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A Ucrânia está a lutar "para não termos de ser nós a fazê-lo". Eurodeputados escrevem aos republicanos dos EUA

Informação está a ser avançada em exclusivo pela Reuters na véspera do Conselho Europeu, onde também não parece haver consenso quanto à atribuição de mais dinheiro e armas a Kiev

Mais de 100 legisladores europeus vão enviar, esta terça-feira, uma carta aos membros do Congresso norte-americano a pedir-lhes que desbloqueiem mais fundos para a Ucrânia, na sequência do chumbo republicano ao pacote proposto por Joe Biden, no final da semana passada.

A dois dias do Conselho Europeu, em que as autoridades dos 27 Estados-membros têm de decidir se alocam mais 50 mil milhões de euros em ajuda financeira a Kiev e outros 20 mil milhões em ajuda militar, a carta aberta foi previamente consultada pela Reuters e é assinada por eurodeputados de pelo menos 17 países da UE, incluindo França, Alemanha, Polónia e Irlanda.

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A missiva denota as crescentes preocupações europeias sobre a não-continuidade do apoio dos EUA aos ucranianos -- numa altura em que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, parece empenhado em chumbar a renovação de fundos europeus -- e chega a Washington DC um dia antes de o Presidente da Ucrânia voar até à capital norte-americana, onde vai tentar convencer os legisladores a aprovarem os fundos antes das férias de natal e ano novo.

"Os nossos amigos americanos têm expressado preocupações. Durante anos, os líderes norte-americanos, democratas e republicanos, pediram aos europeus que assumissem mais responsabilidade pela sua própria segurança. Concordamos com este pedido legítimo", lê-se na carta citada pela Reuters.

Iniciativa do eurodeputado francês Benjamin Haddad, do partido de Emmanuel Macron, e de outros como Michael Roth, que lidera a comissão de assuntos externos do Bundestag, e Giulio Tremonti, o seu homólogo italiano, o conteúdo da carta refere que a UE tem contribuído para apoiar a Ucrânia tanto quanto os EUA, no contexto da invasão russa, em fevereiro de 2022.

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"A ajuda militar americana é crítica e urgente", destacam os signatários. "Uma vitória de Putin vai fortalecer os nossos inimigos em todo o mundo: eles estão atentos e à espera que fiquemos cansados. Os ucranianos estão a lutar para não termos de ser nós a fazê-lo."

Na semana passada, o presidente norte-americano pediu ao Congresso que aprovasse novos fundos para a Ucrânia até ao final do ano, após a Casa Branca ter alertado que o dinheiro alocado em 2023 está prestes a esgotar-se. A votos na sexta-feira, o pacote foi chumbado pela maioria republicana na Câmara dos Representantes, que exige que o envio de mais dinheiro e armas para Kiev seja acompanhado de mais restrições a migrantes na fronteira EUA-México.

Do lado europeu, também a questão da imigração está na base do diferendo, com Orbán a enviar recentemente uma série de cartas a Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, informando-o de que não vai aprovar o pacote para a Ucrânia nem autorizar que se deem início às negociações de adesão do país ao bloco -- dois dos grandes objetivos da reunião de quinta e sexta-feira.

Neste momento, o Fidesz, partido de Orbán, está a preparar uma "consulta nacional" sobre a UE, migrantes e a questão ucraniana, a 12.ª desta natureza desde que chegou ao poder em 2010. Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia estará a preparar-se para desbloquear parte dos fundos de coesão destinados à Hungria.

Em dezembro, o executivo comunitário congelou os 22 mil milhões de euros para forçar Budapeste a garantir a independência do seu sistema judiciário e preservar o respeito pelos direitos humanos e pelo Estado de Direito, em linha com o que a UE representa e defende. Segundo fontes diplomáticas ao Politico, a decisão de descongelar até 10 mil milhões de euros, depois de o Governo Orbán ter implementado algumas das recomendações anti-corrupção e anti-fraude, pode chegar já hoje. As mesmas fontes garantem, contudo, que a decisão nada tem a ver com o Conselho Europeu que se aproxima.

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