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A tatuagem de Sérgio Conceição e o 'pecado mortal' de... Jesus

6 mai 2022, 21:58
Sérgio Conceição no Benfica-FC Porto (Mário Cruz/LUSA)

O 'clássico' deste sábado foi esgotado em torno de uma dialéctica de submundo.

Dispensável, como as imensas dialécticas de submundo que povoam o futebol cá da paróquia.

Neste caso, se o FC Porto - em caso de pontuar - deveria festejar o título, ou não, no Estádio da Luz.

Há um artigo regulamentar que atira a entrega do troféu para a casa do campeão na jornada em que matematicamente o título já é uma garantia, o que torna a coisa mais suave e pacífica, sobretudo quando uma conquista desse tipo pode dar-se no estádio de um dos 'grandes', como é o caso do 'clássico' deste sábado, mas o que se passou na Luz, em 2010-11, ainda está na memória de muita gente, porque os responsáveis do Benfica, na presidência de LUÍS FILIPE VIEIRA, com JESUS no comando técnico dos encarnados, decidiram desligar a luz e ligar a rega, o que proporcionou um festival de ironias protagonizadas, desde sempre, por PINTO DA COSTA.

Discutir o direito aos festejos (neste caso do FC Porto) é uma questão que nunca se deve colocar, porque genericamente, no desporto, saber perder e saber ganhar deveria estar subjacente ao desempenho e ao comportamento de qualquer dirigente desportivo.

As 'guerras' entre Benfica e FC Porto, com PINTO DA COSTA e LUÍS FILIPE VIEIRA chegaram a atingir proporções inimagináveis, com os respectivos departamentos de comunicação a fazer rebentar todo o tipo de minas e armadilhas, e foi preciso VIEIRA ser detido e depois libertado sob caução para PINTO DA COSTA manifestar alguma solidariedade ao rival, ao ponto de lhe ter sido permitido gravar um vídeo no Estádio da Luz, o que ainda está atravessado na garganta de muitos milhares de benfiquistas, ainda não recuperados dos efeitos do 'caso dos emails'.

PINTO DA COSTA até anda doce com RUI COSTA, numa óbvia estratégia de isolar FREDERICO VARANDAS, que lhe atirou à cara o que Maomé não disse do toucinho, mas como é habitual num futebol de baixíssima ética -- o maior problema do desporto-rei em Portugal -- logo veio a discussão se o Benfica iria consentir PINTO DA COSTA sentar-se ao lado de RUI COSTA na tribuna presidencial, quando isso nem devia ser tema, uma vez que, com beijos e abraços ou com indiferença e zero de relação pessoal, a partilha do espaço institucional deveria ser por princípio e por norma garantido.

A competição faz-se entre várias equipas, as relações podem ser boas ou más, mas no momento da contenda há mínimos elementares de convivência institucional, acima das tricas pessoais.

Esperemos que não seja isso a dominar o jogo, porque os olhos podem estar nos Costa(s) do clássico, no Jorge Nuno e no Rui, mas estarão sobretudo no SÉRGIO CONCEIÇÃO e no NÉLSON VERÍSSIMO e naquilo que puderem fazer sobretudo OTAMENDI, WEIGL e DARWIN, do lado do Benfica, e PEPE, OTÁVIO, VITINHA e TAREMI do lado do FC Porto.

Os olhos vão estar também, inevitavelmente, na equipa de arbitragem comandada por LUÍS GODINHO (e no tipo de intervenção do VAR, JOÃO PINHEIRO) e sobre este tema é conhecida a minha posição há anos.

Apesar dos fingimentos e até um certo corporativismo da classe, que não quer ver as regalias fugirem, os árbitros portugueses não têm condições para dirigir jogos nos quais a pressão é maior.

Eles são super pressionados dentro e fora das quatro linhas e num país pequeno isso torna a sua actividade muitíssimo condicionada, com graves consequências para a verdade desportiva.

Este é um dos tais jogos que pedia a solicitação de uma equipa de arbitragem integralmente estrangeira, mas infelizmente não vai ser assim.

A componente de imprevisibilidade do futebol está presente, e é isso que torna a modalidade tão atractiva, mas normalmente a qualidade impõe-se e é nisso que se tem de trabalhar: procurar modelos de sustentação de gestão assentes na qualidade do trabalho e menos (muito menos!) em aspectos marginais.

