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Colunista e comentador

O novo secretário de Estado do Desporto foi almoçar ao Dragão, porquê?

29 abr 2022, 15:52
João Paulo Correia (Facebook/João Paulo Correia)

O FC Porto é um grande clube.

O FC Porto prepara-se para conquistar o título de campeão nacional e provavelmente a ‘dobradinha’, com todo o respeito pelas possibilidades do Tondela.

O FC Porto, no espaço da Champions, tem sido o mais importante representante do futebol português.

O novo secretário de Estado do Desporto, outro JOÃO PAULO, este CORREIA e não REBELO, completa este sábado 30 dias de actividade como governante e já revela aquilo a que se pode chamar problemas de agenda.

Na verdade, não são apenas problemas de agenda. É uma preocupante visão sobre ‘isto tudo’.

‘Isto tudo’ aplicado ao Desporto e, concretamente, ao Futebol.

Não é bom que JOÃO PAULO CORREIA, no seu arranque, já tenha problemas de agenda e de visão.

Esses problemas são tão mais intrigantes na medida em que o Desporto saiu da tutela do ministério de Educação para integrar o dos Assuntos Parlamentares, sob a chefia de ANA CATARINA MENDES, que vinha sendo líder parlamentar do PS, conferindo portanto e em tese um maior peso formal e orgânico na ligação ao primeiro-ministro ANTÓNIO COSTA.

‘Olho’ então para a agenda do novo secretário de Estado da Juventude e do Desporto e o que vejo?

30/3 - Tomada de posse do XXIII Governo Constitucional;

08/4 - Visita à sede da Liga, sob a presidência de PEDRO PROENÇA;

21/4 - Visita à sede da FPF e à Cidade do Futebol, sob a liderança de FERNANDO GOMES;

28/4 - Visita ao Estádio do Dragão para um almoço com o presidente PINTO DA COSTA.

A ordem dos factores nestes casos não deve ser arbitrária e deveria obedecer a critérios, sob pena destas visitas, face às primazias, serem mal interpretadas.

Compreendo que, num início de mandato, o titular da pasta do Desporto se queira reunir com alguns interlocutores que têm um papel relevante no futebol em Portugal.

JOÃO PAULO CORREIA não chegou agora de Marte e, portanto, sabe muito bem qual é o ambiente que grassa no futebol português há décadas.

Sabe o titular do Desporto, igualmente, que estão em curso uma série de processos judiciais que colocam sob suspeita algumas figuras históricas da bola indígena.

O futebol em Portugal está longe de ser uma actividade regulada e a autonomia do movimento associativo não se tem realizado com responsabilidade, havendo quem dentro dele reivindique a intervenção política, do próprio Governo.

Os eleitores e os adeptos que pugnam por um futebol limpo e transparente, capaz de reprimir e isolar os casos de corrupção, branqueamento de capitais, abuso de confiança e outros crimes associados a uma actividade que faz circular muitos milhões de euros, andam há décadas à espera de uma figura que tutele o Desporto com a distância e a firmeza necessárias para actuar de acordo com um plano menos romântico, indiscutivelmente menos permissivo e muito mais eficaz.

O que faz, neste contexto, o novel secretário de Estado do Desporto? Vai primeiro à Liga e só depois à FPF e escolhe PINTO DA COSTA como o seu primeiro interlocutor na esfera dos presidentes dos clubes.

Não me venham com o argumento de que isso não tem importância nenhuma. O problema de Portugal e dos portugueses é que nada tem importância.

Não têm importância as centenas de milhões de euros que LUÍS FILIPE VIEIRA não pagou ao BES e que os contribuintes estão a pagar.

Não têm importância as milionárias indemnizações que são pagas a quem não soube zelar, nos bancos, pelo interesse da comunidade em geral; não interessa o perdão de dívida a alguns barões devidamente assinalados.

Mesmo sob o princípio da presunção de inocência, não tem importância nenhuma a suspeita de que há figuras com passado histórico no futebol português que se tenham aproveitado das suas posições para fazer fortuna.

Nada parece interessar.

Apetece dizer que só interessam os ‘roubos de igreja’ dos árbitros e das arbitragens.

O critério de preferir dar primazia a um almoço com PINTO DA COSTA no Estádio do Dragão também não pode ser justificado através das más relações que existiam entre o FC Porto e o ex-secretário de Estado do Desporto, JOÃO PAULO REBELO.

JOÃO PAULO CORREIA saberá, porque está na Terra e não em Marte, que PINTO DA COSTA não é muito tolerante com quem não é subserviente com o seu próprio alinhamento.

PINTO DA COSTA é uma pessoa afável mas tremendamente intolerante para quem não lhe presta vassalagem.

JOÂO PAULO CORREIA será bestial enquanto fizer o que PINTO DA COSTA quer e passará a ser uma besta quando alguma das suas propostas (como a da revisão do IVA) não tiver acolhimento do Governo.

Ou o sr. secretário de Estado foi fazer voluntariamente um exercício de genuflexão e isso não abona nada a seu favor, excepto junto daqueles que adoram o beija-mão ou então terá do ‘espírito de missão’, que confessou querer protagonizar quando foi conhecido o seu nome para a pasta do Desporto, uma interpretação não muito condizente com as necessidades reformistas do desporto-rei.

Diga-me lá, sr. secretário de Estado do Desporto, não teria sido muito mais exemplar e curial ser o sr. secretário de Estado a convidar os presidentes dos clubes para o seu gabinete ou, na falta de resposta deles, habituados a não serem muito sensíveis a questões de respeito institucional, reduzir os convites aos presidentes da FPF e da Liga (por esta ordem) e já agora ao COP?

Isto não é nada contra o FC Porto (nem contra o reconhecimento da hospitalidade) ou, no caso concreto, contra o presidente PINTO DA COSTA.

O mesmo principio aplica-se a RUI COSTA, FREDERICO VARANDAS, ANTÓNIO SALVADOR ou qualquer outro líder de clube da lusa pátria.

Isto anda tudo ao contrário e, de facto, não me parece que este seja um bom caminho para se conseguir alguma normalidade.

NOTAS (de e para o fim-de-semana) - Primeira nota: eu percebo a indignação do treinador PAULO SÈRGIO, que nem sequer devia conhecer o artigo 63 do Regulamento Disciplinar da Liga, segundo o qual prevê como corrupção a”apresentação de uma equipa notoriamente inferior ao habitual” ou os efeitos decorrentes da aplicação do artigo 97. Mas o treinador PAULO SÉRGIO, e outros que possam ter feito uma ‘gestão’ similar, também devem compreender que estão inseridos numa competição profissional em que deve ser salvaguardada, com todo o rigor, a sua integridade. O problema é que isto é há décadas tudo “à vontadinha” e raramente há consequências. Quando há ou se ameaça que pode haver, lá vêm os esgares de indignação e os queixos caídos de admiração.

Segunda nota: o que anda a fazer a Comissão de Instrutores da Liga? O seu silêncio e a forma como (não) faz andar os processos começam a carecer de urgente explicação.

O que aconteceu no FC Porto-Sporting, há dois meses e meio, com os elementos que tiveram um comportamento inaceitável fora das quatro linhas e ligados à promoção do jogo, não deveria ter tido consequências quase imediatas? Estão à espera do quê?

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