O outro Alemanha-Brasil, o Fenómeno e o herói trágico

8 jul 2014, 10:38
Alemanha-Brasil, a final de 2002

O único confronto no Mundial entre os dois gigantes foi a final de 2002, lembra-se?



Brasil e Alemanha, as duas super-potências, frente a frente com o Campeonato do Mundo como palco. Só aconteceu uma vez até hoje, por incrível que pareça.  Foi a final de 2002. Épica para o Brasil do Fenómeno renascido, dos três Rs e de Luiz Felipe Scolari, trágica para a Alemanha e, entre todos, para Oliver Kahn.

O primeiro Campeonato do Mundo na Ásia foi atípico. A campeã do mundo França ficou pelo caminho na primeira fase, a Argentina também, Itália e Espanha caíram nos confrontos com a anfitriã Coreia do Sul. Brasil e Alemanha sobreviveram até ao fim, depois de superarem meias-finais com adversários improváveis (Turquia e Coreia do Sul), e marcaram então o primeiro duelo da história em Mundiais.

Encontraram-se em Yokohama. O Brasil recuperava Ronaldinho, que falhou a meia-final depois de ter sido expulso no jogo dos quartos com a Inglaterra, e recuperava a sua frente de ataque. Ronaldinho, então com 22 anos e o menos cotado dos três, no apoio a Rivaldo e Ronaldo. O Fenómeno voltava ao Mundial depois do colapso de 1998 e de quatro anos marcados por lesões, para um regresso em que poucos acreditavam. Chegava à final com seis golos marcados, grande protagonista da caminhada do escrete a par com Rivaldo, que fez um grande Mundial no ataque canarinho e ajudou à festa com cinco golos.



A caminhada da Alemanha até à final, depois de um Euro 2000 para esquecer, tinha sido garantida à força de enorme solidez defensiva. Oliver Kahn sofreu apenas um golo nos seis jogos antes da decisão de Yokohama, frente à Irlanda, na primeira fase, e encarnava essa solidez germânica. Chegava à final como uma das grandes referências do Mundial.

Mais: viria a ser eleito o melhor jogador do torneio. Soube-se apenas no dia seguinte à final, mas o facto é que a votação aconteceu antes da decisão de Yokohama.

Antes de Kahn ter ficado ligado à história da final, pelas razões erradas. Durante uma hora, Kahn esteve à altura da ocasião. Fez uma série de defesas, negou o golo por várias vezes a Ronaldo. Aos 52 minutos, um choque com Gilberto Silva lesionou-o na mão, rotura no ligamento do dedo pequeno da mão direita. Jogou o resto da partida com a mão ligada. Que influência real teve a lesão no que se seguiu, só podemos imaginar.

O facto é que, aos 67 minutos, fez aquilo. Um primeiro remate de Rivaldo, o guarda-redes alemão defendeu mas deixou escapar a bola. Ficou à mercê de Ronaldo, que apareceu rápido para a recarga e não falhou.



O erro custou tão caro a Kahn e à Alemanha. Marcou definitivamente o jogo a favor do Brasil, que ainda viu Ronaldo ampliar a vantagem aos 79 minutos. É uma grande jogada do Brasil, com Kleberson, Rivaldo e um enorme remate de Ronaldo. Kahn demorou a atirar-se, não evitou o 2-0.

O Brasil era pentacampeão do mundo, o Fenómeno tornava-se o melhor marcador de sempre em Mundiais, Scolari festejava no banco o seu primeiro título mundial antes de iniciar um novo ciclo com a seleção portuguesa, 12 anos antes de voltar a lutar pelo título mundial com o Brasil, agora em casa.



E Kahn sofria. No final, ficou longos minutos sentado, encostado ao poste da baliza, a tentar perceber como o mundo lhe tinha caído em cima. «Não há palavras de consolo que atenuem esta situação», dizia após o jogo. No dia seguinte, veio a confirmação de que tinha sido ele o escolhido para melhor jogador do Mundial. Herói trágico, chamou-lhe a imprensa alemã, uma síntese perfeita.

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