Com "o afastamento repentino dos cuidados, há sempre consequências", sejam motoras ou emocionais
Nesta época do ano, as famílias têm o hábito de ir de férias. Por vezes, os locais que escolhem não aceitam animais e os donos deparam-se com uma questão inevitável: onde é que vou deixar o meu animal de companhia? Várias famílias acreditam que deixar o animal em casa é a melhor opção, mas não é bem assim. Além de questões jurídicas, os animais podem sofrer mazelas ao serem deixados sozinhos.
O Provedor Municipal dos Animais de Lisboa, Pedro Emanuel Paiva, explica à CNN Portugal que, quando um animal é deixado em casa, existe um “afastamento repentino dos cuidadores, há sempre consequências. É o interromper de um ciclo de forma abrupta, negativa”.
O período de férias é “complicado para os animais devido à quebra das rotinas e alteração da dinâmica familiar”, afirma a veterinária com interesse em comportamento animal Sofia Costa, do AniCura Restelo Hospital Veterinário.
Uma das formas de amenizar a situação é garantindo que o animal tem contacto com outra pessoa. O facto de existir outro vínculo facilita todo este processo de separação, o que evita um impacto tão grande, contribuindo para o bem-estar do seu companheiro. “Muitas vezes, outro vínculo ajuda no momento da separação, se não houver, é natural que o impacto seja mais nefasto”, afirma o provedor.
Apesar de não ser possível medir com rigor o quão prejudicial é para o animal a ausência do cuidador, esta “medição” pode ser feita através do comportamento dos animais. Por vezes, os animais apresentam estereotipias como destruir objetos, alguns comportamentos no âmbito de se automutilarem e até deixarem de comer, afirma o provedor. No caso dos cães, os comportamentos mais comuns são “ladrar excessivo, destruição, urinar ou defecar, arfar ou lamber os membros anteriores”, afirma a veterinária. “No gato, urinar ou defecar fora da caixa de areia e lambedura excessiva. Anorexia nos primeiros dias ou redução da ingestão é um sinal muito comum”, acrescenta.
O que são estereotipias?
Estereotipia é “qualquer comportamento motor ou emocional que acontece de forma repetitiva e, à partida, sem motivo aparente”, explica o provedor. Estes tipo de comportamentos não tem nenhuma funcionalidade, ou seja, não contribui positivamente para o desenvolver ou bem-estar do animal, serve simplesmente para chamar a atenção de alguém.
A apresentação deste tipo de comportamento “advém de um determinada necessidade e que não está a ser cumprida. Nos animais de companhia está muito ligado à patologia da ansiedade de separação”, acrescenta.
Mas isto acontece a todos os animais?
“Depende de todo um contexto, a forma como o animal está vinculado ao cuidador”, afirma Pedro Emanuel Paiva. Além disso, as rotinas e alguns cuidados extra podem “ser danosos” para o animal caso se percam pela ausência dos donos durante um período.
Existem ainda características específicas de cada espécie que podem influenciar este vínculo ao cuidador, assim como o fator idade - os cachorros precisam de mais atenção, mas um cão sénior tem as experiências e, por vezes, a ligação é maior.
O ideal é nunca deixar o animal mais de seis horas sozinho devido a necessidades básicas, questões jurídicas e de segurança. Caso não consiga mesmo levar o animal de férias e queira deixá-lo em casa, o provedor afirma que é necessário garantir que haja visitas, pelo menos, duas vezes por dia, de modo a “no caso do cão, promover os seus passeios e mais momentos de interação, e no caso do gato para poder sentir alguma companhia”. A veterinária acrescenta que “o local onde ficam e a companhia durante as férias influenciam em muito o seu bem estar”.
E as tartarugas? E os peixes?
Animais de outras espécies, principalmente espécies exóticas - como o caso das tartarugas - é necessário, acima de tudo, ver as recomendações dadas por um veterinário especializado nestas espécies. O profissional irá indicar quais os cuidados a ter e aconselhar “de forma a salvaguardar tudo o que possa ser necessidades destes animais durante o período de férias”, afirma o provedor Municipal dos Animais de Lisboa.