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Colunista e comentador

A ‘Nova Senhora’ da Luz de salto alto mas também de ‘faca na liga’

26 out 2022, 20:20
Benfica-Juventus

Rui Santos realça os méritos da ‘Excelentíssima Equipa do Benfica’, depois de ter conseguido o apuramento para os oitavos da Champions. O comentador da CNN/TVI diz que o futebol é muito volúvel e que as dinâmicas mudam depressa, mas encontra no futebol dos ‘encarnados’ uma marca impressiva — a ‘tatuagem’ colada à pele através do futebol ambicioso de Roger Schmidt

A Juventus é a ‘vecchia signora’ no universo da bola e, apesar da crise que a assola, até com processos na justiça italiana e um desempenho modesto na Liga transalpina, saiu da Luz com alguma compostura, à boleia do súbito apagão de Bah, depois de ter exibido as suas varizes e nódoas negras na sequência do atropelamento de que havia sido vítima na Segunda Circular.

A ‘vecchia signora’ saiu do reduto dos encarnados com uma máscara de oxigénio, fora da ‘Champions’, com a compostura possível e, em contraponto com a expressão que lhe deu nome e prestígio na Europa do futebol, viu nascer na Luz, numa noite de grande espectáculo, a ‘Nova Senhora’ do futebol português - a Excelentíssima Equipa do Benfica.

Uma ‘Nova Senhora’, vestida pelo ‘estilista’ Roger Schmidt, que está em verdadeiro estado de graça, depois de ter aproveitado o que o anterior guarda-roupa (leia-se plantel) do Benfica já exibia, acrescentando-lhe algumas peças de grande valor no universo da ‘alta costura’.

Poderá estar o leitor a pensar e até a questionar: não sabe que o êxito do futebol pode ser efémero e que a ‘Nova Senhora’ poderá cair, a qualquer momento, do seu salto alto?

Sei, mas primeiro eram o Midtjylland e o D. Kiev que não eram testes a sério; depois as unhas mal cuidadas nos jogos com o P. Ferreira e o Vizela a adensar a ideia de que as meias de vidro se podiam partir (ou rasgar) a qualquer momento; depois o Maccabi (estreia esta época na Champions) que representava uma espécie de ‘pronto-a-despir’ do futebol; o empate em Guimarães — depois do triunfo em Turim — ainda veio colocar questões do tipo, se as ‘jóias’ de Schmidt não eram, afinal, pechisbeque, até que surgiu o momento do confronto com a ‘haute couture’ de Paris (PSG).

Ainda não era, contudo, o momento do reconhecimento total da transformação e do valor demostrado por esta nova versão do Benfica. Faltava o FC Porto. O momento da primeira grande confrontação da época: no estádio do Dragão, debaixo de condições de pressão e temperatura únicas e inigualáveis.

Foram vezes consecutivas em que a ‘Excelentíssima Equipa do Benfica’ não caiu do seu salto alto, mas que não teve nenhum problema em vestir um fato-macaco e sujar as unhas com óleo. Porque na mecânica de Roger Schmidt não há nem apenas estética (nem apenas ética); ela pressupõe meter a faca na liga, que significa competir, competir, competir — e essa é, de facto, a tatuagem que o alemão colou à pele do Benfica.

É por isso que, neste momento, faz sentido o rótulo de “Nova Senhora”. Porque ela, com a sua, como dizer?, griffe operária, conseguiu o apuramento para os oitavos da Champions com um futebol positivo, ambicioso, muitas vezes espectacular.

A “Nova Senhora”, nascida agora na Luz, pode cair do salto alto? Claro que pode. Mas já foi colocada à prova e, neste momento, ninguém conseguiu rasgar-lhe as vestes nem explorar-lhe as transparências.

Não merece elogio?!… 

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