Alemanha ao fundo: o 1-5 de Munique, depois de Sérgio Conceição

14 out 2014, 10:10
Alemanha-Inglaterra, 1-5

Anatomia de uma foto: Alemanha-Inglaterra, 1-5 (setembro de 2001)

 

A Alemanha começava a tentar reerguer-se das cinzas do Euro 2000 e do hat trick de Sérgio Conceição. A qualificação para o Mundial 2002 estava a correr de modo tranquilo. Quando chegou aquele jogo com a Inglaterra, a 1 de setembro de 2001, a Alemanha liderava o grupo 9 com 16 pontos em seis jogos, apenas um empate cedido. E depois aconteceu aquilo.

Até então, a Alemanha tinha perdido apenas um jogo de qualificação para o Campeonato do Mundo. Sim, Estugarda em 1985, o golo de Carlos Manuel que representou a vitória de Portugal, por 1-0. Faz 29 anos nesta quinta-feira.

A Inglaterra, treinada desde janeiro de 2001 por Sven-Goran Eriksson, vinha em recuperação na qualificação, mas chegava a Munique a seis pontos da Alemanha, com um jogo a menos.

O jogo no Estádio Olímpico de Munique começou bem para a Mannschaft, que se viu a vencer por 1-0 aos seis minutos, num golo de Carsten Jancker. Mas depois transformou-se num sonho inglês e num pesadelo alemão. Aos 12 minutos, um Michael Owen nos seus melhores tempos, a caminho de se tornar herói em Munique, aproveitou uma saída desastrada de Kahn para fazer o 1-1.

A Alemanha continuava a ter mais bola e a ser mais ofensiva, mas já nos descontos da primeira parte a Inglaterra chegou de novo ao golo, num tiro de Gerrard. E acreditou.

O que se seguiu foi para lá dos cenários mais otimistas imaginados por qualquer adepto inglês. Saiu tudo bem à Inglaterra, tudo mal à Alemanha. Logo aos 48m Michael Owen aumentou a vantagem da Inglaterra para 3-1 e, não contente, selou o hat trick aos 66 minutos.

Aos 74m, Heskey selou a humilhação alemã, naquela que foi também uma goleada construída na íntegra com golos de jogadores do Liverpool. Owen, então com 21 anos, cobria-se de glória.

Aqui a festejar no final, com a camisola do adversário vestida:



E Eriksson também. O sueco era um treinador em estado de graça, a sua popularidade em Inglaterra nunca foi tão alta como naqueles tempos. Dedicaram-lhe canções:



A Mannschaft teve ao longo do jogo mais bola e a Inglaterra fez ao todo seis remates à baliza, cinco dos quais deram golo. Steve McNamanan, que jogou a última meia hora, resumia assim a coisa à BBC: «Na segunda parte, de cada vez que atacávamos parecia que íamos marcar.»

Mesmo Eriksson admitia no final que nunca imaginou algo como aquilo, e que o resultado foi mais desequilibrado do que o jogo. «Sempre disse que acreditava que podíamos vencer a Alemanha, mas nunca imaginei que por 5-1. Foi de mais: a diferença entre as equipas talvez não tenha sido assim tão grande.»

A imagem de Oliver Kahn com o marcador lá ao fundo que serve de mote a este texto diz tudo sobre o desastre alemão de Munique. Tal como esta imagem de Carsten Jancker no final.



Depois de Munique, a Inglaterra acabou por apurar-se para o Mundial à frente no grupo: venceu a Albânia e chegou à última jornada em igualdade com a Alemanha, mas com vantagem na diferença de golos. Ambas empataram essas partidas (a Inglaterra em casa com a Grécia e a Alemanha com a Finlândia), o que garantiu a Eriksson e companhia a qualificação direta e mandou a seleção germânica para o play-off, onde afastou a Ucrânia.

A Alemanha não só chegou ao Mundial como foi até à final, perdida para o Brasil. Mas era uma seleção em mudança profunda, que Munique acentuou. O Euro 2000 fez soar os alarmes, a forma como a equipa foi vulnerável frente à Inglaterra reforçou a ideia. Desde então, a Alemanha definiu um plano transversal a todo o futebol do país, da formação aos clubes. Não foi imediato, mas nos últimos anos tornou-se claro como ele deu frutos. Ainda antes do Brasil, mas o título mundial em 2014 selou esse processo a ouro.

Ficha do jogo:

Estádio Olímpico de Munique
Árbitro: Pierluigi Collina (Itália) 
1 setembro 2001, qualificação Mundial 2002

Alemanha: Kahn; Worns (Asamoah, 46m), Rehmer, Linke e Nowotny; Deisler, Bohme, Hamann e Ballack (Klose, 67m); Jancker e Neuville (Kehl, 78m)
Treinador: Rudi Voller 

Inglaterra: Seaman; Gary Neville, Rio Ferdinand, Campbell e Ashley Cole; Beckham, Scholes (Carragher, 83m), Gerrard (Hargreaves, 78m) e Barmby (McManaman, 65m); Owen e Heskey
Treinador: Sven-Goran Eriksson

Ao intervalo: 1-2
Marcadores: 1-0, Jancker (6m); 1-1, Owen (11m); 1-2, Gerrard (45m); 1-3, Owen (48m); 1-4, Owen (66m); 1-5, Heskey (74m)  

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