opinião
Diretor da CNN Portugal

Costa contra todos

3 jan 2022, 12:56

António Costa está num daqueles momentos-chave provocados pela erosão do poder. A generalidade dos analistas e comentadores acha que o primeiro-ministro, outrora uma solução e um político hábil, é agora um homem em dificuldades, com um temível adversário à ilharga, um lobo solitário que pede uma maioria que nunca teve parecendo viver num mundo em que só ele e os fiéis acreditam. E, no entanto, todas as sondagens mostram Costa à frente, situam o líder do governo como o candidato mais qualificado para as eleições e, em quase todas as variáveis, Rui Rio ainda não surge como alternativa.

Neste exato momento, António Costa já não está nas boas graças da opinião publicada, mas não é nada seguro dizer que esteja condenado junto da opinião pública. Há sempre este detalhe que é a existência do povo e são as pessoas que decidem as eleições. Mas, sim, o jogo está aberto e as semanas que se seguem são decisivas. A televisão, esse meio tão antigo que por vezes se julga anacrónico, vai ter de novo um papel central. O primeiro-ministro, por regra frágil e pouco incisivo em campanha, sabe que, na maratona de debates, todos estão contra ele. Ontem mostrou-se em forma face a Rui Tavares, um adversário com pensamento político estruturado ainda que inexperiente na arena política. Ganhou-lhe com facilidade e bons argumentos, ao contrário do que ouvi e vi escrito.

O dilema de António Costa é também o do seu posicionamento ideológico. Captar votos à esquerda de protesto que o fez cair é essencial, mas sem um programa reformista credível que capte a classe média, alivie a carga fiscal e crie uma nova dinâmica no eleitorado jovem e urbano a maioria é uma miragem e mesmo a vitória pode estar em risco. Se assim for pode apenas queixar-se da sua obstinação. A ideia de que o PS e o governo chegam desgastados às eleições já não é apenas dos analistas, está generalizada e é real.     

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