Em atualização

Um palco sem peça, uma peça sem guião

2025-10-18
2025-10-17
11:07
O Presidente Donald Trump e o Presidente russo Vladimir Putin chegam para uma conferência de imprensa na Base Conjunta Elmendorf-Richardson, a 15 de agosto, em Anchorage, Alasca. Andrew Harnik/Getty Images

Donald Trump quis falar com os dois, mas escolheu um primeiro que o outro. O presidente dos Estados Unidos fez uma nova ronda de negociações com os homólogos de Rússia e Ucrânia, em 48 horas que voltaram a deixar um vazio no ar.

A ter de apostar, é Vladimir Putin que sai vitorioso das duas conversas, depois de ter conseguido o que queria na sua, e de Volodymyr Zelensky não ter, aparentemente, convencido Donald Trump a transferir os mísseis Tomahawk.

Esse foi o ponto essencial da visita da delegação ucraniana à Casa Branca, de onde saiu praticamente de mãos a abanar, com pouco mais do que a habitual conversa “positiva”, na qual Donald Trump mostrou esperança numa paz, enquanto Volodymyr Zelensky se confessou cético do que pode acontecer.

Isto porque, na perspetiva do ucraniano, Vladimir Putin não quer mesmo a paz, pelo que está apenas a adiar e a adiar, o que lhe vai permitindo continuar a alimentar uma máquina de guerra que, mesmo devagar, vai avançando no terreno.

Talvez por saber que dificilmente a paz se fará em breve pelas conversas, o presidente ucraniano levou até Washington DC algo diferente. Além da retórica, levou uma proposta concreta: para a Ucrânia receber os Tomahawks, os Estados Unidos podem receber drones fabricados em Kiev.

Impulsionada pela guerra, a Ucrânia tornou-se especialista nestas pequenas armas. Donald Trump confirmou que a proposta lhe agradou, mas não terá sido suficiente para a autorização dos mísseis de longo alcance.

Ainda que não tenha havido uma nega taxativa - Volodymyr Zelensky também não afastou totalmente o cenário -, mas o que ambos disseram deixou claro que tinha sido pior do que melhor para a Ucrânia.

À procura de mísseis, o presidente ucraniano saiu com pouco mais que um frango assado.

A Axios acabaria por confirmar as piores notícias para a Ucrânia, revelando que Donald Trump e Volodymyr Zelensky tiveram uma reunião tensa que acabou sem mísseis para a Ucrânia.

por António Guimarães

2025-10-17
10:59

Um telefonema e um encontro

2025-10-17
10:58
Pete Hegseth (Andrew Harnik/Pool via AP)

As novas regras codificam limitações severas ao acesso ao Pentágono e aumentam a possibilidade de punição a jornalistas por coisas tão simples quanto a solicitação de informações sobre assuntos de interesse público. Equipas de advogados que representam organizações de notícias nacionais passaram as últimas semanas a negociar com funcionários do Pentágono as restrições, aparentemente sem sucesso.

"A imprensa do Pentágono pode reclamar o quanto quiser, nós estamos a levar estas coisas a sério", disse Hegseth à Fox News há quase duas semanas. "[Os jornalistas] podem reportar, só têm de garantir que estão a seguir as regras”, acrescentou o chefe do Departamento de Defesa, perdão, da Guerra.

"Estão a pedir-nos que confirmemos por escrito a nossa 'compreensão' de políticas que parecem destinadas a sufocar a imprensa livre e potencialmente expor-nos a processos judiciais pelo simples facto de fazermos o nosso trabalho", denunciou a Associação de Imprensa do Pentágono, que representa os jornalistas acreditados para cobrir aquele departamento da administração federal.

A debandada de jornalistas do Pentágono, num caso que promete ainda fazer correr muita tinta, possivelmente até à barra dos tribunais, teve lugar na semana em que se ficou a saber que a administração Trump deu luz verde à CIA para encetar ações na Venezuela, depois de pelo menos seis ataques a alegadas embarcações venezuelanas cuja legalidade tem sido questionada por vários especialistas.

