Humberto Pedro, ex-acionista da TAP, revelou que gostaria de se ter mantido na TAP e que, se tivesse os mil milhões de euros necessários para apoiar a companhia aérea aquando da crise provocada pela covid-19, teria feito esse investimento.
Na comissão parlamentar de inquérito à gestão da TAP, o empresário reconheceu que a saída da TAP “não foi naturalmente o que eu gostaria”. “Não considero que tenha sido escorraçado da TAP. Mas chegou a um ponto em que não havia condições para continuar. A estratégia do Governo não contava comigo”, concretizou.
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Humberto Pedrosa confirmou que em março de 2020 os acionistas privados foram chamados a apoiar a TAP. Mas, perante as necessidades da empresa, essa solução não foi possível. Porque, se o valor estivesse disponível, tê-lo-ia feito.
“Não conheço nenhum empresário privado que tivesse disponibilidades de mil milhões de euros para colocar na TAP ou noutro lado qualquer. Não estamos a falar em trocos. Para dar uma ajuda à TAP eram precisos mil milhões de euros. Eu não tinha. Mas garanto que, se tivesse, tinha posto. E tinha posto porque acredito na TAP”, afirmou aos deputados.
Pedrosa vincou várias vezes que acredita no projeto da TAP e que pode ainda ser “uma grande companhia”, mas que precisa de uma “boa gestão” para chegar a bom porto. O caminho de recuperação iniciado com a compra em 2015, defendeu, foi "brutalmente interrompido pela pandemia".
“Não chorei o dinheiro que lá ficou” (e a diferença de tratamento face a Neeleman)Humberto Pedrosa ficou na TAP até 2021, acompanhando a negociação do processo de reestruturação da transportadora aérea. O dono do Grupo Barraqueiro assegura que ficou na TAP enquanto lhe foi permitido, até por acreditar que a pandemia seria algo passageiro: “Infelizmente veio mais tarde a tornar-se evidente que o plano de reestruturação desenhado e aprovado não previa nem permitiria a manutenção da nossa participação. Nessa altura, transferimos a nossa participação para o Estado português”.
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Já o parceiro David Neeleman saiu mais cedo. E em condições bem diferentes, com uma compensação de 55 milhões de euros. Pedrosa tem uma explicação para esta diferença: “David Neeleman era um investidor. Entrou na TAP para fazer uma mais-valia num determinado espaço de tempo. Eu sou um empresário. Não estou habituado a entrar nas companhias para as vender. E fiquei até ser possível ficar. Quando verifiquei que não havia condições para poder continuar, saí, com prejuízo”. Ainda assim, assegurou que não guarda rancores: “Não chorei o dinheiro que lá ficou. Ficou porque teve de ficar. Perdi porque tinha de perder”.
Questionado pelos deputados, Pedrosa reconheceu que a saída antecipada de Neeleman foi uma “questão de gestão de crise”. “O Estado chamou para si própria a gestão dessa crise e as conversações com Bruxelas. E David Neeleman perguntou-se o que estava ali a fazer”, disse.
O acordo de 55 milhões foi feito com o então ministro das Infraestruturas, mas Pedrosa desconhece os termos. “Se calhar também a vontade do Governo de afastar David Neeleman” também precipitou o pacto, considerou.
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Ao entrar na TAP em 2015, Pedrosa faz um retrato de uma empresa em dificuldades que “não conseguia gerar receitas suficientes para fazer face aos custos incorridos” e sem “sem saldo de caixa e pagamentos em atraso”.
Colocava-se então a “oportunidade única de participar no relançamento de uma empresa estratégica para a economia portuguesa”, apesar das avaliações negativas. Pedrosa reconheceu que utilizou fundos próprios e abriu uma linha de crédito “com garantia pessoal minha”.
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