Às 11:33 "o sistema veio todo abaixo" e vem aí uma noite complicada: as primeiras explicações para o apagão total em Portugal

CNN Portugal , MJC
28 abr, 19:36

REN ainda não sabe a causa da "grande oscilação de tensões" que provocou o apagão

"Ainda não conseguimos com toda a certeza apontar para nenhuma causa concreta" para o apagão geral, afirmou o administrador da REN, João Faria Conceição, numa declaração aos jornalistas, às 18:30 desta segunda-feira. 

O que se sabe é que o apagão aconteceu pelas 11:33 num momento em que Portugal estava a importar energia de Espanha. "Momentos antes das 11:33 assistimos a uma grande oscilação de tensões na rede espanhola, ao ponto de os sistemas de controlo e proteção de todas as centrais elétricas dispararem, e a partir daí há um desequilíbrio toal entre os consumos e a produção e, quando isso ocorre, o sistema vem todo abaixo", explica João Faria Concieção, referindo que o que se passou é um pouco semelhante ao que acontece numa habitação quando o quadro dispara.

"Quando isto acontece recorremos ao black start", explica o administrador da REN. Ou seja, "progressivamente e de forma gradual e cuidadosa, vamos acrescentando consumos e produção na rede". Isso "tem de ser feito de forma paciente", para que não haja desequilíbrios, se não vem tudo abaixo novamente. "Isso aconteceu-nos várias vezes nas várias várias tentativas de restabelecimento ao longo da manhã", referiu, explicando que o processo tem de ser cuidadoso, para que não se corram riscos de novas interrupções de fornecimento.

Neste momento, a REN já conseguiu ligar as duas centrais elétricas que, em Portugal, têm capacidade de fazer esse "black start" - a da Tapada do Outeiro (que permitirá abastecer a região do Porto) e a de Castelo de Bode (que abastece a região de Lisboa).

"Neste momento, estamos a tentar recuperar a energia em várias zonas", diz o responsável da REN. Num primeiro momento está-se a tentar abastecer os serviços prioritários, como forças de segurança, hospitais, estruturas de abastecimento de água, transportes, etc.

"A normalização total é difícil de prever. A expetativa é chegar à zona do Grande Porto dentro de duas horas. A Grande Lisboa vai demorar mais tempo. Temos de ir ligando centrais, de forma sustentada, para evitar que Lisboa não provoque nova baixa. A nossa expetativa é que Lisboa possa estar ligada, pelo menos no que diz respeito a consumos mais prioritários, dentro de 5 a 6 horas", afirma João Faria da Conceição. "Não podemos correr risco de deitar tudo a perder e voltar tudo para trás."

"Espero que consigamos ter o sistema totalmente equilibrado durante esta noite", afirma João Faria Conceição, garantindo que a REN vai fazer tudo o que for possível para que isso aconteça.

Neste momento devem estar 750 mil consumidores já ligados, o que é ainda em pouco tendo em conta que há 6,7 milhões de consumidores em todo o país, de acordo com os dados da empresa.

Sobre as causas do desequilíbrio no sistema, não se sabe ainda muito. "Podem ser mil e uma causas, é prematuro estarmos a fazer uma avaliação", diz o administrador da REN, admitindo que pode demorar algum tempo até se saber o que aconteceu. "Já ouvimos de tudo. Não temos qualquer informação de que tenha havido um ataque cibernético. Já li que tinha sido um avião que tenha caído, também não tenho essa informação. Pode ter sido simplesmente o facto de termos tido uma oscilação muito grande de tensões no sistema espanhol que se propagou para o sistema português, porque os sistemas estão interligados."

João  Conceição deixa ainda claro que Portugal não está dependente da energia espanhola. "O sistema português vai buscar energia a Espanha porque é mais barata", sublinha o administrador da REN, explicando que Portugal tem mais problemas porque é um país periférico. Espanha pode pedir ajuda a França e Marrocos - como fez, de resto. Numa situação normal, Portugal também poderia pedir ajuda a Espanha.

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