Do que se sabe, apenas uma organização de media, o canal conservador privado One America News, aceitou assinar o documento-mordaça. O One American News e o programa satírico Daily Show do comediante John Stewart, que na quarta-feira emitiu o seguinte comunicado mordaz:

"Após cuidadosa análise, o Daily Show decidiu concordar com as novas exigências do Pentágono em relação ao acesso da imprensa. Íamos recusar, mas todos os outros rejeitaram com tanta veemência que, sinceramente, ficámos com pena do Pete Hegseth. O coitado nem conseguiu que a Fox News assinasse e ele trabalhava para eles há alguns meses. Até a Newsmax recusou. Brutal! Então, decidimos aderir. Só para que o One America não seja a única assinatura nesta coisa. É tudo demasiado humilhante."

2025-10-17
10:57
Membros do corpo de imprensa do Pentágono devolvem credenciais e abandonam Departamento da Defesa (da Guerra) EUA jornalistas Pete Hegseth (Kevin Wolf/AP)

A primeira medida chegou no dia 20 de setembro, a proibir os jornalistas de publicar qualquer coisa que não tivesse sido previamente aprovada por funcionários da administração Trump, dando aos jornalistas dez dias para assinar e concordar com as restrições. A recusa em assinar poderia resultar na retirada de credenciais de imprensa para entrar no Pentágono e fazer a cobertura jornalística do Departamento de Defesa, para a administração Trump o Departamento de Guerra.

Essa primeira proposta acabaria por ser revista, mas a que a veio substituir não é muito diferente e acabou por levar dezenas de jornalistas que cobrem o Pentágono a abdicar das suas credenciais de imprensa e a abandonar o edifício-sede do departamento federal dirigido por Pete Hegseth – nem a Fox News, o canal onde Hegseth trabalhava até há 10 meses, aceitou assinar o documento.

"Enquanto especialista na Primeira Emenda, acredito que a mudança na política do Pentágono representa um desenvolvimento sem precedentes na ofensiva do governo Trump contra a imprensa e um afastamento histórico das políticas dos governos anteriores", escrevia no final da semana Amy Kristin Sanders, da Universidade Penn da Pensilvânia.

Como um dia referiu o jornalista australiano Peter Greste, após passar 13 meses numa prisão do Egito: "os ataques ao jornalismo são uma questão de segurança nacional e temos de proteger a liberdade de imprensa. Tudo o que prejudica a liberdade de imprensa prejudica a segurança nacional."

Esta não parece ser a visão da pandilha de Hegseth sob a liderança de Trump (ainda que o Presidente tenha dito a um jornalista há algumas semanas que não acha que o Pentágono deva poder decidir o que é que os jornalistas podem cobrir, não se pronunciou sobre os mais recentes acontecimentos até ao fecho desta edição).

2025-10-17
10:54

Um papel e uma debandada

2025-10-17
10:41
Paz no Médio Oriente cimeira Egito (AP)

Com a pressa de pôr fim ao conflito em Gaza, ao final de dois anos de ataques ao enclave que resultaram já em mais de 66 mil mortos e mais de 10 mil desaparecidos, os líderes e representantes de pelo menos 27 países estiveram reunidos em Sharm el-Sheikh, no início da semana, para uma "cimeira da paz" alumiada pela proposta de 20 pontos de Trump. Mas desse encontro saíram poucas decisões concretas.

"A cimeira definiu o palco, mas ainda não a peça, foi em grande parte simbólica, mas ajudou a esclarecer quem irá liderar o processo", considera Houssein al-Malla, destacando como grande resultado do encontro no Egito o "entendimento de que os atores regionais vão liderar politicamente, enquanto os doares ocidentais vão garantir o financiamento".

O que esteve e está em cima da mesa, adianta à CNN Philipp Kastner, especialista em processos de paz, "é claramente uma espécie de acordo internacional de investimento, de certa forma numa abordagem muito Trumpiana, que eu não acredito que vá funcionar a longo prazo".

