O Estado está a pagar salários mais altos à administração da TAP do que os privados pagavam. Mesmo com um corte de 30% das remunerações dos gestores, que está a ser aplicada durante o processo de reestruturação da companhia, os custos da companhia com a administração em 2019 (quando a gestão era controlada por privados) foram inferiores aos de 2021 (quando já estava sob controlo público).
A análise é feita numa altura em que a polémica com a indemnização paga pela companhia à ex-administradora Alexandra Reis já levou à queda de um membro do governo, a própria Alexandra Reis, que tinha tomado posse há cerca de um mês como secretária de Estado do Tesouro.
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Segundo o relatório e contas de 2019, a TAP SPGS gastou nesse ano um total de 1,568 milhões de euros com remunerações do Conselho de Administração. Naquele ano, a gestão da empresa era controlada pelo acionista privado David Neeleman, tendo a companhia um total de 12 administradores. O presidente do Conselho de Administração (nomeado pelo Estado) era Miguel Frasquilho e o presidente executivo (escolhido pelos privados) era Antonoaldo Neves.
Já quanto às contas de 2021, o relatório e contas da TAP SGPS não foi publicado, mas foi-o o relatório do governo de sociedades, que discrimina os salários dos administradores. Ora, o somatório das remunerações declaradas dos administradores supera os 1,8 milhões de euros. E isto mesmo depois do corte de 30% de remunerações da TAP, sem o qual só em salários brutos a empresa pagaria 2,6 milhões de euros.
ADMIN. EXECUTIVO | SALÁRIO ANUAL DECLARADO | SALÁRIO-BASE ANUAL |
Christine Ourmières-Widener | 504 000 | 720 000 |
Gonçalo Pires | 245 000 | 350 000 |
Alexandra Reis | 245 000 | 350 000 |
Silvia Mosquera Gonzalez | 245 000 | 350 000 |
Ramiro Sequeira | 245 000 | 350 000 |
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ADMIN. NÃO EXECUTIVOS | SALÁRIO ANUAL DECLARADO | SALÁRIO-BASE ANUAL |
Manuel Beja | 117 600 | 168 000 |
Ana Lehmann | 58 800 | 84 000 |
João Pedro Duarte | 58 800 | 84 000 |
José Silva Rodrigues | 58 800 | 84 000 |
Patrício Castros | 58 800 | 84 000 |
Fonte: Relatório do Governo Societário da TAP 2021
Estes valores referem-se apenas aos salários-base (brutos), não incluindo subsídios de alimentação, subsidios de residência, seguros e outras regalias.
Gestora contratada por salário de empresa cotadaEsta análise permite também concluir que Christine Ourmières-Widener recebeu 504 mil euros em 2021 mas foi contratada por um salário-base de 720 mil euros anuais, o equivalente a cerca de 51,5 mil euros mensais - ou cerca de 24 mil euros líquidos por cada mês.
O salário-base de 720 mil euros anuais coloca a gestora francesa como tendo um dos ordenados mais altos em Portugal, mesmo considerando empresas privadas. Nos salários das 15 maiores empresas cotadas em Portugal, só quatro têm um salário-base mais elevado para o seu: Galp, EDP, Semapa e Jerónimo Martins. A TAP, no entanto, não está a pagar prémios, ao contrário do que se verifica nas empresa cotadas. Mas isso decorre do facto de a TAP estar a beneficiar de injeções de capital do Estado, que totalizaram 3,2 mil milhões de euros.
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