AO MINUTO | Arderam mais de 124 mil hectares em Portugal desde domingo
O que está a acontecer
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"O que é que esta malta vai fazer aos animais?" Teresa pensou - e abriu as portas do seu centro hípico para ajudar
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PJ aumenta na última semana as detenções de suspeitos de atear fogos
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Vieira do Minho escapou quase ileso graças a aposta na prevenção
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Proteção Civil está a fazer levantamento de tudo o que aconteceu ao longo da semana
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REPORTAGENS: Durante as Cinzas
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Fogos provocaram perda de cerca de 9.000 colmeias desde início do ano
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Entre 30 a 40% dos apicultores do Norte e Centro com perdas de produção
"Sentimos falta de apoio no primeiro dia. A ministra tinha o telemóvel desligado"
Reforçando ainda que a situação na zona, agora, "estava mais confortável", a presidente de Arouca Margarida Belém disse que nos primeiros dias sentiram "falta de apoio".
"Nomeadamente de quem lidera estas matérias. A senhora ministra que tinha, efetivamente, o telemóvel desligado e não tínhamos a quem recorrer. Hoje o cenário é diferente. O secretário de Estado tem efetivamente, desde ontem, acompanhado a situação. Mas é nos momentos críticos, importante que nós tenhamos quem lidera e reconheça as realidades destes territórios", afirmou a autarca.
Já sobre o ministro da Coesão Territorial, Margarida Belém diz que foi "o ministro que esteve sempre com o telemóvel ligado para atender a senhora presidente".
Siga ao minuto:
"Tremam pirómanos que Montenegro vem aí": Sérgio Sousa Pinto diz que o primeiro-ministro virou "justiceiro florestal"
O comentador da CNN Portugal afirmou, no Contrapoder, que o primeiro-ministro teve uma atitude "pouco pedagógica e pouco séria" ao "deslocar a discussão dos incêndios para a área criminal".
"O país não sentiu que o Governo estava ausente" durante os incêndios
No Contrapoder de uma semana marcada pelos incêndios em Portugal, João Marques de Almeida elogia o trabalho feito pelos bombeiros em todo o país. Sobre a gestão política desta crise, o comentador da CNN Portugal, afirma que Luís Montenegro se "expôs" e "protegeu" a ministra da Administração Interna.
"Luís Montenegro resolveu, não sei porque razão, retirar poder à Ministra" que esteve "desaparecida em combate"
Ana Sá Lopes esteve esta sexta-feira no progrma Contrapoder onde se abordou a postura do primeiro-ministro perante o flagelo dos fogos que atingiu o país na última semana.
Segundo a comentadora "Luís Montenegro resolveu", sem que ela entenda o motivo, "retirar poder à Ministra da Administração Interna". O que considera "estranho" porque é ela que tem a tutela e ela esteve "desaparecida em combate".
Sendo que de alguma forma terá, na sua opinião tentado "tirar alguns benefícios políticos de uma tragédia, o que também não lhe fica bem"
Turismo no Norte vai ser afetado após os incêndios desta semana, mas já se está a trabalhar para apelar ao regresso dos turistas
O presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Luís Pedro Martins, elenca algumas das perdas para o setor turístico resultantes dos incêndios que lavraram esta semana na região, e também as medidas que estão a ser tomadas para mitigar o impacto das chamas.
"O país tem um enorme problema com a gestão dos territórios do mundo rural, de onde as populações saíram em massa"
António Louro, presidente do Fórum Florestal, afirma que "muito pouco" foi feito no terreno desde os incêndios de 2017, mas elogia a criação das Áreas Integradas da Gestão da Paisagem.
Comandante Esteves e comandante Horta: bombeiros diferentes numa homenagem em pleno relvado
Incêndios: a homenagem do mundo do futebol
Os capitães do Nacional vs Sporting de Braga, Luís Esteves (D) e Ricardo Horta, com casacos de bombeiros em homenagem às vítimas dos incêndios, momentos antes do início do jogo da I Liga de futebol, no estádio da Madeira. (Foto Lusa)
"O que é que esta malta vai fazer aos animais?" Teresa pensou - e abriu as portas do seu centro hípico para ajudar
Teresa Limas, 20 anos, transformou o centro hípico que os seus pais deixaram ao seu cuidado, em Santa Maria da Feira, num abrigo para animais resgatados dos incêndios.
Depois de uma publicação nas redes sociais que acabou por superar as suas expectativas, já conseguiu acolher 15 cães, sete gatos, dois galos e quatro galinhas, além dos cavalos e cães que já ali moravam.
