Rui Águas e Domingos têm muitos duelos entre Benfica e FC Porto nas pernas. E muitos golos também. A palavra é deles, a lançar este frente a frente
Darwin e Taremi. De um lado o melhor marcador da Liga, do outro o jogador mais influente, entre golos e assistências. No clássico deste sábado que pode dar o título ao dragão, Benfica e FC Porto têm lá na frente dois dos protagonistas desta época. É sobre os avançados que incide em primeiro lugar a expectativa de decidir um jogo, como bem sabem veteranos de outros clássicos. Rui Águas e Domingos têm muitos duelos entre Benfica e FC Porto nas pernas. E muitos golos também. A palavra é deles, a lançar este frente a frente.
Vão falar, antes de mais, de dois jogadores bem diferentes. Em campo, no percurso e na fase da carreira. Darwin Nuñez tem 22 anos e vive a segunda época no Benfica, depois de se ter formado no Peñarol e de uma época em Espanha, no Almeria. A começar a ganhar espaço na seleção do Uruguai, embalou para uma temporada em crescendo na Luz e chega ao clássico com 26 golos marcados. Mehdi Taremi, 29 anos, já era ídolo no Irão quando chegou a Portugal em 2019 para jogar no Rio Ave, vindo do Al-Gharafa, no Qatar. Depois de uma época de alto nível em Vila do Conde chegou ao FC Porto. Na segunda temporada no Dragão consolidou influência, nos golos que marca e dá a marcar: tem 20 golos e 12 assistências.
Nesta antecipação participa também João Tomás, que num olhar mais geral destaca a pressão sobre os avançados num jogo como este. «Justa ou injustamente nós sabemos que nessas posições os jogadores são sempre avaliados pelos números, pela eficácia. Embora sejam jogadores com características bem diferentes», nota o antigo avançado, destacando também o peso que ambos têm tido nas duas equipas, as mais fortes ofensivamente nesta edição da Liga: o FC Porto destacado, com 83 golos, e o Benfica na segunda posição, com 76: «Têm feito ambos uma época muito boa e isso naturalmente reflete-se no rendimento da equipa. FC Porto e Benfica têm sido equipas ofensivamente muito fortes.»
Taremi já sabe o que é marcar ao Benfica no clássico, ele que fez o terceiro golo da vitória portista na primeira volta do campeonato. E que antes disso tinha apontado dois golos frente às águias com a camisola do Rio Ave. Darwin, em quatro duelos com o FC Porto, ainda não marcou. Começando por aí, que peso poderá ter este dado? Não muito, acredita Rui Águas, ele que jogou por ambos os clubes e marcou nove golos em clássicos: «São dois jogadores que têm sobre si as esperanças dos respetivos adeptos. Este tipo de jogos tem um peso tal que não deixa a cabeça ocupar-se do passado, do que fez ou deixou de fazer. Não me parece que haja espaço para esse tipo de pormenor mental.» Já Domingos, que representou o FC Porto por muitos anos e apontou oito golos em duelos com o Benfica, pensa que esse antecedente tem influência: «Um jogador quando marca a uma equipa grande, tem confiança para voltar a conseguir. A capacidade de acreditar é muito maior.»
De goleadores para goleadores, dois olhares com foco em Darwin e Taremi. Da época às diferenças, do estilo às qualidades e também às limitações, do enquadramento de ambos na história do clássico ao «stress» do jogo deste sábado, a palavra em discurso direto a Rui Águas e Domingos. Ambos treinadores atualmente, depois de terem vivido, bem lá na frente, muitos momentos especiais como o que aí vem.
A época de Darwin e Taremi
Rui Águas
«Para mim, assistiu-se à confirmação de Taremi em relação ao que vinha fazendo, e à evolução de Darwin, que é um jogador mais jovem, que teve algumas dificuldades mais de integração num grande clube, num novo clube, e que nesta época acaba por mostrar maior produção, maior influência e ser o melhor marcador.»
Domingos
«Estão a fazer uma boa época os dois. O Darwin teve um período de algum apagão, depois com os golos que foi marcando e com o tempo acaba por terminar o campeonato bem. Estou convencido que vai ser o melhor marcador. É difícil o Taremi marcar seis golos em dois jogos. São dois jogadores diferentes a jogar num sistema diferente, mas a fazerem uma boa época os dois.»
O que distingue um e outro
Rui Águas
São jogadores muito incómodos para quem defende. Ambos marcadores de golo, ambos com sentido também de colaboração defensiva. São também abordagens diferentes das equipas. Quando se joga com dois na frente há um parceiro que se tem que considerar também. Com um na frente, para ser mais simplistas, estamos entregues um bocadinho a nós mesmos.»
