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Letra Z nos tanques russos: o que pode significar e como se tornou um símbolo a favor da guerra

No final de fevereiro, dias antes de as forças russas lançarem uma invasão total à Ucrânia, começaram a circular nas redes sociais vídeos e fotos que mostravam carros de combate, camiões de comunicações e lança-rockets, todos marcados com a letra “Z”, a dirigirem-se para a fronteira.

Investigadores digitais especularam sobre o que o “Z”, escrito no alfabeto romano e não no cirílico, poderia indicar sobre os movimentos seguintes de Moscovo.

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Especialistas militares interpretaram o “Z” como “Za pobedy”, russo para “vitória”, ou como “Zapad”, para “Ocidente”. Alguns apelidaram os veículos pintados com o símbolo de “Esquadrão Zorro”, enquanto outros sugeriram que o “Z” poderia representar o denominado “alvo número um” do Kremlin, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

Um carro de combate com um “Z” pintado, numa área de Donetsk controlada pelos separatistas.

Aric Toler, um investigador da Bellingcat, - uma operação de investigação em código aberto que tem vigiado as operações militares russas desde que Moscovo fomentou a guerra no leste da Ucrânia, há oito anos, - disse a 20 de fevereiro que o grupo não fazia ideia do que significava o símbolo ”Z” e nunca o tinha visto ser usado. “Portanto, presumam o pior, acho/receio”, escreveu ele no Twitter.

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Rob Lee, um especialista em política de defesa russa que rastreia os veículos “Z” desde que as tropas se começaram a concentrar às portas da Ucrânia, sugeriu que o símbolo se pode referir aos contingentes militares destacados para a luta no país. “Parece que as forças russas perto da fronteira estão a pintar símbolos, neste caso a letra ‘Z’, nos seus veículos, para identificar diferentes forças ou hierarquias", escreveu Lee, estudante de doutoramento no Departamento de Estudos de Guerra do King's College de Londres, no Twitter, a 19 de fevereiro.

Mas nos dias que passaram desde que Moscovo ordenou o ataque sangrento à Ucrânia, o que começou por ser um símbolo militar misterioso tornou-se um sinal de apoio popular à guerra da Rússia, e o que os analistas descrevem como o desenrolar de um novo e assustador movimento nacionalista.

Os russos pintaram o “Z” nos seus carros, usaram camisolas de capuz pretas estampadas com o símbolo e exibiram nas suas lapelas crachás improvisados com o “Z” - um sinal de que há algum apoio popular ao presidente russo Vladimir Putin e aos esforços deste de expandir a esfera de influência de Moscovo conquistando regiões da Ucrânia.

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“As autoridades lançaram uma campanha de propaganda para obter o apoio popular para a invasão da Ucrânia e estão a receber muito apoio”, escreveu Kamil Galeev, investigador independente e antigo membro do Wilson Center, um think tank político apartidário de Washington DC, num tópico abrangente do Twitter sobre o uso do símbolo “Z” em vídeos de propaganda e pelos russos, nas redes sociais.

“Este símbolo inventado há apenas alguns dias tornou-se um símbolo da nova ideologia e identidade nacional russas”, acrescentou Galeev.

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"Vamos falar sobre o que está a acontecer na Rússia. Simplificando, está a tornar-se completamente fascista. As autoridades lançaram uma campanha de propaganda para obter o apoio popular para a invasão da Ucrânia e estão a receber muito apoio. Podemos ver o “Z” nas roupas destes homens. O que significa isto?"

Enquanto o Kremlin aperta o controlo sobre qualquer notícia de vítimas ou reveses russos que chegue à Rússia - aplicando uma extraordinária nova lei que torna a disseminação de informações “falsas” uma ofensa punível com penas de prisão - os seguidores de Putin aumentam o seu apoio à guerra.

Num hospital de Kazan, uma cidade na região sudoeste do Tartaristão, na Rússia, pediram a crianças que estão a morrer de cancro que formassem um “Z” no exterior, na neve, para mostrar o seu apoio à operação militar russa.

“Os nossos pacientes e toda a equipa participaram, cerca de 60 pessoas no total. As pessoas alinharam-se para formar a letra ‘Z’”, disse em comunicado Vladimir Vavilov, presidente da instituição de beneficência contra o cancro que administra o hospital. “Na mão esquerda, temos panfletos com as bandeiras da RPL, da RPD, da Rússia e do Tartaristão, e fechámos a mão direita num punho.”

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Vavilov referia-se à República Popular de Luhansk (RPL) e à República Popular de Donetsk (RPD), áreas controladas pelos separatistas no leste da Ucrânia, que Putin reconheceu no mês passado como estados independentes, como parte do pretexto para invadir o país.

O símbolo “Z” também surgiu entre os membros da câmara baixa do Parlamento Russo, a Duma.

Maria Butina foi condenada por servir como agente estrangeira não registada nos Estados Unidos, tentando infiltrar-se em círculos políticos conservadores de destaque, antes e depois das eleições de 2016. Agora, ela representa a região de Kirov para o partido político Rússia Unida, que apoia Putin, e apoiou a guerra em publicações no seu canal do Telegram.

Butina partilhou na plataforma um vídeo de si mesma a desenhar um “Z” branco na lapela do seu casaco, e atualizou o seu perfil com uma selfie com uma camisola preta com um “Z” branco.

“Continuem o bom trabalho, irmãos. Estamos convosco. Para sempre”, disse ela no vídeo, cerrando o punho.

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Correspondentes do canal de notícias público da Rússia, o Rossiya-24, a reportar da Ucrânia, exibiram o “Z” nos coletes à prova de balas.

Imagens das principais cidades russas partilhadas no fim de semana mostram filas de carros com os “Z” brancos colados nas janelas, a buzinar e a agitar enormes bandeiras russas. No Campeonato Mundial de Ginástica em Doha, no Catar, o atleta russo Ivan Kuliak exibiu o símbolo no pódio, enquanto estava ao lado do ucraniano Illia Kovtun, que ganhou a medalha de ouro.

E em dois vídeos de propaganda habilmente produzidos que circulam nas redes sociais, jovens russos com t-shirts pretas e sweatshirts com capuz estampadas com a letra “Z” e a hashtag #СвоихНеБросаем, ou “nós não abandonamos os nossos (homens)”, agitam bandeiras russas e manifestam o seu apoio à guerra de Putin, cantando: “Pela Rússia, pelo presidente. Pela Rússia, por Putin!”

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