APA realiza intervenção de emergência para travar arrastamento de terras para o rio Vouga
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) vai efetuar uma “intervenção de emergência” nas linhas de água que afluem ao rio Vouga, colocando açudes de madeira para evitar o arrastamento de terras, anunciou hoje o presidente da instituição.
“Vamos fazer uma intervenção de emergência nas linhas de água que afluem ao rio Vouga para controlar aquilo que é o arrastamento das chuvas das cinzas para a massa de água”, revelou Pimenta Machado, em Faro, à margem da reunião da Sub-comissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras.
O presidente da APA adiantou que os técnicos da entidade estão no terreno, em conjunto com as câmaras de Albergaria-a-Velha, de Águeda e de Aveiro, para avaliar a realização dessa intervenção.
O objetivo, frisou, passa por “minimizar aquilo que são as cinzas causadas pelos incêndios sobre a captação de água do Carvoeiro, que abastece toda a região de Aveiro”.
A intervenção implica a colocação de “pequenos açudes de madeira para reter as cinzas”, evitando que elas cheguem ao Vouga e alterem “aquilo que é a qualidade na captação de água no Carvoeiro”, acrescentou Pimenta Machado.
O presidente da APA disse que as situações mais preocupantes nas captações de água serão alvo de intervenções de emergência, estando a ser efetuado “um trabalho de grande articulação com os municípios” relativamente a esta matéria.
Também à margem da reunião da Sub-comissão Regional da Zona Sul da Comissão de Gestão de Albufeiras, a ministra do Ambiente e Energia, Graça Carvalho, declarou que o seu ministério está a acompanhar “toda a parte de paisagem ambiental”, com o levantamento da situação em parques e zonas protegidas e também a situação dos resíduos resultantes de incêndios nos leitos de água.
“A APA está a acompanhar de perto e o senhor secretário de Estado do Ambiente faz parte daquela ‘task-force’ daquele grupo que acompanha o senhor ministro da Coesão [Territorial, Castro Almeida] para fazerem o levantamento de todos os equipamentos que precisam de uma intervenção urgente”, apontou.
PJ aumenta na última semana as detenções de suspeitos de atear fogos
A Polícia Judiciária (PJ) aumentou o ritmo de detenções de suspeitos por incêndio florestal nesta última semana, em que dispararam os números de fogos e de área ardida, com pelo menos 12 pessoas detidas desde o passado sábado.
Desde o início de 2024, segundo dados facultados pela PJ até agosto e contabilizados pela Lusa desde então, são já 38 as detenções de suspeitos pelo crime de incêndio florestal, das quais 20 até agosto e 18 apenas em setembro, ou seja, quase tantas detenções nestas três semanas como nos anteriores oito meses do ano.
As 38 detenções superam já os números registados entre janeiro e setembro de 2023, quando foram detidas 35 pessoas neste contexto criminal.
Apesar de nem todas as detenções ocorridas esta semana se reportarem a incêndios florestais deflagrados neste período, vários suspeitos foram detidos por alegadamente terem ateado fogos nos últimos dias, encontrando-se neste lote ocorrências em Batalha, no distrito de Leiria, ou Albergaria-a-Velha e Cacia, ambas no distrito de Aveiro.
Já a Polícia de Segurança Pública (PSP) indicou à Lusa ter identificado 23 suspeitos de incêndio florestal (e dois detidos em flagrante delito) este ano, em 114 ilícitos registados, o que supera os 16 suspeitos identificados no ano passado, quando se registaram 153 ilícitos.
Na análise dos dados dos últimos cinco anos (2020-2024) reportados pela PSP, sobressai o ano 2022, em que se registaram os máximos de ilícitos e de suspeitos identificados: 180 e 31, respetivamente.
Comparando 2024 com os anos anteriores, o presente ano é o terceiro com mais suspeitos identificados pela PSP, mas aquele que, até ao momento, tem menos ilícitos.
A Lusa pediu igualmente os dados das detenções por suspeitas do crime de incêndio florestal à Guarda Nacional Republicana (GNR), mas não obteve resposta.
Contudo, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, divulgou na quinta-feira que a GNR teria identificado 11 suspeitos da prática deste crime, sendo inclusive detidos oito em flagrante delito nestes últimos dias.
Prisão preventiva para homem suspeito de atear incêndio em Albergaria
O homem de 67 anos detido por suspeita de ter ateado um incêndio florestal no domingo em Albergaria-a-Velha, no distrito de Aveiro, vai aguardar o desenrolar do processo em prisão preventiva, informou hoje a Polícia Judiciária (PJ).