Isso não anula, contudo, o facto de que há finalmente passos a serem dados para tentar resolver a situação, sobretudo a crise humanitária de Gaza no imediato, argumenta Kastner, que continua a achar que a proposta "pode ser reformulada para o benefício do povo de Gaza".

Entre os pontos negativos da cimeira conta-se o facto de nem israelitas nem palestinianos terem participado nela, sobretudo perante o facto apontado por Kastner e outros de que "há demasiadas razões para as partes decidirem explorar o que pode ser entendido como violações do acordo de cessar-fogo" e, acima disso, o facto de que nenhum processo de paz tem grande viabilidade quando as partes envolvidas não são envolvidas nas negociações.

Mesmo assim, tal não tem impedido algum otimismo precipitado por parte de Trump e também por parte da UE, onde é agora, segundo quatro fontes citadas pelo Politico, improvável que haja unidade para avançar com sanções a Israel como forma de pressão para pôr fim ao que vários especialistas consideram ser um genocídio em curso.

Com Gaza entregue a magnatas, pistoleiros e atores políticos externos, a boa notícia é que, segundo um documento obtido pelo Politico, Bruxelas pretende usar esta trégua e o processo iniciado em Sharm el-Sheikh para garantir que a solução de dois Estados, como preconizada nos Acordos de Oslo há mais de 30 anos, volta à ribalta.

"A vontade política neste momento significa coragem estrutural", diz Houssein al-Malla na entrevista que pode ler aqui. "Oslo falhou porque as promessas ultrapassaram as instituições – a próxima fase deve reverter essa sequência."

2025-10-17
10:38
Cimeira de paz do Egito Médio Oriente cartaz Donald Trump Abde Fattah al-Sisi, encontro Sharm el-Sheikh (Amr Nabil/AP)

As notícias do fim da guerra na Faixa de Gaza, como foi proclamado pelo Presidente dos EUA, foram manifestamente exageradas. O cessar-fogo implementado há uma semana após Israel e o Hamas terem chegado a acordo sob pressão de Donald Trump continuava a aguentar-se até ao fecho desta newsletter. Mas nada garante para já que não venha a colapsar.

Ao longo da semana, as partes foram trocando acusações de violações da trégua, com o Hamas a dizer-se impossibilitado de entregar os corpos de todos os reféns mortos, porque muitos não estavam sob a sua alçada e poderão estar enterrados em zonas bombardeadas pelo exército antes do cessar-fogo. Israel diz que o grupo tem de os entregar todos e que, enquanto isso não acontecer, só permitirá a entrada de metade da ajuda humanitária com que se comprometeu, 300 dos 600 camiões por dia.

"O cessar-fogo só será mantido se ambos os lados acreditarem que a moderação atende melhor aos seus interesses do que a escalada do conflito", ressalta Houssein al-Malla, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em entrevista à CNN Portugal. E isso, adianta o especialista em processos de paz no Médio Oriente, "requer coordenação diária no terreno, não mensagens políticas das capitais -- o Egito e o Catar são agora os principais garantes [do processo de paz], mas precisam do apoio explícito dos EUA para responder rapidamente às violações antes que elas se agravem".

Esse apoio tem sido tudo menos explícito. No início da semana, no seu discurso no Knesset, Trump disse que permitiu ao Hamas rearmar-se para policiar Gaza até que uma força internacional de manutenção da paz seja criada e destacada para o enclave. E o resultado já está à vista, com execuções de "traidores" pelo Hamas e lutas armadas entre fações rivais, algumas delas apoiadas por Israel com dinheiro e armas, que ameaçam fazer descarrilar todo o processo de paz.

Depois disso, Trump também disse que autorizou Israel a retomar a ofensiva se o Hamas não cumprir os requisitos estabelecidos no acordo de cessar-fogo, no que Al-Malla, como outros analistas, considera que pode funcionar como combustível numa fogueira ainda não extinta. ""A declaração de Trump corre o risco de transformar o cessar-fogo numa ameaça em vez de um compromisso comum."

2025-10-17
10:31