Da Microsoft à NVIDIA, da Google à Apple, passando por tantas outras empresas como Amazon, Anthropic, Perplexity ou as europeias DeepL ou Mistral, as chinesas Deepseek, Alibaba, Baidu...
Se há especulação na corrida ao uso da IA ela não é apenas porque a inteligência artificial generativa serve para pesquisas, geração de textos ou de imagens reais outrora morosas e onerosas. Mas sim porque no dia a dia das nossas vidas entrarão duas figuras que se tornarão omnipresentes: Assistentes de IA e Agentes de IA.
ASSISTENTES DE IA
Hoje encontramo-los na forma de simples bots com os quais interagimos ainda maioritariamente em texto. São caixas no fundo do ecrã do telemóvel ou do computador que nos ajudam nos sites de eCommerce, Viagens, Banca, Seguros... Mas há mais, claro. O próprio ChatGPT deve a sua popularidade e sucesso ao facto de ser um assistente com o qual conversamos (chat), apesar de ter uma “forma” ainda demasiadamente funcional e utilitária.
Mas imagine outros exemplos, como um chat dentro do Snapchat ou do Instagram ou do Whatsapp, onde o seu perfil e consumo de conteúdos ajudarão a formar uma “personalidade” desse chat que passa a ser o seu Assistente Pessoal, ajustada a si, com quem pode conversar, desabafar, pedir opiniões, informações, marcações...
Do Clippy à Siri ou à Alexa, até bots personalizados em inúmeros websites, a mudança de paradigma já vai ocorrendo: de comandos básicos para uma conversação contextual e natural. E migrará para totalmente personalizada e.... íntima.
Iremos confessar angústias, pedir a opinião sobre alguém que acabamos de conhecer, indicar qual a melhor forma de lidar com a ansiedade... e o histórico de anos ditará a passagem de uma relação funcional para uma relação emocional e íntima. Algo até visto como semi-humano, que aceitamos como uma ajuda a quem podemos sempre recorrer. 24h. E que não corremos o risco de numa noite mal dormida escorregar e verter algum segredo inoportuno a alguém.
A luta de todas as tecnológicas é de quem terá o melhor sistema tridimensional.
Nesse aspecto, Google e Apple partem em vantagem. Pois possuem ecossistemas transversais. Se na META apenas podemos usar este agente pessoal dentro do Facebook e do Instagram e Whatsapp, alimentado por informação do que aí fazemos, já no caso da Google e Apple, graças aos sistemas iOS e Android (e Youtube, e Chrome, e Gmail, ...) e ao conjunto de dispositivos que possuem os seus serviços e aplicações que atravessam o ecossistema, estas duas empresas poderão ter uma vantagem inigualável. Mas dependerá também de até onde a regulação as permitirá ir...
Dilemas do Futuro
A integração na nossa vida quotidiana destes agentes será daqui a 10 anos líquida, como são hoje os smartphones. Iremos debater o seu impacto emocional, a sua influência, os seus algoritmos, a sua ética... haverá filmes e séries de TV distópicos. Notícias alarmantes. Outras no sentido oposto revelando as maravilhas. E claro, diremos sempre “ao que chegámos e até onde ainda dá para ir?”, ora num tom fatalista ora num tom otimista.
Não custa por isso imaginar daqui a alguns anos um qualquer serviço Apple Pal, ou Google Friend, ou Meta Buddy ou outras inúmeras sub marcas originais que nos tentarão dizer “Eu sou o melhor assistente. Usa-me!”.
Mas se nos Assistentes de IA, amplos, multi-abrangentes e pessoais, estará a Grande Guerra dos mundos das BigTECH, em paralelo e noutro lado as majestosas batalhas estarão nos Agentes de IA.
O que são Agentes de IA?
A definição simplista poderá atirar-nos para algo como “sistemas de IA capazes de executar tarefas com vários passos de forma autónoma, com base em objetivos, regras e feedback”.
