Na abertura da CNN Portugal Summit, António Costa alerta para a necessidade de a União Europeia repensar as suas políticas de criação de aliados, agrícola e comercial. Embora os líderes condenem atual a guerra na Europa, "esta não é mundial", alertou
O primeiro-ministro, António Costa, alertou esta segunda-feira que “uma Europa protecionista contará com menos aliados”, precisamente na altura em que mais precisa. A declaração foi feita na abertura da cimeira de aniversário da CNN Portugal, num discurso onde o Primeiro-Ministro abordou o papel da União Europeia e das Nações Unidas no contexto da guerra na Ucrânia.
António Costa defendeu que hoje “temos os EUA mais presentes na NATO do que nunca”, após um período onde a nação se encontrava a reavaliar a sua estratégia internacional. De igual modo, também “parece que o Brexit não existiu em termos de defesa e geoestrategia”, argumenta o primeiro-ministro.
O primeiro-ministro salientou que “com a atual arquitetura institucional”, a União Europeia não reúne condições orçamentais para cumprir com as expectativas dos países que querem entrar na EU, destacando a Turquia, e alertando para o risco de implosão.
António Costa defendeu o alargamento da representatividade dos países na ONU, nomeadamente da Turquia e da Índia, e destacou que as Nações Unidas “ficam tolhidas” quando um dos países do conselho permanente, com direito de veto, está envolvido no conflito em causa, aludindo ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Neste sentido, o primeiro-ministro destacou que “a Europa tem de se organizar mesmo em geometrias variáveis”. Embora António Costa admita a existência de países cuja integração significará a entrada no mercado interno e, “muitos deles não desejarão mais do que isso”, o primeiro-ministro sublinha que haverá “outros que desejarão estar no nível de integração que hoje temos”.
Sobre a guerra desencadeada pela Rússia em território ucraniano, e ao contrário do que aconteceu em 1939, António Costa destaca que “esta não é uma guerra mundial”.
Embora os líderes condenem a atual guerra na Ucrânia, esta não é um conflito mundial, o que implica que a Europa reflita sobre as suas relações á escala global, salientou António Costa. “O mundo cresceu, mas a Europa não acompanhou o crescimento do mundo”, pelo que a Europa precisa de uma política de criação de aliados, acrescentou.
O primeiro-ministro defendeu ainda alterações à política comercial e agrícola da União Europeia, alertando que esta última “é a política que cria mais protecionismo na Europa”.
Fazendo alusão ao acordo com o Mercosul, António Costa destacou ainda que a UE não pode ter este acordo bloqueado há décadas. “A América do Sul é a continuação da Europa do outro lado do Atlântico”. “Temos de ter uma politica comercial que ajude a defender os direitos humanos. Mas temos de compreender que politica comercial tem de ser equilibrada”, acrescentou.
"Não há humanidade B"
Referindo-se ainda à transição energética e às alterações climáticas, o primeiro-ministro destacou que “não há planeta B, mas o que não há mesmo é humanidade B”. Apelando ao combate às alterações climáticas, António Costa considerou “muito animador” que a COP27 tenha acabado “sem bloqueios”. "O maior desafio civilizacional que temos é combater as alterações climáticas", argumentou.
Também neste sentido, o primeiro-ministro defendeu a importância das energias renováveis e enalteceu a sua “enorme qualidade”. “Todos podem produzir energias renováveis”, destacou António Costa, embora ressalve que, por oposição, “os recursos naturais não estão tão bem distribuídos como está o sol ou a potência dos rios”. Neste sentido, para acelerar a autonomia, é necessário acelerar essa transição, concluiu o primeiro-ministro.