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Ah e tal, o Schmidt ainda não ganhou nada?! Perdão: o Schmidt ganhou respeito e colou-o à pele do Benfica

14 out 2022, 17:39
Roger Schmidt

Rui Santos explica porque não acha prematuro falar-se desde já da renovação do contrato do treinador alemão, após cinco meses de trabalho na Luz. Não ganhou nada?! Ganhou, e muito! Ganhou aquilo que o Benfica mais precisava, para além das vitórias

Ah e tal ainda não ganhou nada e já o estão a colocar nos píncaros da lua?! É o que se ouve e chegam-me ecos disso para se fazer crer que o ‘êxito’ de ROGER SCHMIDT no Benfica é 70% propaganda — aquela propaganda que escorre no audiovisual como o suor que escorre do rosto e do corpo quando se correm quilómetros — e 30% de mérito do alemão.

Pois, já sei, lá vem a embirração por causa da utilização do vocábulo ‘êxito’, apesar das aspas, porque as aspas para muitos não salvaguardam a ideia de que está tudo por vencer — e é no momento das vitórias que as aspas devem ser retiradas e os elogios rubricados.

…e se ele não for campeão?!!!

O futebol é como uma viagem de barco, que tem uma rota e paragens para (re)abastecimento, um ponto de partida e um ponto/porto de chegada; o mar pode estar chão e pode estar agitado e o comandante tem uma palavra importante na condução da embarcação, mas está muito dependente de ventos e marés e outros factores  — uns que controla e outros não.

ROGER SCHMIDT tem controlado muito bem, até à data, tudo aquilo que está ao seu alcance e ainda não chegou ao ponto que os benfiquistas mais desejam, a recuperação do título de campeão nacional, a fugir há três épocas, e o regresso às boas prestações europeias.

…e o que controla SCHMIDT? Controla o futebol que quer ver a equipa jogar, controla até certo ponto a entrada de jogadores para o plantel que podem dar mais qualidade ao desempenho do colectivo  e há uma coisa que o alemão tem controlado muito bem e que resulta do seu espírito agregador.

Exacto: agre-ga-dor!

Nós temos uma ideia genérica do “ser português” como outros têm uma ideia da nossa clássica idiossincrasia. Como temos uma ideia do “ser alemão" que nem sempre é compatível com a ideia de que os germânicos têm de si próprios.

O tema será sempre discutível mas ROGER SCHMIDT corresponde ao padrão naquilo que tem a ver com o grau de organização, ordem, disciplina, rigor e exigência que os alemães costumam colocar em quase tudo o que os envolve — e que muito já beneficiou o Benfica, daí a utilização do vocábulo ‘êxito’, com aspas — mas tem uma outra coisa que me parece muito relevante e assume uma importância extrema quando estamos a falar de uma abordagem a uma mentalidade latina e latino-americana e se materializa, neste contexto, numa incomum capacidade agregadora.

Ainda não sabemos, aqui em Portugal, como é ROGER SCHMIDT em contexto de derrota e de discórdia — uma coisa leva à outra — mas até ao momento essa capacidade agregadora, quando estamos perante mentalidades tão diferentes e por isso potencialmente conflituantes — é verdadeiramente notável, assim muito aproximada àquela que o sueco SVEN-GORAN ERIKSSON conseguiu quando, nos anos 80, chegou ao Benfica e começou a mudar a mentalidade vigente, alcançando todavia os títulos que o alemão ainda não conseguiu.

É claro que, depois de um começo fulgurante, na Liga e na Liga dos Campeões, correspondendo igualmente a um arranque atribulado do FC Porto ‘de CONCEIÇÃO’ e a um outro ainda mais atribulado do Sporting ‘de AMORIM’, tudo o que não seja vencer significará desolação e frustração, e a palavra fracasso sairá — já o sabemos — das línguas mais afiadas.

É preciso olhar, no entanto, para o que está feito e perceber, internamente, se ROGER SCHMIDT é o homem certo para recolocar o Benfica no plano em que deve estar: no plano de uma estabilização no trabalho, com a mentalidade e a postura certas, numa espécie de ‘ano zero’ de limpeza a vários níveis, que já começou mas está longe de se apresentar concluída ou se deve ser mais um treinador à espera que a bola bata na barra e seja queimado num ‘roast’ da mais pura maledicência.

É nisso que RUI COSTA se deve concentrar, se quer continuar a operar a revolução mais tranquila que iniciou desde que SCHMIDT lhe deu, no balneário, a tranquilidade para se ocupar de outras coisas.

Se o Benfica se revê no treinador que contratou, exactamente por ver nele o homem capaz de forçar a mudança a partir do balneário e do exemplo que a partir dele pode dar, então deve perceber que a carreira que o alemão está a fazer na Liga dos Campeões pode fazer salivar um qualquer “tubarão” das águas europeias — e não será difícil tirá-lo da Luz, mesmo que o técnico dos ‘encarnados’ esteja muito feliz (e está, pelo que sabemos), uma vez que a cláusula de rescisão não ultrapassa os 10 milhões de euros.

Ah e tal, e se perde com o FC Porto no Dragão?! Lá se vai a estrelinha, o “êxito” e as aspas do êxito.

Sim, e mais digo: era precisamente num contexto de adversidade no Dragão que lhe renovaria o contrato, aumentando-lhe a cláusula de rescisão, se de facto aquela que é a perspectiva interna de “um grande treinador” não seja apenas uma realidade fabricada por aquilo que não se vê.

Ah e tal, o Schmidt ainda não ganhou nada?!

Perdão: o Schmidt ganhou respeito e colou-o à pele do Benfica. O Benfica precisava dessa injeção de respeitabilidade como de pão para a boca. E estava difícil entre vieirismos e tantos outros maneirismos.

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