Um tradutor é já um agente de IA, mas é uma ferramenta semi-passiva. Um agente proativo encaixa mais no conceito de um sistema que, por exº., agenda reuniões, responde a emails e gere ficheiros automaticamente.
Alguns exemplos:
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Auto-GPT, BabyAGI, AgentGPT – agentes open source;
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OpenAI com GPTs personalizados – bots com funções específicas criados por qualquer utilizador;
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Devin (Cognition Labs) – o primeiro "engenheiro de software" totalmente autónomo;
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AI copilots da Microsoft – integração em Word, Excel, Teams, Outlook para apoio e automatização de operações em cada uma destas aplicações;
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LangChain, ReAct, CrewAI – frameworks para criar agentes multi-etapas;
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…
E podíamos ficar nisto 1000 linhas de texto (não estou a brincar).
A grande utilidade dos Agentes de IA é que atuam em tarefas repetitivas, sobretudo nas empresas. Podem ser na automatização de tarefas administrativas, suporte técnico, análises preditivas, reconhecimento de padrões de compra e sugestão de promoções personalizadas, etc., etc., etc., libertando as pessoas para tarefas mais exigentes, complexas, estratégicas e criativas, e não mecânicas.
É também por isso que urge criar acordos e protocolos para gerir e reger estes desenvolvimentos, pois os modelos de IA de que falamos normalmente são maioritariamente gerais/generalistas, treinados com triliões de informações para responder a necessidades também gerais (vide o sucesso do Chat GPT).
Mas imagine que tem um caso específico na sua empresa, na indústria química? Ou de infraestruturas? Ou na Saúde? Casos esses onde a informação relevante está (e bem) guardada a sete-chaves na sua empresa… e portanto nenhum modelo de IA ainda ali chegou e se treinou? Como avançar?
Exemplos:
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Treino local (on-prem ou edge AI):
NVIDIA Clara e MONAI – frameworks para IA médica treinada localmente;
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Fine-tuning seguro em ambientes controlados:
Muitas empresas estão a usar GPTs privados (via API) com firewalls de dados, como o Azure OpenAI Service, que garante isolamento;
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Aprendizagem federada;
Google Health, Owkin, Intel AI – projetos com Hospitais onde o modelo aprende com dados distribuídos, respeitando privacidade;
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Synthetic data / data masking:
Criação de dados sintéticos que imitam padrões reais, mas não contêm informação identificável; útil para treinar agentes sem expor dados sensíveis diretamente.
Conclusão
O futuro da IA não será só feito de modelos gigantes, como o Chat GPT ou o Google Gemini, mas de milhares de agentes especializados. Passámos de uma web aberta de páginas e URL’s (protocolos) para uma web semi-fechada e de plataformas e apps, e caminhamos para uma web de agentes e assistentes, uma web de interfaces “inteligentes” onde dizemos o que queremos e os assistentes acompanham-nos, ficando entretanto uma boa parte das tarefas automatizáveis a cargo de agentes.
Por isso um Apple Pal terá cabimento, mas carece de ser uma solução milagrosa, geral e ambiciosa. Mas um qualquer Google-Ghost como marca para agentes especializados que automatizam tarefas na sombra e no silêncio também.
A Apple não será bem-sucedida apenas por lançar um novo super-assistente - mas por torná-lo belo, privado, útil e integrado. A Google não vencerá apenas por ter mais dados - mas por saber oferecer agentes capazes de tornar esses dados em ações que nos simplificarão a vida (vide hoje quando entra no carro e os Mapas já lhe sugerem a rota para chegar ao trabalho, sem ter perguntado para onde ia).
Aguardemos, portanto, pelos filmes e séries distópicos.
Eles serão uma certeza.
Mas eu fico do lado em que acredito que o que puder ser automatizado, será automatizado. E vou pensando que nome irei dar ao meu Assistente pessoal virtual, para quando a Apple me perguntar algures numa futura atualização do iPhone.