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O ‘xi-xi’ de Rui Costa nos 'laboratórios-Vieira'

12 mai 2022, 19:58
Rui Costa

Rui Santos escreve sobre rãs, escorpiões, raposas e galinheiros. E deixa um aviso ao presidente do Benfica

Leio que o presidente do Benfica, RUI COSTA, voltou a “assumir as responsabilidades” pela má época desportiva realizada pelos ‘encarnados’, no plano doméstico. 

Já o tinha feito várias vezes (em fevereiro conto pelo menos em duas ocasiões) e, agora, no evento corporate, voltou a auto-responsabilizar-se pelo desaire a nível interno.

Acrescentando: “ambiciono um Benfica que honre a sua história e os valores dos nossos fundadores”.

É uma frase forte, que os adeptos com memória ou conhecimento histórico gostam de ouvir, mas significa pouco se RUI COSTA não conseguir avançar com a blindagem da sua estrutura e romper com alguns vícios ou dinâmicas do passado que continuam a corroer a imagem do Benfica.

RUI COSTA já disse várias vezes que se responsabiliza mas sabe que o tempo da auto-responsabilização não tem um tempo ilimitado.

Para uns até já cessou, porque acham que RUI COSTA já teve tempo para demonstrar que não se consegue afirmar pela diferença, mas o relógio não vai parar.

Talvez seja uma visão demasiado radical e 2022-23 vai constituir-se na primeira época em que RUI COSTA apresentará as suas escolhas, juntamente com LOURENÇO COELHO, que havia sido esvaziado por LUÍS FILIPE VIEIRA e DOMINGOS SOARES DE OLIVEIRA.

Um clube que está - como dizer? - intervencionado pela justiça e ainda continua sob os efeitos da presidência de VIEIRA, sendo hoje indiscutível que o atual e o ex-presidente do Benfica viviam numa falsa convergência ou, se se quiser, numa convergência divergente, útil para ambas as partes, precisa de definir o seu rumo.

RUI COSTA tem um problema: não tendo feito a separação à nascença que deveria ter imposto nas suas escolhas para a direção e para a SAD, acabando nesta de ter de levar com essa figura do co-CEO que é uma espécie de metáfora para não ter de se sujeitar à decorrência formal da afirmação de DOMINGOS SOARES OLIVEIRA como (único) CEO, à boleia da ala feminina da SAD, o presidente dos encarnados está sob vigilância do que resta do vieirismo na Luz e no Seixal.

Esse é, de facto, um grande problema.

RUI COSTA espirra e passados trinta segundos VIEIRA sabe.

E não é só saber que RUI COSTA espirrou.

Se VIEIRA quiser saber se o espirro resulta de uma mera alergia ou de uma constipação ou se pode ser algum sintoma eventualmente associado à covid, salvo seja, haverá quem rapidamente leve RUI COSTA ao "laboratório" para fazer análises e os resultados são rapidamente obtidos com conhecimento de VIEIRA.

Quer dizer: descontando os respetivos exageros, mas acentuando a mensagem, se RUI COSTA for à casa de banho fazer 'xi-xi' VIEIRA sabe e até saberia, se fosse caso disso, o resultado de um forçado mas consentido controlo antidoping.

Em qualquer organização é de elementar compreensão que um líder para se afirmar tem de se reunir de pessoas que, concordando com o projeto, lhe garantam solidariedade, sobretudo quando estamos a falar objetiva ou subjetivamente de mudança de rumo e, neste momento, apesar da tentativa de blindagem, o terreno ainda está muito minado, de dentro para fora e de fora para dentro.

Era preciso cortar radicalmente com as dinâmicas que alimentaram as lógicas de VIEIRA na esfera da intermediação (por exemplo, a influência de PAULO GONÇALVES na compreensão do fenómeno e das suas lateralidades teve um tempo, mas a transformação em empresário não foi boa para a imposição da marca-Benfica sob pressupostos diametralmente diferentes) e RUI COSTA não deveria hesitar na definição do lado em que está para o saneamento das más práticas no futebol em Portugal.

RUI COSTA não fez a limpeza que se impunha e deveria ter assegurado a compreensão de um projecto associado a uma estratégia, com escolhas seletivas e criteriosas nos domínios da gestão e da governação, do cumprimento das normas (compliance), do funcionamento do futebol nas suas diversas dimensões e ainda da comunicação.

Ao não ter feito essas escolhas e expondo-se à erosão do pós-vieirismo (sem-mas-com-VIEIRA), RUI COSTA está agora dependente do que acontecer no futebol na preparação da próxima época e nos primeiros meses da temporada desportiva.

Com um plantel completamente remodelado e um novo treinador, ROGER SCHMIDT, escolhido pelo presidente e por LOURENÇO COELHO e fora do alcance de RUI P. BRAZ; com uma almofada financeira pouco confortável que se vai compor com a venda de DARWIN e provavelmente de GONÇALO RAMOS, em distintas dimensões negociais; com o desejo de não se arranjar espaço para jogadores que têm dado muito pouco ao Benfica; e ainda com regressos icónicos, RUI COSTA acredita que a responsabilização pelo insucesso desta temporada ainda lhe vai render frutos.

Pode ser um sonho, um desejo ou uma convicção.

Talvez RUI COSTA não acredite em fábulas (a da rã e do escorpião e a da raposa dentro do galinheiro), mas se fosse a ele teria algum cuidado quando fosse fazer xi-xi.

A cor do xi-xi de RUI COSTA está a ser analisada neste momento nos laboratórios-VIEIRA. E talvez até lá esteja uma câmara e um escrevinhador biógrafo, que já se sabe não ser co(n)finadamente o ANDRÉ VENTURA.

É que o xi-xi de RUI COSTA, a partir de agora, corre o risco de ser notícia com uma daquelas frases fortes em rodapé. E que gira (bem) fica, para gáudio de tantos distraídos, se RUI COSTA não se põe a pau.

Mau, mau.

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