Em declarações à Lusa, fonte da PJ referiu que o suspeito foi presente hoje a primeiro interrogatório judicial, tendo-lhe sido aplicada a medida de coação mais gravosa.
Na quinta-feira, a Judiciária anunciou a detenção do presumível autor de um crime de incêndio florestal ocorrido no domingo em Albergaria-a-Velha, local onde morreram duas pessoas nos incêndios dos últimos dias.
Em comunicado, a PJ esclareceu que o homem “é ainda suspeito de ter sido o autor de três incêndios ocorridos nas localidades de Branca e São Marcos, em Albergaria-a-Velha, e em Serém, Águeda, no passado dia 21 de julho”.
De acordo com a investigação, o detido terá ateado o fogo com "recurso a chama direta" em zonas de extensa mancha florestal, próximas de várias habitações e instalações industriais e agrícolas”, atuando "num quadro de compulsividade".
Além deste detido, a PJ de Aveiro deteve esta semana mais três pessoas, suspeitas de atearem incêndios florestais em Cacia (Aveiro), Murtosa e Vagos, que também ficaram sujeitas à medida de coação de prisão preventiva.
Sete pessoas morreram e cerca de 120 ficaram feridas nos incêndios que atingem desde domingo sobretudo as regiões Norte e Centro do país, nos distritos de Aveiro, Porto, Vila Real, Braga, Viseu e Coimbra, e que destruíram dezenas de casas e obrigaram a cortar estradas e autoestradas.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 106 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões Norte e Centro, já arderam perto de 76 mil hectares.
A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) contabilizava, às 19:30 de quarta-feira, 34 incêndios ativos, sendo que destes 18 assumiam uma dimensão “significativa” e mobilizavam mais meios. No combate a estes 18 incêndios estavam envolvidos 2.434 operacionais, apoiados por 734 meios terrestres e 23 meios aéreos.
O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias.
Luís Montenegro tentou "encontrar um bode expiatório" para os incêndios e fê-lo "sem provas concretas"
Mafalda Anjos, comentadora da CNN Portugal, considera que Luís Montenegro enfrenta neste momento a situação "mais confrangedora" desde que chegou a primeiro-ministro após as suas declarações sobre os incêndios desta semana e o posterior desmentido das autoridades.
Luís Montenegro teve "reação emocional" aos incêndios. "Mostrou fragilidade em lidar com a pressão"
O comentador da CNN Portugal Miguel Santos Carrapatoso afirma que o primeiro-ministro "não pode fazer insinuações sem concretizar" como as que fez na sua declaração ao país desta semana.
Portugal tem um "problema sistémico" no seu território que vai piorar com as alterações climáticas
João Joanaz de Melo, professor de Engenharia do Ambiente na Universidade Nova de Lisboa, afirma que a lição mais importante a aprender após os incêndios desta semana é que "independentemente da quantidade de meios que sejam postos no terreno, temos uma vulnerabilidade sistémica" que potencia grandes incêndios.
Investigador alerta que a chuva que foi uma bênção "pode ser um problema"
Um investigador da Universidade do Minho alertou hoje que a chuva “foi uma bênção” para apagar os incêndios”, mas “pode ser também um grande problema”, salientando que deviam existir “planos municipais de emergência pós-incêndios para as áreas ardidas”.
Em declarações à Lusa, António Bento Gonçalves, diretor da licenciatura em Proteção Civil e Gestão do Território da academia minhota, explicou que uma das consequências do fogo é a erosão dos solos que origina a chamada "hidrofobia dos solos", que aliada a terrenos com declives e à chuva “concentrada e abundante” pode causar “torrentes de lamas”.
“A chuva foi uma bênção porque a situação estava muito complicada, mas pode vir a ser também um grande problema em alguns sítios se localmente tivermos precipitações muito intensas e concentradas em determinados locais”, alertou.
Segundo apontou o também presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos, os incêndios que assolaram o país nos últimos dias deixaram “uma extensíssima área desprotegida de vegetação”.
“A vegetação é o que iria suportar o solo, esse solo ficou mais empobrecido por causa da volatilização de alguns nutrientes, está particularmente vulnerável a tudo o que possa acontecer, sobretudo erosão hídrica, e se os declives forem muito acentuados e se a chuva for concentrada, se tivermos precipitação concentrada em locais declivosos, podemos ter uma grande escorrência de torrentes de lama”, alertou.