Domingos
O Taremi é um jogador que consegue ter mais um compromisso coletivo, em termos defensivos, de vir fazer jogo atrás. Enquanto o Darwin vive um bocadinho daquilo que a equipa pode produzir, o Taremi vive também daquilo que ele produz, daquilo que ele provoca no jogo. O Darwin é um jogador que está a jogar bem em transição e o Benfica tem aproveitado isso do ponto de vista da velocidade, e da facilidade com que ele sai em profundidade. Depois, claro, os dois têm o seu nível técnico. Não é do melhor que há, mas são jogadores que têm qualidade técnica.
Das qualidades…
Rui Águas
O Darwin, fisicamente é um jogador de exceção, um verdadeiro atleta, muito rápido, invulgarmente rápido. E tem capacidade goleadora. O Darwin dá profundidade a qualquer equipa a partir das duas posições que faz preferencialmente, da esquerda para o meio ou mesmo no meio só. Relativamente a Taremi, não é um jogador tecnicamente tão versátil, mas é um jogador ainda mais agressivo em termos de espaço.
O Taremi é um jogador tecnicamente mais dotado. Não tão forte fisicamente, não tão pujante, mas é um jogador ao mesmo tempo de um talento mais refinado. A capacidade de passe do Taremi, e os números também o dizem, parece-me mais esclarecida. Consegue ter a bola e perceber o que é que se passa, o que é que pode fazer, onde estão os espaços. E o Darwin é um jogador mais puro-sangue, digamos. É um jogador mais individualista, sem dúvida.
Domingos
No Darwin gosto acima de tudo da explosão que ele tem, a velocidade com que consegue sair e procurar espaços, procurar a profundidade com grande mobilidade.
No Taremi, acho que o distingue a capacidade de se entregar ao jogo. É um jogador que acaba sempre por criar situações de golo. Num jogo com o Taremi em campo vai haver oportunidades de golo. E isso é uma prova de grande capacidade de entrega, um compromisso forte com a equipa. As assistências que o Taremi tem esta época são muito por causa das características dele, um jogador polivalente do meio-campo para a frente.
…às limitações
Rui Águas
«Há coisas que se podem trabalhar. Há coisas em futebol muito intuitivas, que nascem um bocadinho connosco. Mas também há aspetos que podem ser melhorados, assim sejam trabalhados. Parece-me claramente que os dois podiam trabalhar mais a questão do futebol aéreo. Mesmo tendo uma boa estatura, não é no futebol aéreo que mais se fazem notar.»
Domingos
«Tanto num como outro, na minha opinião, sendo pontas de lança, o pé esquerdo é o que está menos trabalhado. Quer do Taremi quer do Darwin.»
Ambos à altura da história dos goleadores do clássico?
Rui Águas
Sim. Perfeitamente dentro das exigências dos clubes em que estão. Olhando tanto o passado como a atualidade, ou comparando-os com jogadores até de outros campeonatos. Benfica e FC Porto não se podem queixar. Nem o campeonato.
Domingos
Todos os avançados, quando fazem golos nestes jogos, ficarão para a história e estarão sempre ligados. No passado houve jogadores tecnicamente muito evoluídos e que fizeram a diferença. Hoje o avançado às vezes toca menos na bola e faz golos. Uns fazem a diferença pela qualidade, outros pela capacidade física, mas não deixam de fazer a sua história.»
Que clássico vem aí?
Rui Águas
«Stress não vai faltar, por razões diferentes. O cenário de o FC Porto poder ser campeão na Luz é algo que em termos de rivalidade acrescenta outro condimento. Ao mesmo tempo, sendo o Porto quase campeão não deixa de ser uma oportunidade para o Benfica poder consolar, digamos assim, os seus adeptos.
E é interessante ver em que pé estão as forças. O Benfica vem melhorando, de facto, nesta fase derradeira da época, e o FC Porto foi uma equipa muito forte, muito regular, muito combativa.»
Domingos
«É um clássico diferente, para os adeptos. O Benfica não quer que o FC Porto festeje no Estádio da Luz. Os adeptos do FC Porto gostavam de repetir a proeza de há uns anos de festejar na Luz. E os adeptos do Sporting vão estar a torcer pelo Benfica, para que o Benfica ganhe e para que deixe a luta do título ainda em aberto. Um jogo que envolve os adeptos dos três grandes.
O FC Porto não tem abdicado da sua identidade e acho que é isso que fez do FC Porto durante muitos jogos invencível. É um Porto igual a si próprio. O Benfica poderá ser uma equipa forte na forma como jogou quer em Alvalade quer em Liverpool, dando mais iniciativa ao adversário e aproveitando os momentos de recuperação de bola para fazer estragos.»