Entrevista a Horta Osório: "Não me parece que seja verdade que os bancos estejam a ter grandes ganhos"

CNN Portugal , HCL
13 out 2022, 23:42

O gestor deu uma entrevista exclusiva a Maria João Avillez, onde abordou o seu passado, as dificuldades no Credit Suisse e a atual conjuntura económica, sublinhando que está pessimista em relação a 2023

Em entrevista exclusiva à CNN Portugal, o gestor António Horta Osório confessa não acreditar que os bancos estejam a ter grandes ganhos após a crise gerada com a subida da inflação e a guerra na Ucrânia, ainda que tenham “muita liquidez”. Respondendo às perguntas de Maria João Avillez, Horta Osório garante também que os portugueses precisam de se preparar para o “choque” que 2023 trará.

António Horta Osório sublinha que se tem criado uma ideia errada de que os “bancos têm muito dinheiro” enquanto a restante população vai perdendo o seu poder de compra, mas refere que não está de acordo que se diga que os bancos estão a ganhar excessivamente ou a apresentar muitos bons resultados. “Basta ver que os bancos cotados portugueses e em Espanha e França estão a cotar abaixo do seu valor contabilístico, o que tem sobretudo a ver com o facto que a rentabilidade que os bancos estão a ter sobre os capitais - que são muito altos - é inferior ao custo do capital” e, por isso, os bancos estão a “cotar a desconto”.

Os bancos têm muita liquidez, explica o gestor, destacando que isso é importante em termos de segurança. “Mas não me parece que seja verdade que os bancos estejam a ter grandes ganhos porque se vir a rentabilidade dos capitais próprios ela é bastante inferior a 10%”, sendo que o mínimo de rentabilidade que se exige para os capitais próprios de um banco anda à volta dos 10 a 12%.

Questionado sobre as dificuldades que o país atravessa em termos económicos, Horta Osório não deixa de apontar que os Bancos Centrais “foram algo complacentes” com a subida da inflação, mas que agora estão “completamente comprometidos” em controlá-la e isso significa “que as taxas de juro que um dia teriam de subir, estão agora a subir”.

Para além disso, o gestor destaca que o próximo ano será “muito difícil” para Portugal, que é uma “pequena economia aberta” e, portanto, tem “alguma latitude de ajustar os impactos internacionais”, no entanto, “essa latitude é limitada e não há dúvida que infelizmente o agravamento dos preços alimentares, da crise energética muito exacerbados pela guerra na Ucrânia levaram a uma inflação que se está a generalizar e não se deve generalizar - é um imposto oculto e injusto sobre a sociedade”.

Por isso, reitera, os portugueses têm de estar preparados para um horizonte que será mais difícil e que aponta “um crescimento, se ele houver, muito inferior aos anteriores”. “Quanto mais os portugueses tiverem preparados mais se vão conseguir defender, para não terem um choque de surpresa”.

O gestor, que se demitiu no princípio deste ano do Credit Suisse, onde foi presidente do Conselho de Administração, voltou a abordar as contingências que o levaram a abandonar o banco. “Houve uma quebra das instruções da Covid-19 que são complexas entre viagens entre vários países”. Foi, diz, “completamente involuntário da minha parte mas eu completamente assumi e assumo tal responsabilidade”.

Por outro lado, Horta Osório já tinha assumido que, pessoalmente, abandonar o Credit Suisse tinha sido a decisão certa e, em entrevista à CNN Portugal, voltou a reforçar a sua decisão, explicando também como acabou a “gerir o banco de forma mais executiva”, ainda que a sua posição não o determinasse inicialmente. “Isso foi feito com enorme esforço, mas a mudança cultural profunda que o banco precisava implica muitos anos para ser efectuada e essas condições não estavam criadas”.
 

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