Como é que as crianças aprendem a falar? Algumas dicas para os pais

CNN , Por Emiko Muraki e Penny Pexman, Universidade de Calgary
16 mai 2022, 10:00
(Foto Cláudia Lima da Costa)

Nota do editor: Os pontos de vista expressos neste comentário são unicamente os dos escritores. A CNN está a mostrar o trabalho de “The Conversation”, um trabalho realizado em colaboração entre jornalistas e académicos para fornecer análises e comentários de notícias. O conteúdo é produzido exclusivamente por “The Conversation”.

Para os adultos, comunicar na sua primeira língua é fácil e natural. Contudo, esta aprendizagem é um processo complexo que é influenciado por vários fatores.

Quando as crianças de muito tenra idade começam a aprender a língua, alguns fatores, tais como a quantidade de conversação que uma criança ouve e a quantidade de tempo que passa em interações de comunicação com outras, parecem ter influência. Talvez menos óbvio seja o facto de que as próprias experiências físicas das crianças com o seu ambiente as ajudam a aprender novas palavras.

Em recentes pesquisas na área das ciências cognitivas, investigámos o modo como ocorre o processo, considerando a forma como as crianças aprendem palavras que se referem a algo que se pode tocar, agarrar ou com o que se pode interagir. Pedimos aos pais que avaliassem a facilidade com que uma criança pode interagir fisicamente com o objeto, ideia ou experiência a que uma palavra se refere. Encontrámos palavras que se referem a objetos com os quais é fácil interagir e que para as crianças são também palavras que são aprendidas numa idade mais precoce.

Colher: Um objeto em que se pode tocar

Por exemplo, uma palavra como "colher" é normalmente aprendida mais cedo do que uma palavra como "céu". E esta relação permanece mesmo quando consideramos outras coisas que podem afetar a aprendizagem de palavras, tais como o quão comum é uma palavra na linguagem quotidiana.

Palavras como ‘colher’ e ‘céu’ são ambas relevantes para a vida quotidiana, pelo que as crianças irão provavelmente ouvi-las muito cedo no seu processo desenvolvimento. Uma diferença entre elas é que o termo ‘colher’ se refere a algo em que se pode tocar, que se pode agarrar e com que se pode interagir, enquanto a palavra ‘céu’ não se refere a um conceito palpável.

Porque é que a experiência do contacto físico ajuda

Os nossos resultados vão ao encontro de estudos já realizados em que os bebés e crianças de tenra idade usavam pequenas câmaras corporais montadas na cabeça para registar as suas interações com objetos. Esses estudos mostram que a própria experiência do contacto físico das crianças com os objetos as ajuda a aprender novas palavras.

Por exemplo, num dos estudos, os investigadores descobriram que as crianças de 18 meses de idade tinham mais probabilidades de aprender o nome de um novo objeto quando agarravam nesse objeto, e menos probabilidades de aprender o nome se os seus pais o segurassem. Outro estudo descobriu que as crianças de 15 meses que passaram mais tempo a manipular novos objetos tinham aprendido mais substantivos quando atingiam os 21 meses de idade.

As câmaras corporais permitem aos investigadores ver o ambiente do ponto de vista de uma criança. Isto dá aos investigadores pistas sobre a razão pela qual é mais fácil para as crianças aprenderem os nomes dos objetos em que conseguem tocar e segurar. Em qualquer altura, há muitos objetos diferentes no campo de visão de uma criança. Quando um pai nomeia um objeto no ambiente que a circunda, a criança deve descobrir de que objeto o pai está a falar. Mas quando as crianças seguram ou tocam num objeto específico, esse objeto está muito mais próximo delas e preenche um plano maior do seu campo de visão, tornando mais fácil para elas ligar a palavra que o pai utilizou com o objeto que veem.

Interações das crianças

A experiência física está também relacionada com a forma como as crianças utilizam e processam a linguagem. Palavras como ‘colher’ que se referem a objetos com os quais é fácil para uma criança interagir são nomeadas mais rapidamente por crianças a partir dos 6 anos de idade. Isto acontece provavelmente porque a experiência do contacto físico da criança com o objeto facilita a ligação entre o significado de uma palavra e as letras escritas ou a sonoridade da própria palavra, um processo que acontece sempre que lemos ou ouvimos uma palavra.

Um estudo mais recente também concluiu que as palavras que se referem a objetos com os quais é fácil interagir são mais fáceis de ler e reconhecer por crianças do segundo ao quarto ano. Curiosamente, os investigadores também descobriram que as crianças que tinham experienciado mais tempo de ecrã todos os dias tinham menos probabilidades de mostrar esta capacidade: não eram tão rápidas ou precisas ao reconhecerem palavras que se referiam a objetos de interação imediata. Isto porque o aumento do tempo de visualização em ecrãs pode reduzir a quantidade e qualidade das experiências de contacto físico que as crianças têm com objetos no seu ambiente.

Brincar e nomear os objetos é importante

A aprendizagem de palavras é mais fácil quando uma criança pode interagir com um objeto enquanto ouve o nome desse objeto, em vez de ver o objeto apresentado por um dos pais ou num ecrã. Isto não é possível para todos os objetos, e as crianças aprenderão as palavras para conceitos em que não podem tocar, tais como ‘céu’, mesmo sem interação física. Mas esta pesquisa mostra que pode ser útil dar às crianças a oportunidade de agarrar e sentir através do tato as coisas que estão a aprender a designar, desde que seja seguro fazê-lo.

Quando as crianças tocam, agarram e interagem por contacto com as coisas presentes no seu ambiente, desenvolvem as suas capacidades motoras. Ao estudar a forma como as crianças aprendem diferentes tipos de palavras, a nossa investigação exemplifica as formas como as experiências de contacto físico são importantes não só para a aprendizagem motora de uma criança, mas também para a sua aprendizagem das palavras.

Isto significa que dar às crianças mais oportunidades para interagir e contactar fisicamente com os objetos do seu ambiente real, e não virtual, é bom para o seu corpo e para o seu cérebro.

Emiko Muraki é doutorando em ciências cerebrais e cognitivas na Universidade de Calgary. Penny Pexman é professora de psicologia na Universidade de Calgary.

Muraki e Pexman recebem ambos financiamento do Conselho de Pesquisa em Ciências  Naturais e Engenharia do Canadá.

Pexman também recebe financiamento do Conselho de Investigação em Ciências Sociais e Humanidades do Canadá.

A Universidade de Calgary financia, como parceiro fundador, o The Conversation.

Republicado sob licença Creative Commons da The Conversation.

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