E continuou: “Isto porque, além dos solos não estarem protegidos pela vegetação, também a infiltração vai ser menos porque não há retenção nas folhas, os solos ficam hidrofóbicos e arriscamo-nos a ter problemas bastante sérios”.
Problemas aqueles que podem ser de dois tipo: “Vamos perder solo onde ele faz falta e vai ser muito mais difícil a regeneração natural, ou eventuais reflorestações, e vamos trazer o solo de forma muito abrupta para onde ele pode prejudicar, indo contra casas, pontes, carros”.
Por isso, Bento Gonçalves defendeu que “devia haver um planeamento anual para as áreas ardidas que a jusante tivessem povoações ou infraestruturas que pudessem ser lesadas com enxurradas, e, automaticamente, assim que houvesse o incêndio, [os municípios] procedessem a essas medidas de emergência que deviam constar de um plano municipal de emergência pós-incêndio para a restauração das áreas ardidas, mas infelizmente não é o caso”.
No entanto, “no caso destes incêndios e desta chuva, o caso é diferente”, realçou, porque “foi a chuva que contribuiu para apagar o fogo não dando tempo literalmente nenhum para qualquer medida”.
Mas, disse, há algumas medidas que se podem ainda tomar.
“É muito importante que tentem limpar e desobstruir tudo o que possam ser obstáculos nas linhas de água, as sarjetas o mais limpas possíveis, tentar evitar todo e qualquer obstáculo que possa obstruir a livre circulação de água é crucial”, avisou.
Segundo o investigador, se junto de aldeias caíram árvores ardidas para os leitos dos rios, ribeiros e valas, é preciso tentar desobstruir tudo o que for possível.
É preciso, defendeu, “tentar abrir caminho para que a água de maneira nenhuma faça um barragem e acumule terras, paus, terra que quando rebenta leva tudo à frente”.
A área ardida em Portugal continental desde domingo ultrapassa os 124 mil hectares, segundo o sistema europeu Copernicus, que mostra que nas regiões Norte e Centro já arderam mais de 116 mil hectares, 93% da área ardida em todo o território nacional.
O Governo declarou a situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios dos últimos dias e hoje dia de luto nacional.
Entre 30 a 40% dos apicultores do Norte e Centro com perdas de produção
A Associação dos Apicultores do Norte de Portugal estimou hoje que entre 30 a 40% dos 250 associados tiveram perdas de produção devido aos incêndios que atingiram desde domingo as regiões Norte e Centro do país.
“Ainda estamos a apurar os números reais, mas os incêndios devem ter impactado 15% dos nossos associados com perdas totais de colmeias”, referiu Bruno Moreira, presidente da associação.
Às perdas totais de colmeias soma-se a “perda de potencial produtivo”, ou seja a perda de floresta, que afetou entre 30% a 40% dos apicultores das regiões Norte e Centro.
A Associação dos Apicultores do Norte de Portugal tem cerca de 250 associados, sendo a maioria de Aveiro, Porto e Viseu, distritos que, desde domingo, foram assolados por incêndios de grandes dimensões.
Para “fazer face à perda de pasto”, os apicultores vão ter de procurar novos locais para colocar as colmeias.
Apesar de o Estado ter atribuído um apoio de seis euros por colmeia aos apicultores afetados pelo incêndio que, em 2023, lavrou em Odemira (Beja), Bruno Moreira defendeu que “até hoje nenhum Governo ajudou com a perda de efetivo”, referindo-se à perda de colmeias.
Para o presidente da Associação dos Apicultores do Norte de Portugal, o Estado deve avançar com o ordenamento da floresta, medida que permitiria, posteriormente, criar "zonas próprias para apiários".
"Temos uma série de condicionantes à colocação de apiários, tais como manter 100 metros de afastamento ao edificado em utilização ou 50 metros de afastamento para as vias públicas. Muitas das vezes, com todas as condicionantes legais e geográficas, os apicultores acabam por colocar as colmeias no meio de uma mata", referiu.
Também hoje, em declarações à Lusa, o presidente da Federação Nacional de Apicultores de Portugal afirmou que os incêndios que lavraram em Portugal desde o início do ano provocaram a perda de 9.000 colmeias, o equivalente a cerca de 1,8 milhões de euros.
"Estamos a falar na ordem das 5.000 colmeias com perda total", afirmou Manuel Gonçalves, acrescentando que cerca de 4.000 colmeias foram afetadas porque as zonas de floração onde se inserem arderam.
