Os exercícios militares de fogo-vivo da China em torno de Taiwan ameaçam perturbar o comércio e as viagens comerciais na Ásia Oriental, forçando os navios a desviarem-se de uma das vias navegáveis mais movimentadas do mundo e exercendo mais pressão sobre as já tensas cadeias de abastecimento mundiais.
Na quinta-feira, a China deu início a exercícios envolvendo a marinha, a força aérea e outras forças militares nos mares e no espaço aéreo em torno de Taiwan. Os exercícios - em número sem precedentes - são uma demonstração direta de força em resposta à visita da Presidente da Câmara [dos Representantes] dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha auto-governada, contra a qual Pequim alertou repetidamente.
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Exercícios militares da China em torno de Taiwan
O Ministério da Defesa chinês divulgou na terça-feira um mapa de seis zonas em redor da ilha, onde disse que iria realizar exercícios aéreos e marítimos, bem como exercícios de fogo-vivo de longo alcance que durarão até domingo. Navios e aviões foram avisados, para se manterem afastados das zonas durante os exercícios.
Taiwan disse que os exercícios militares equivalem a um "bloqueio marítimo e aéreo" e que "violaram as águas territoriais de Taiwan e a sua zona contígua".
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Ameaçam também perturbar os fluxos comerciais numa das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.
O Estreito de Taiwan, uma artéria de cerca de 180 quilómetros de largura, que separa a ilha de Taiwan da Ásia continental, é uma rota comercial fundamental para os navios que transportam mercadorias entre as principais economias do nordeste asiático, como a China, o Japão e a Coreia do Sul, e o resto do mundo.
A consultora de navegação VesselsValue, com sede em Londres, afirmou que existem atualmente 256 navios porta-contentores e outros em águas territoriais de Taiwan, estimando-se que mais 60 chegassem entre quinta-feira e domingo, altura em que serão realizados os exercícios.
"Há potencial para uma perturbação substancial do comércio na região", disse Peter Williams, um analista de fluxos comerciais da VesselsValue.
O encerramento das rotas comerciais em torno de Taiwan, mesmo temporariamente, "suscita preocupações sobre se a China poderá voltar a fazê-lo com sucesso, e o que isto poderá significar não só para o comércio futuro, padrões económicos e de viagens, mas também cenários potencialmente de defesa e de segurança", disse Nick Marro, analista líder para o comércio global na Economist Intelligence Unit.
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Não está ainda claro qual será o impacto a longo prazo, mas as companhias de embarcação esperam atrasos devido ao reencaminhamento, potenciais perdas de vendas e custos mais elevados para os trabalhadores que trabalharão mais horas.
As cadeias logísticas globais foram já agitadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, que perturbaram o fluxo de bens e conduziram ao aumento da inflação em muitas partes do mundo.
Qualquer conflito em Taiwan, que domina a indústria de semicondutores, poderia exacerbar a escassez global de chips informáticos, que são componentes vitais para praticamente toda a eletrónica moderna.
Taiwan tem sete grandes portos. O Porto de Kaohsiung, localizado na costa sudoeste, é o maior porto de Taiwan e o 15º maior do mundo, de acordo com o Conselho Mundial de Navegação.
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O Gabinete Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu três avisos na quarta-feira, pedindo aos navios que utilizassem rotas alternativas para os portos das cidades de Keelung, Taipé, Kaohsiung e outras.
Taiwan redireciona voos internacionaisTaiwan também redireccionou 18 rotas de voo internacionais, na sequência de negociações com o Japão e as Filipinas. Aproximadamente 300 voos seriam afetados como resultado do reencaminhamento, disse na quarta-feira o ministro dos Transportes de Taiwan, Wang Kwo-tsai.
"Ainda não acabaram as repercussões, pois elas estão apenas a começar", disse Clifford Bennett, economista-chefe da ACY Securities, uma corretora australiana.
Como os exercícios da China estão a afetar os voos internacionais
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"Muito pior do que isso será qualquer atraso económico nas relações entre Taiwan e a China, como resultado da visita de Pelosi", disse.
A China já atingiu Taiwan com algumas restrições comerciais desde quarta-feira, incluindo a suspensão de algumas frutas e peixe importados de Taiwan, e exportações de areia natural para a ilha.
Todo o acontecimento pode "continuar a reverberar, causando mais danos durante meses, ou mesmo anos, tanto às relações de Taiwan como dos EUA com a China continental", concluiu Bennett.
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