"Mata-borrão": Costa diz que já lhe chamaram "coisas muitíssimo piores" do que esta que Marcelo lhe chamou

Agência Lusa , CF
12 ago 2022, 15:15

Primeiro-ministro reagiu à entrevista exclusiva do Presidente da República à CNN Portugal

O primeiro-ministro disse esta sexta-feira ter ficado “feliz” com as declarações do Presidente da República, que o qualificou de “mata-borrão”, afirmando que procura aproveitar os contributos de todos e não desperdiçar “as boas ideias que existem para resolver problemas”.

“O facto de haver maioria absoluta não significa que não deva continuar a ter atenção às boas ideias, que outras e outros dão. Se isso é uma função de mata-borrão, para mim é-me indiferente. O que eu não gostaria era de ser um primeiro-ministro que desperdiçasse as boas ideias que existem para resolver problemas”, sublinhou António Costa.

O primeiro-ministro falava em declarações aos jornalistas à margem de uma visita à creche Luís Madureira, na Amadora (Lisboa), tendo reagido às palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que, numa entrevista à CNN Portugal, qualificou António Costa de “bom mata-borrão”, por ser “muito rápido a sugar as coisas”.

Costa disse ter ficado “satisfeito com a avaliação que o senhor Presidente da República fez”, afirmando que “ficaria preocupado” caso Marcelo Rebelo de Sousa “entendesse que o primeiro-ministro, ouvindo boas ideias, não lhes desse ouvidos”.

“O que é que um primeiro-ministro deve fazer? Um primeiro-ministro deve procurar ter boas ideias e deve ouvir as ideias dos outros e, quando as achas boas, procurar aproveitá-las e pô-las em prática”, frisou.

Questionado sobre o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter considerado que os “sucessivos líderes da direita” cometeram um “erro” ao descolarem-se “ostensivamente” dele, ao contrário de Costa, que procurou essa aproximação, o primeiro-ministro disse “não saber o que é isso da colagem”.

“Há uma coisa que eu tenho procurado fazer – fiz, aliás, isso, com o anterior Presidente da República, com quem ainda trabalhei alguns meses, que foi o professor Cavaco Silva – que é manter uma boa relação institucional com o Presidente da República”, sublinhou.

Interrogado se essa ‘colagem’ o tem beneficiado e prejudicado a oposição, respondeu que não lhe “compete fazer análise política”, recordando que já concorreu a três eleições, não tendo ganho a primeira – em 2015 –, mas conseguindo formar um Governo que, de acordo com os sufrágios de 2019 e 2022, mereceram a aprovação dos portugueses.

“Se é mérito do Governo, se há demérito da oposição? Isso aí cada um julgará. Provavelmente as duas coisas: mérito do Governo, demérito da oposição”, sublinhou.

Recordando a sua relação com Aníbal Cavaco Silva, Costa recuou até 2015 para destacar que o início desse relacionamento “não foi fácil”, porque o antigo chefe de Estado “resistiu bastante a que a solução de Governo” da ‘geringonça’ fosse viável.

“Mas, depois, enquanto exercemos os dois as funções em conjunto, eu não tenho nenhum reparo a fazer ao Presidente Cavaco Silva. Creio que ele também não tem”, salientou.

Para exemplificar a “excelente relação” que teve com o antigo chefe de Estado, Costa lembrou que, no último Conselho de Ministros “antes de o professor Cavaco Silva cessar funções”, o convidou a presidir à reunião do Governo.

“O professor Cavaco demonstrou o saber que tinha acumulado em dez anos como primeiro-ministro – foi a pessoa que, até hoje, mais anos foi primeiro-ministro – e, naturalmente, presidiu ao Conselho de Ministros com uma sapiência que eu, na altura, não tinha. Ainda não tenho, que ainda estou muito longe desses dez anos”, recordou.

No que se refere à relação com Marcelo Rebelo de Sousa, com quem teve a “oportunidade de trabalhar muito mais tempo”, Costa também considerou ter tido “sempre muito boa relação institucional e cooperação institucional”.

“Acho que, aliás, aquilo que é dever de todos, e aquilo que os portugueses pedem a todos, é que os órgãos de soberania tenham uma boa relação entre todos”, sublinhou.

Costa disse não crer que “o senhor Presidente da República alguma vez, ao longo destes seus mandatos, tenha visto as suas funções limitadas pela relação que mantém com o Governo”.

“Também não me recordo do Governo ter sido limitado na sua ação para além daquilo que são as competências próprias do Presidente da República e a relação que mantenho com o Presidente da República”, vincou.

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