Liga cava fosso e perde golos, treinadores e espectadores

6 nov 2019, 12:10
Benfica-FC Porto

As tendências do campeonato no final da 10ª jornada

A luta pela liderança da Liga subiu a exigência esta temporada, com o Benfica muito acima do registo de pontos que tinha por esta altura à 10ª jornada em 18/19, o FC Porto também melhor e o notável Famalicão a ajudar a subir a fasquia. Mas daí para baixo a distância é bem maior agora, numa época em que o campeonato anda de resto a perder muitos golos e a tendência é para perder também espectadores.

O Benfica regista a melhor subida em absoluto entre as equipas da Liga, na comparação de pontos com a época passada. Há um ano tinha 20 pontos por esta altura e era quarto, agora tem 27. O FC Porto, que comandava com 24 pontos, tem agora 25, mas é segundo. O Famalicão, com os atuais 23, estaria colado à liderança. Mas se na frente os sinais são de uma fasquia mais alta e a luta no pódio está animada, com apenas quatro pontos a separar os três primeiros, a distância entre o líder e o quarto classificado, nesta altura o Sporting, é em contrapartida bem maior: dez pontos, contra quatro há um ano. Para o fundo também aumenta o fosso: em 2018/19 havia 17 pontos a separar o primeiro do último, agora são 22.

A surpresa Famalicão e a quebra de Sporting e Sp. Braga resultam aliás num top 4 bem diferente do que se verificava há um ano. O Sp. Braga é aliás de todas as equipas aquela que mais caiu na comparação com 18/19: perderam 11 pontos, entre o terceiro lugar de há um ano e o atual 10º. Os leões perderam cinco pontos, mas a distância para a frente é muito maior: então eram segundos a dois pontos da liderança, agora já estão a dez pontos do Benfica.

Nas últimas cinco temporadas, apenas por uma vez as quatro equipas da frente à 10ª jornada não acabaram nos quatro primeiros lugares, aqueles que dão acesso garantido via campeonato às competições europeias, embora quase sempre com variações nas posições que ocupavam. O que pode ser um bom indício para o Famalicão e um mau sinal para o Sp. Braga, que na última década só por uma vez não terminou no top 4. Foi em 2013/14, quando estava por esta altura a cinco pontos de distância do quarto, tal como agora, e não conseguiu recuperar, acabando na nona posição.

O Rio Ave é outra das equipas que mais perde na comparação, menos seis pontos em relação à época passada. Tal como o Moreirense, que na sensacional campanha da temporada passada era sexto por esta altura, com mais seis pontos do que agora. Depois há o Desp. Aves, último esta época com apenas três pontos, menos sete do que há um ano.

De resto, as únicas equipas que registam claramente melhores registos por esta altura são Boavista e Tondela, ambos com mais seis pontos e ambos a apenas dois do quarto lugar. Só há outra equipa que ganha na comparação, o V. Guimarães, que tem mais um ponto do que na 10ª jornada da temporada passada.

Comparação de pontos com a 10ª jornada da época passada:

1. Benfica, 27 pontos (era 4º em 18/19, com 20 pontos), +7

2. FC Porto, 25 pontos (1º, 24 pontos), +1

3. Famalicão, 23 (-)

4. Sporting, 17 (2º, 22 pontos), -5

5. V. Guimarães, 16 (7º, 15 pontos), +1

6. Boavista, 15 (17º, 9 pontos), +6

7. Tondela, 15 (14º, 9 pontos), +6

8. Santa Clara, 13 (9º, 14 pontos), -1

9. Rio Ave, 12 (5º, 18 pontos), -6

10. Sp. Braga, 12 (3º, 21 pontos), -9

11. V. Setúbal, 12 (8º, 14 pontos), -2

12. Belenenses, 11 (10º, 12 pontos), -1

13. Moreirense, 10 (6º, 16 pontos), -6

14. Gil Vicente, 10 (–)

15. Marítimo, 10 (12º, 10 pontos), Igual

16. Portimonense, 7 (11º, 11 pontos), -4

17. Paços Ferreira, 5 (–)

18. Desp. Aves, 3 (13º, 10), -7

Golos em perda e o caso incrível do V. Setúbal

Quando se olha para os golos que se marcam nesta Liga, a tendência óbvia é de perda. Marcaram-se no total 214 golos, média de 2.38, menos 18 do que nas 10 primeiras jornadas de 2018/19. A manter-se, representaria uma quebra substancial em relação aos últimos dois anos, quando a média final foi 2.70 por jogo. A 10ª jornada, que terminou nesta segunda-feira, teve 16 golos marcados no total e não foi a pior. Na ronda 7 marcaram-se 13 golos, distribuídos por nove jogos.

