A Dream Team e o sonho que não chegou de borla

13 set 2017, 23:00
Barcelona 1992: a Dream Team e a bandeira no ombro de Michael Jordan

Anatomia de uma foto

Fez 25 anos a 8 de agosto. A imagem da consagração da Dream Team, a equipa de sonho que passou por Barcelona 92 como um cometa. À primeira vista é só isso, e não é pouco. Mas a foto é a síntese perfeita de tudo o que representou a chegada das super estrelas do desporto profissional aos Jogos Olímpicos. A bandeira norte-americana nos ombros de Michael Jordan é uma tomada de posição. Com ela, Jordan esconde o logotipo da marca que equipava a seleção norte-americana, rival daquela que representava aquele que já era na altura o desportista mais bem pago do mundo.

O assunto deu que falar durante muito tempo. Enquanto em campo a Dream Team maravilhava o mundo com exibições de sonho, os jogadores, liderados por Michael Jordan, o rosto da Nike, mantiveram um braço de ferro com o Comité Olímpico americano, ameaçando que não usariam o fato de treino da Reebok. Quase todos tinham outros patrocinadores e era com eles o seu compromisso, diziam. Os dirigentes respondiam que, estando na seleção olímpica, as estrelas do basquetebol tinham de respeitar as regras que valiam para os outros todos.

Estes eram os Jogos de estreia dos profissionais no torneio olímpico de basquetebol. Uma alteração que foi aprovada pela Federação internacional de basquetebol em 1989, em tempos de mudança no mundo. Curiosamente com voto contra dos Estados Unidos, divididos quanto ao assunto. Mesmo com seleções universitárias, os EUA eram crónicos dominadores da competição, mas tinham visto nas últimas três edições o ouro fugir duas vezes para seleções do bloco de Leste, a Jugoslávia em 1980 e a URSS em 1988. A pressão das universidades para manter seleções amadoras no basquetebol olímpico levou a melhor na hora do voto, mas quando ficou decidida a mudança, o caminho estava aberto.

E os Estados Unidos não facilitaram. Era a era de ouro da NBA, um tempo que fez coincidir grandes jogadores como nenhum outro. E quando chegou a hora de escolher a seleção olímpica, o resultado foi uma constelação de estrelas. Os fãs do desporto ainda são capazes de os lembrar de cor. Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird, Charles Barkley, Karl Malone, John Stockton, Patrick Ewing, David Robinson, Clyde Drexler, Scottie Pippen, Chris Mullen e Christian Laettner.

Uma banda de estrelas rock, como lhes chamou o treinador, Chuck Daly. A passagem da Dream Team por Barcelona foi um furacão, um enorme sucesso desportivo e, claro, também de «marketing», a formalizar definitivamente a NBA como um fenómeno global. Com alguns custos, claro, para o espírito olímpico. Michael Jordan, Magic Johnson e companhia não ficaram na aldeia olímpica, como os outros atletas norte-americanos, mas luxuosamente instalados na cidade, e viviam num mundo à parte.

Fora e dentro de campo, claro. Foi um passeio. A «Dream Team» ganhou os oito jogos que disputou até à vitória na final com uma margem média de 43.8 pontos por jogo, e ainda assim apenas porque a Croácia ainda deu luta na decisão e acabou a perder «só» por 32 pontos.

Os Estados Unidos terminaram os cinco de jogos da fase de grupos com 579 pontos marcados contra 350 sofridos, uns inacreditáveis 229 pontos positivos. As vítimas foram Angola (116-48), Croácia (103-70), Alemanha (111-68), Brasil (127-83) e Espanha (122-81). A festa seguiu nas eliminatórias: Porto Rico nos quartos de final (115-77), Lituânia nas meias-finais (127-76) e por fim a Croácia (117-85).

Um cheirinho do que foi aquilo:

Portanto, os Jogos Olímpicos ganharam uma constelação de estrelas, mas elas não chegam de borla. Como a bandeira nos ombros de Michael Jordan deixou a nu. Os jogadores acabaram por assumir um compromisso, recuando na ameaça de não subir ao pódio com aquele fato de treino, mas fizeram-no nos seus termos. Não foi apenas Jordan a tapar o logo com a bandeira, Magic Johnson e Charles Barkley também o fizeram.

Michael Jordan, sempre com a mira certa, resumiu assim tudo isto naquele dia: «Quando se contratam 12 Clint Eastwoods para vir aqui e fazer um trabalho, não se lhes pergunta que balas é que estão a usar na arma.»

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