquei agarrado ao joelho. O Chalana achava que eu estava a brincar e rebolava na relva. No dia a seguir eu estava no hospital a ser operado. Quando via uma bola, o Chalana tornava-se uma criança. Mesmo há pouco tempo: olhava para uma bola como uma criança olha para um chupa. Ele foi um génio como jogador. O maior elogio que lhe faço é quando me dizem que eu também jogava bem: é verdade, mas quando estávamos aflitos dávamos a bola ao Chalana.

[O pinheiro dinamarquês] «Eu já estava no Benfica, mas ainda não era internacional, e assisti a esse jogo no Estádio da Luz, com o Chalana já internacional [em 1976]. Ainda hoje, passados não sei quantos anos, tenho a imagem do defesa dinamarquês a recuar. E o Chalana, a gingar e sem tocar na bola, conseguiu que ele trocasse os pés. Como era muito grande, parecia mesmo um pinheiro a cair. Nos treinos seguintes partimo-nos a rir com esse episódio.»

Álvaro Magalhães - «Ele só tem mais dois anos do que eu, mas quando eu era junior da Académica ou juvenil nos Cracks Lamego, já ouvia falar do Chalana, que jogava na equipa principal do Benfica. Já era um jogador reconhecido pela sua capacidade. Era difícil perceber para onde é que ele ia. Às vezes ainda nem tinha a bola nos pés e o adversário já estava no chão. A bola ainda nem tinha chegado e os adversários já tremiam. É um dos talentos que aparecem de 100 em 100 anos. O vício dele era jogar futebol e tratar dos pombos.»

António Simões - «Que privilégio foi para o futebol português eu ter acabado e ele ter começado. Eu saí e ele entrou para a minha posição. Para mim, o melhor jogador depois do Eusébio chama-se Fernando Chalana. Teve uma história muito semelhante à minha: começou praticamente com a mesma idade que eu tinha e só tenho imensa pena que ele tenha jogado menos do que merecia e do que merecia o futebol. Teve algumas lesões e interrupções: perdeu ele e depois perdeu o Benfica e o futebol português. Para o que foi, para o génio que foi, acho que foi pouco. Mas o sabor foi muito.»

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