Anatomia de uma foto
Uma bola, sorrisos e um grande palco. Se há jogo especial é este. O Monumental de Buenos Aires, casa do River Plate e um dos estádios míticos do futebol mundial recebeu no domingo os rapazes resgatados no verão de uma gruta na Tailândia, que eram, são, uma equipa de futebol. A imagem mostra os Moo Pa, Javalis Selvagens, a entrar em campo. Mãos postas em prece sob guarda de honra dos adversários, equipa sub-13 do River.
Applause all round for the ‘Wild Boars’ as they make their entrance for the friendly game at River Plate’s stadium.#BuenosAires2018 pic.twitter.com/ecFKEVuYDH
— Olympic Channel (@olympicchannel) October 7, 2018
Dois meses depois de deixarem a gruta onde estiveram presos 17 dias, uma enorme história de sobrevivência e superação, eles viajaram para a Argentina a convite do Comité Olímpico Internacional.
A viagem começou com a presença na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos da Juventude, onde receberam uma ovação que mostra como a sua história tocou o mundo.
IOC president, Thomas Bach, welcomes the #WildBoars football team from Thailand!
— Olympic Channel (@olympicchannel) October 7, 2018
Watch the #BuenosAires2018 @youtholympics action on the Olympic Channel 👉 https://t.co/vfUYIV4Qc8 pic.twitter.com/zYuriTnaTa
Para o dia seguinte estava reservada a visita ao Monumental. E depois o jogo. Eles levavam equipamento, mas acabaram a vestir o alternativo do River. Maravilharam-se com o que viram, conta quem lá estava. E sorriram de espanto, conta a reportagem do El País, quando a tradutora lhes disse que estavam no balneário onde equipava o Brasil quando jogava com a Argentina.
Viajaram 11 dos 12 rapazes e o treinador que viveu com eles o drama. Foi a 23 de junho, num passeio depois de um treino na região de Tham Luang. A chuva intensa inundou parte da gruta onde se encontravam e impediu-os de sair. Acabariam por ser encontrados por uma equipa de busca e resgatados, um a um , entre 8 e 10 de julho.
Nas bancadas estavam os pais dos rapazes, que empunhavam faixas a dizer «Obrigado a todo o mundo» e «Tailândia, Moo Pa».
Foi um jogo de oito para oito, em parte do campo. O treinador, EkapolChanthawong, levou o jogo a sério. Deu a palestra no balneário, e ao intervalo uma revisão da matéria, com garrafas de água a marcar posições.
Charla técnica del capitán de Los Jabalíes Salvajes, el equipo de los chicos tailandeses que sobrevivieron 17 días en una cueva, esta mañana en el Monumental. Botellas para el diseño táctico. pic.twitter.com/n9Zrzi8tTp
— Andres Burgo (@Andres_Burgo) October 7, 2018
O treinador, conta ainda o El País, também entrou em campo e serviu de interlocutor com o árbitro e com os adversários, por ser o único que fala um pouco de inglês. O resultado não era mesmo o mais importante, mas aqui fica: 3-3.
A vida dos rapazes mudou muito desde que deixaram a gruta. Logo depois, 11 deles entraram num mosteiro budista – todos menos um, que é cristão. Passaram lá nove dias e tornaram-se noviços, um ritual que foi também uma homenagem à única vítima mortal da sua tragédia, um mergulhador tailandês que morreu durante a operação de resgate. Em agosto, numa entrevista que os rapazes deram em conjunto à ABC News, um deles dizia que aprenderam no mosteiro a «ser pacientes» e a ter a «mente em paz».
O treinador foi ordenado monge. E em agosto recebeu cidadania tailandesa. Ele e mais três rapazes que ainda não a tinham, apesar de terem nascido na Tailândia.
Até agora, as aparições em público dos rapazes foram controladas. Estava previsto afastá-los da atenção mediática por seis meses, pelo menos, mas a pressão tem sido grande. Em setembro estiveram em Banguecoque, onde participaram em vários eventos, incluindo um banquete promovido pelo regime militar tailandês e, insólito, na inauguração de uma exposição sobre o seu resgate em que rastejaram por uma réplica da gruta onde estiveram presos.
Agora deixaram pela primeira vez a Tailândia, para uma digressão pela América. Da Argentina seguem para os Estados Unidos, onde darão uma conferência de imprensa na missão tailandesa nas Nações Unidas e deverão dar algumas entrevistas televisivas.
Artigo original: 8/10; 23:49