"Nunca irritem os ucranianos". Há cada vez mais campanhas de crowdfunding para comprar material militar para a Ucrânia

13 out 2022, 18:00
Doações Ucrânia

Zelensky pede apoio ao Ocidente, mas povo não fica de braços cruzados. Na Ucrânia e além fronteiras as campanhas de angariação de fundos juntam dinheiro para entregar às forças armadas equipamentos como drones, estações de controlo e até tanques

A guerra na Ucrânia tem sido marcada pelos sucessivos pedidos de ajuda de Volodymyr Zelensky ao Ocidente, para que enviem apoio monetário, mas sobretudo armas, equipamento militar e, mais recentemente, defesas antiaéreas.

Mas, enquanto o material militar vindo do Ocidente não chega, há quem arregace as mangas e, à semelhança do que foi feito no início da guerra, dê início a campanhas de angariação de fundos para comprar tudo o que for necessário para ajudar os ucranianos a fazer frente à guerra: de combustível a tanques, nos crowdfundings o objetivo é juntar dinheiro para comprar o que faz falta.

A iniciativa mais recente surgiu depois dos ataques de segunda-feira, que fizeram 19 mortos e mais de 100 feridos. Em apenas 24 horas, Serhiy Prytula, responsável pela Fundação Prytula, angariou 9,6 milhões de dólares (cerca de 9,8 milhões de euros) para comprar drones kamikaze e entregar ao exército ucraniano.

De acordo com o The Guardian, com o dinheiro arrecadado serão comprados os primeiros 50 drones Ram II, veículos aéreos não tripulados com carga útil explosiva de 3 kg, projetados e construídos por empresas ucranianas desde o ano passado, assim como três estações de controlo. Nos próximos dias serão asseguradas as munições para os drones.

"Eles querem assustar-nos, mas nós estamos mais unidos do que nunca. Lembrem-se: nunca irritem os ucranianos. Nunca. As pessoas doaram por vingança, por isso nós vamos assegurar-nos que a vingança acontece", afirmou Serhiy Prytula.

O ativista Serhii Sternenko, que fez parte da angariação de fundos, revela que nos primeiros sete minutos da campanha foram doados mais de 28 mil euros e afirma que estas campanhas "tornam a defesa mais forte".

"Campanhas de crowdfunding fortalecem a nossa defesa; nós, o povo, ajudamos o exército ucraniano. Mas ainda precisamos de mais armas dos nossos aliados para deter este terror e o crime de genocídio que a Rússia comete diariamente neste país europeu”, defende.

Os drones Ram ІІ UAV podem voar até 30 quilómetros, mas já provaram ser eficazes em combate. De acordo com imagens partilhadas nas redes sociais, um destes drones destruiu um veículo blindado russo 9K33 Osa, avaliado em 727 mil euros.

Campanhas multiplicam-se

Ao longo da guerra, as campanhas de angariação de fundos multiplicaram-se entre cidadãos ucranianos e não ucranianos. De acordo com o jornal alemão Deutsche Welle, apenas dois dias depois do início da invasão russa, o empresário de Amsterdão Farid Bekirov criou a campanha "Eyes on Ukraine" que, atualmente, tenta angariar dinheiro para enviar "tantos drones quanto possíveis para todos os locais da Ucrânia".

Até ao momento, o projeto conseguiu enviar 528 drones. Para além dos drones, também powerbanks, kits médicos, Starlink sets (internet via satélite) e torniquetes têm sido enviados pela instituição.

Outros projetos surgiram na Polónia, pelo jornalista Sławomir Sierakowski, que em menos de um mês juntou 5,6 milhões de euros para comprar drones para enviar para a Ucrânia. Também na Letónia foi criada uma campanha em agosto que juntou mais de 800 mil euros para comprar drones "Bayraktar TB2". Já os checos juntaram-se numa angariação de fundos para oferecer "Tomás, o tanque" a Kiev.

Já a ONG UhelpUkraine organizou uma campanha de angariação de fundos para a compra de um drone Bayraktar, mas não conseguiu juntar verba suficiente e, por isso, irá enviar drones civis (Mavic 3) como parte da ajuda humanitária. A organização tem enviado roupa quente e calçado para a população ucraniana desde o início da guerra.

Outro projeto que tem ajudado a angariar material para enviar para as forças ucranianas é o "People’s Project", uma organização não comercial sem fins lucrativos, formada em 2014, aquando a anexação da Crimeia.

De acordo com a página do projeto, a associação é composta por "milhares de voluntários e benfeitores por toda a Ucrânia e além fronteiras", que realizam centenas de projetos solidários para arrecadar dinheiro que será depois investido na compra de material.

Entre o material militar para o qual o projeto se propõe a angariar dinheiro há carrinhas pick-up blindadas, drones, paraquedas, casacos e roupa térmica. Para além dos projetos militares, há também projetos sociais, como angariação de combustível para os voluntários que fazem as entregas, kits médicos, angariação de fundos para comprar o material necessário para o pessoal das clínicas onde os pacientes com covid-19 estão internados. Todos os projetos arrecadaram já milhares de hryvnias, a moeda nacional da Ucrânia.

De acordo com Lubomyr Mysiv, vice-diretor da organização de pesquisa Rating Group Ucrânia, mais de 90% de ucranianos acredita na vitória e é por isso que apoia as campanhas para ajudar os militares.

“O ucraniano está pronto para ajudar o exército em todos os segundos”, afirmou Lubomyr Mysiv ao Instituto de Relatórios de Guerra e Paz.

A invasão da Rússia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas da Ucrânia – mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

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