Balanço deve contabilizar danos no ambiente e contaminações, defende especialista
O consultor ambiental Carlos Costa considerou hoje que, na sequência dos incêndios do Centro e Norte do país, as autoridades devem contabilizar danos no edificado e infraestruturas, mas também prejuízos para o ambiente, incluindo contaminações de solos e águas.
“Muitas vezes o que se inventaria são danos nas infraestruturas ou nas estruturas dos edifícios, mas esquece-se depois os danos ambientais que foram produzidos na contaminação do solo, na contaminação das águas”, afirmou à Lusa o especialista associado da Associação das Empresas Portuguesas do Setor do Ambiente (AEPSA).
De acordo com Carlos Costa, existem zonas industriais mais antigas ou sem tecido empresarial muito qualificado que “podem ter um menor controlo” na gestão dos resíduos, mas também existem “zonas industriais que foram planeadas, que tiveram o seu plano de pormenor inserido dentro do plano diretor municipal, ou de outros instrumentos de gestão territorial, e que estão bem equipadas e bem planeadas”.
“É uma situação muito variada no tecido urbano e periurbano nacional” e muito em particular “na zona Centro e Norte do país, mais litoral”, disse.
Por isso, defendeu o especialista, na “inventariação dos danos produzidos pelo incêndio nessas zonas que possuam instalações que potencialmente podem ter provocado contaminações”, não se devia apenas “olhar para os edifícios ou as infraestruturas que foram consumidas, mas também para o próprio meio ambiente que foi afetado”.
“É importante verificar se existiram derrames importantes de hidrocarbonetos, portanto, de combustíveis, se foram, digamos, queimados bens que potencialmente contêm substâncias perigosas” e se houve “trajetos ou vias de exposição à contaminação dos diversos meios”, salientou.
O antigo professor da Universidade Nova, que coordenou as áreas de geologia e ambiente, explicou que na legislação portuguesa está prevista a responsabilização ambiental, por afetação do solo, águas e ecossistemas, que leva “à necessidade de reparação desses meios”, através da identificação do responsável pelos prejuízos, como serão recuperados ou contrapartidas “para que esses danos sejam de alguma forma ressarcidos em nome do ambiente”.
“É um trabalho que tem que ser feito, no meu ponto de vista, quer pelas entidades municipais, quer pelas comissões de coordenação e desenvolvimento regional [CCDR], neste caso do Centro e do Norte do país”, salientou.
No entanto, o também fundador da Egiamb, empresa especializada em projetos de descontaminação, tem dúvidas de que, nestas alturas, se vá além da “contabilização das perdas diretas”, particulares ou até públicas, não avaliando “as perdas para o ambiente”, nomeadamente dos danos “produzidos nos solos, que porventura tenham sido afetados por derrames, por infiltrações de contaminantes” e da sua “transmissão para as águas”.
Este é, aliás, “um problema bastante grave” na medida em que, muitas vezes, existem poços até “de baixa profundidade, que facilmente ficam contaminados, ou captações” camarárias “que podem ser afetadas na sua qualidade para consumo humano”, frisou.
Carlos Costa enunciou o “exemplo teórico” da empresa com a sua estação de tratamento de águas industriais afetada pela rutura das condutas pelo fogo, levando à dispersão dos resíduos para uma linha de água e para os solos e terrenos agrícolas adjacentes, antes de se infiltrar nos aquíferos.
“Isto é um problema grave, e agora a questão que se põe é quem é o causador desta situação? É o industrial, que porventura até poderia ter a estação a funcionar como deve ser? É, digamos, aquele que provocou o incêndio? Enfim, é muito difícil aqui agora dirimir responsabilidades”, admitiu.
Nesse sentido, Carlos Costa defendeu que, se o Estado tem falta de quadros para resolver o problema, pode sempre recorrer ao setor privado para essa inventariação, tanto mais que o primeiro-ministro disse “que não haveria falta de dinheiro para resolver as questões que resultaram” destes incêndios e existirão fundos europeus que podem “ser mobilizados para tragédias deste tipo”.
Para o associado da AEPSA, embora não querendo analisar a fundo a questão dos danos em meio florestal, também será importante avaliar o arrastamento da matéria orgânica nas encostas devido aos fenómenos de erosão, e às chuvas, bem como das cinzas transportadas para as linhas de água e depois para rios e albufeiras.
“Tudo isto também vai trazer um impacto muito importante na qualidade das águas, não é? E na qualidade dos solos que vão ser atravessados por estes materiais”, acrescentou.