Só há cinco equipas com mais golos marcados do que há um ano, uma delas o Benfica, com mais quatro. O Marítimo, curiosamente, foi quem mais melhorou nos golos marcados, mais cinco do que nas primeiras 10 jornadas de 18/19, mas também sofre mais. O V. Guimarães também «ganhou» quatro golos, enquanto Boavista e Belenenses têm mais um. O FC Porto tem o mesmo número de golos marcado e menos um sofrido, enquanto o Sporting tem menos dois marcados e mais dois sofridos.

Há equipas que perderam muitos golos, como o Santa Clara, que na tabela está apenas um ponto abaixo da época passada, mas marcou menos 11 golos. Essa quebra foi acompanhada por uma melhoria também a nível defensivo, com apenas oito golos encaixados contra os 16 que tinha há um ano. E depois há o V. Setúbal, um caso à parte. Os sadinos, que «perderam» 10 golos marcados em relação ao ano passados, dividem os atuais 12 pontos, com duas vitórias e seis empates, por… três golos marcados em 10 jogos. Uma economia atacante sem par, naquele que é claramente o pior ataque do campeonato.

Mas o V. Setúbal também tem uma das melhores defesas, atrás apenas do Benfica, com três golos sofridos, e do FC Porto, com cinco, estando a par do Boavista, que encaixou os mesmos seis golos. Em casa, aliás, o V. Setúbal ainda não sofreu golos, tal como o FC Porto.

Este também está a ser de resto um campeonato com maior tendência para empates do que a norma: 30 por cento por esta altura, quando a média final das últimas duas épocas foi de 20 por cento.

Treinadores menos seguros

Se em campo a época não tem sido para grandes entusiasmos, nos bancos tem sido agitada. Com menos de um terço do campeonato jogado já há cinco chicotadas por esta altura, quando há um ano havia apenas uma: a saída de José Peseiro em Alvalade.

Esta época o Sporting voltou a ser dos primeiros a mudar, quando Marcel Keizer saiu depois da quarta jornada, acabando por chegar Silas depois de Leonel Pontes fazer a transição. Paços de Ferreira, Belenenses, Desp. Aves e V. Setúbal foram as outras equipas a trocar de treinador, alcançando ainda em outubro metade do total de dez «chicotadas» das últimas duas épocas.

Espectadores, tendência de quebra

Nas bancadas a tendência também é de perda na comparação com o arranque da época passada. Ainda que seja cedo para tirar conclusões, num campeonato que do ponto de vista dos espectadores anda sempre a reboque dos chamados «grandes». Além de ainda ser uma amostra curta para todas as equipas, apenas o Benfica jogou já um dos clássicos em casa, os outros só acontecerão no fim da primeira volta. O Benfica-FC Porto, curiosamente, não foi o jogo com melhor assistência da época: com 62.735 espectadores, o clássico da terceira jornada ficou atrás do Benfica-Paços Ferreira da ronda inaugural, com 62.956.

Houve até agora 1.055.120 pessoas nos estádios, média de 11.723 por jogo e uma taxa de ocupação a rondar os 50 por cento. Há um ano, por esta altura, a média era de 12.451, quando já se tinham jogado os dois clássicos da Luz. A média final da época acabou por cair e ficou nos 11.690. Se a tendência de quebra se mantiver, os números finais desta época retratarão uma perda significativa de espectadores nos estádios, numa época em que muito se tem falado de horários de jogos inconvenientes para o público, mas sem alterações para já.   

O Benfica volta a liderar no total e na média de espectadores por jogo. Tem nesta altua uma média superior à da época passada, 54.855 contra os 53.824 finais em 18/19. Os encarnados também são quem tem a melhor taxa de ocupação do estádio, 85.49 por cento.

FC Porto e Sporting estão para já em perda na comparação com a última temporada. Os dragões têm 39.333 espectadores por jogo, contra 41.626 de média final em 18/19, os leões têm 32.586, contra 33.691. Mas nenhum deles recebeu ainda qualquer clássico.

Notável de resto também nas bancadas o caso do Famalicão que, com média de 4.516 espectadores por jogo, tem a segunda melhor taxa de ocupação do estádio, 85.09 por cento. E ainda não recebeu nenhum dos chamados «grandes». A capacidade agregadora do Famalicão já vinha de trás – na época passada foi a equipa com mais espectadores na II Liga, média de 3.478 - e está a consolidar-se na Liga.

A pior taxa de ocupação é do Belenenses SAD, que continua a jogar no Jamor no meio do diferendo com o clube: 14.40 por cento, ainda que a média registada nos dados oficiais da Liga, 4.607, represente o 9º lugar entre os 18 clubes que integram o campeonato. Os azuis já receberam o Benfica, jogo em que tiveram 17.821 espectadores registados, a esmagadora maioria do total de 23.034 que apresentam nesta altura. O último jogo, na noite de segunda-feira, frente ao P. Ferreira, teve 1.070 espectadores nas bancadas, de acordo com os dados oficiais da Liga de clubes. Em absoluto é de resto o Desp. Aves quem tem pior média, 2.207 espectadores por jogo.

Espectadores até à 10ª jornada, dados oficiais da Liga Portugal

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