O FC Porto é favorito neste jogo.

Em primeiro lugar, porque há dois desfechos que lhe convém: a vitória e o empate.

Em segundo lugar, porque o FC Porto tem uma equipa muito mais entrosada sob as ordens de um treinador (SÉRGIO CONCEIÇÃO) que colocou uma tatuagem nos jogadores por ele comandados e essa tatuagem é impressiva, não sai da pele nunca mais.

É quase tão eficaz, na marca que deixa, quanto um ferro em brasa na pele.

É uma espécie de reconhecimento de identidade.

O Benfica não tem isso, tem alguns bons jogadores e, por não ter essa identidade a que outrora se chamava mística e era conhecido pelo futebol 'à Benfica', nunca se sabe muito bem o que vai sair dali.

O FC Porto tem sempre o compromisso e mais alguma coisa.

O Benfica só às vezes tem o compromisso e nem sempre mais alguma coisa.

Sim, também é uma questão cultural e isso explica muito dos sucessos do FC Porto e da influência de SÉRGIO CONCEIÇÃO que, com menos recursos, tem conseguido afirmar supremacias.

Sim, o FC Porto tem uma base mais sólida; o Benfica perde muito tempo a caracterizar modelos e estratégias, é uma canseira.

O Benfica, este sábado, tem outra coisa menos positiva: a 'revolução' no plantel está em todas as páginas dos jornais, jogadores que vão sair e vão entrar e isso não é bom quando se faz o apelo ao compromisso.

Alguém que subconscientemente, num ambiente destes, possa dizer 'corre tu!' Nunca é bom para a afirmação de uma equipa. E isso só acontece quando a cultura competitiva não está enraizada, como é o caso do Benfica e não é o caso do FC Porto.

Aliás, o apelo ao compromisso nunca se deveria fazer, a não ser internamente e não confessadamente.

Quando RUI COSTA, num jogos destes, precisa de ir à cabina pedir compromisso alguma coisa está profundamente errada.

Isso significa que o Benfica não está em condições de vencer o jogo?

Não.

Já vimos, esta época, um pouco de tudo com o Benfica, com e sem NÉLSON VERÍSSIMO.

O Benfica de JORGE JESUS desagregou-se quando muitos perceberam que o treinador perdeu a autoridade no balneário, e isso decorreu do facto de nunca ter despido a camisola de VIEIRA, mais do que a camisola do Benfica.

JESUS, no Brasil, decidiu falar. E, mais uma vez, se percebeu que JESUS tem uma grande propensão para o pecado.

Diz coisas, nem todas verdadeiras, que fazem sentido na sua cabeça e de mais ninguém, como aconteceu agora com representantes da imprensa brasileira.

Ele é singular na sua forma de preparar e orientar equipas mas tem um lado implacável nas relações com as pessoas e com o Mundo, mesmo aquelas que, trabalhando nas proximidades, fazem tudo para cumprir.

Naquilo que disse do outro lado do Atlântico mostrou o seu lado mais fraco: a incapacidade para perceber que deve haver uma ética no trabalho.

O que fez a PAULO SOUSA, colocando-lhe uma espécie de prazo de validade no Flamengo, é uma indecência. A mensagem do tipo "se me quiserem terá de ser até ao dia 20" é uma coisa inaceitável.

A cobiça é um pecado.

O Benfica viveu uma 'era JESUS', precisa de expiar os seus próprios pecados (à margem dos cometidos por JESUS) e tem neste jogo com o FC Porto uma antecâmara difícil junto dos seus adeptos.

Uma antecâmara de uma 'nova ordem', impossível de determinar se RUI COSTA vai conseguir impô-la no futebol do Benfica. Sem JESUS e sem NÉLSON VERÍSSIMO.

A vitória frente ao FC Porto é necessária para construir o futuro com um mínimo de ambiente.

É isso que o Benfica precisa de assegurar, com qualidade e competência, e dar menos importância, como terá dado sinais durante a semana, ao facto dos festejos e à presença (seja onde for) de PINTO DA COSTA.

Só o jogo interessa e a dignidade que nele se deve expressar. Nada mais e sempre.

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