Confagri envia carta a ministro da Agricultura e von der Leyen sobre regras anti-deflorestação
A confederação das cooperativas agrícolas pede ao ministro da Agricultura e à presidente da Comissão Europeia para refletirem sobre o prazo de implementação do regulamento anti-desflorestação.
A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) indica que enviou na quinta-feira uma carta ao ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, apelando que "seja, na próxima reunião de Conselho de Ministros da Agricultura da UE, uma voz ativa e defensora da extrema necessidade de refletir sobre o timing da implementação do Regulamento Anti-Desflorestação”.
Paralelamente, a confederação sinaliza que vai também enviar uma carta à presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, sobre a mesma temática, alertando que, se o regulamento for aplicado no prazo previsto, “poderá causar sérios prejuízos a todos os envolvidos nas cadeias de produção”.
A confederação argumenta que “os atrasos consequentes” de Bruxelas em “disponibilizar orientações específicas, e mesmo em entregar uma plataforma de submissão de dados de rastreabilidade fidedigna e funcional, são uma realidade gritante”.
O presidente da Confagri avisa que se poderá chegar a 30 de dezembro (data estabelecida para a aplicação permanente das novas regras) sem se ter alcançado “uma transição pensada, equilibrada e razoável que não cause impactos negativos na produção nacional e em toda a cadeia de valor”.
“Se vamos continuar a adotar medidas europeias, é essencial não só realizar estudos de impacto que analisem os efeitos das mesmas, mas sobretudo adaptar estas medidas às realidades dos produtores e indústrias de cada Estado-membro e prepará-los, com tempo e minúcia, para estas transições”, acrescenta Idalino Leão, citado em comunicado.
Caso contrário, corre-se “o risco de causar sérios prejuízos no panorama comercial nacional e europeu”, remata.
Na quarta-feira, seis associações empresariais - APED, CAP, FIPA, Centromarca, IACA e APEL - anunciaram que subscreveram um manifesto a apelar à extensão do prazo para a implementação das novas regras anti-desflorestação da União Europeia, que visam proibir a importação de produtos como carne de bovino, café, cacau ou madeira que sejam provenientes de regiões desflorestadas.
No manifesto, as associações alertam que, além da burocracia e dos encargos financeiros, existe um risco real de as micro e pequenas empresas não conseguirem cumprir o regulamento por incapacidade de adaptação, com impacto em toda a cadeia, designadamente no que se refere à produção nacional.
Em resolução fogo que reativou em Sedielos na Régua
O incêndio que sofreu uma reativação esta manhã em Sedielos, Peso da Régua, entrou em fase de resolução pelas 16:20, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC).
No local, segundo informação da página na Internet da ANEPC, permaneciam, pelas 16:45, 75 operacionais e 23 viaturas.
Esta tarde, o presidente da Câmara da Régua, José Manuel Gonçalves, disse à agência Lusa que o fogo lavrava em zona de mato e de pinhal, longe de localidades, e que os meios aéreos estavam a atuar nos locais mais incessíveis para consolidar e travar de vez o incêndio.
Trata-se de uma zona, explicou, de encostas íngremes e de dificuldades de acesso aos meios terrestres.
O fogo que deflagrou na manhã de quinta-feira em Sedielos, no concelho do Peso da Régua, ameaçou casas e mais que duplicou o número de operacionais ao fim da tarde, mas o combate correu favoravelmente e a ocorrência entrou em fase de resolução às 02:21 de hoje, tendo sofrido uma reativação durante a manhã.
Suspeito de seis fogos em Celorico da Beira detido pela PJ
Um jovem de 21 anos foi detido por suspeitas de ser o autor de seis incêndios rurais, ocorridos ao longo de quase dois meses, em Celorico da Beira, no distrito da Guarda, informou hoje a Polícia Judiciária (PJ).
O suspeito, que está indiciado por seis crimes de incêndio florestal, “terá ateado todos os fogos por meio de chama direta, com recurso a um isqueiro próprio, em contexto de mero incendiarismo, motivado pelo gosto de ver os bombeiros em ação de combate a incêndios”, afirmou a PJ, em comunicado hoje enviado à agência Lusa.
“A totalidade das ignições consumiu aproximadamente 20 hectares de mata e floresta, só não tendo atingido maiores proporções graças à pronta e eficaz intervenção do corpo de bombeiros e da população”, adiantou.
A identificação e detenção do jovem foi efetuada pelo Departamento de Investigação Criminal da Guarda da PJ e o suspeito vai ser presente a tribunal para aplicação de medidas de coação.