opinião
Colunista e comentador

Nabeiro e as “Tabrobanas” do nosso futebol

24 mar 2023, 18:54
Campomaiorense (Foto Livro Campomaiorense: das origens à atualidade)

Rui Santos escreve sobre Rui Nabeiro e diz que o País (também futebolístico) se devia concentrar no seu exemplo

Quando se nos deparam exemplos magníficos como o de Rui Nabeiro e olhamos à nossa volta, em Portugal, chegamos à conclusão de que faltam líderes ao País e que a crise da qual não nos conseguimos livrar, nem agora nem nos próximos anos, pelo andar da carruagem, por causa da cegueira que provocou e ainda provoca o primado da ganância, tem uma causa essencial: o desprezo que, nas horas dos salamaleques, quase todos mui artificiais, as pessoas dedicam às pessoas.

Foi isso que Nabeiro fez durante toda uma vida: dirigir-se às pessoas, procurar satisfazer as suas expectativas, nem que fosse através do desejo de não ter vergonha de… sorrir.

Como diria o ‘nosso’ Guerreiro, guerreiro, sim, e em todas as frentes, as pessoas não são números, os funcionários são em primeiro lugar seres humanos, com problemas e legítimas ambições, e Rui Nabeiro, durante toda a vida, fez uma coisa que parece basilar e normal, tornada cada vez mais difícil de concretizar, isto é, olhar para os projectos através e a partir das pessoas.

Com uma humildade cativante.

Fazem falta (mais) Nabeiros à política, ao empresariado e a sectores onde a ganância e a lógica do ‘vale tudo’ está fortemente enraizada, como é o caso do futebol.

Veja-se o exemplo de Rui Nabeiro em Campo Maior.

Colocou Campo Maior no mapa do Alentejo e do País através do crescimento de uma empresa que começou num grão de café para se expandir numa proporção que poucos ousariam calcular ou mesmo apostar.

A sua ligação ao futebol aconteceu também com conta, peso e medida. Sem megalomanias ou expedientes duvidosos. 

Quando percebeu que o futebol profissional no Campomaiorense só servia para torrar dinheiro ou para pagar um preço demasiado elevado por um grão (outra vez o grão) de protagonismo, manteve o clube ligado à actividade desportiva, mas longe dos holofotes e das dinâmicas da chamada ‘indústria’.

Essa ‘indústria’ para a qual os barões devidamente assinalados fizeram da Taprobana a sua praia suja e imunda.

Deu condições aos jovens da região para manterem e continuarem a actividade desportiva, e não apenas no futebol, e não precisou de destratar alguém para se sentir dono. 

Dono(s) da pretensão de capturar a liberdade dos outros.

Rui Nabeiro foi livre à sua maneira, até ao último suspiro. Deixa uma obra única e será sempre lembrado como um Homem bom. Que se deu ao respeito para ser respeitado.

Um cidadão em quem Portugal se devia inspirar para o futuro. E não apenas no futebol, em que o dirigismo desportivo deveria fazer como o Campomaiorense: dedicar-se à formação.

Colunistas

Mais Colunistas

Patrocinados