À medida que os confrontos se intensificam na Ucrânia, cada vez mais russos e ucranianos procuram a ajuda de astrólogos para saber o que os futuro lhes reserva, numa altura em que o mesmo é cada vez mais uma incógnita. Se os ucranianos querem saber se os seus entes queridos que estão no terreno vão sobreviver, os russos querem saber o que devem esperar do seu país, que está cada vez mais isolado do resto do mundo.
"As pessoas querem saber o que vai ser da Rússia, tendo em conta as suas relações cortadas com o resto do mundo", conta à AFP a astróloga Elena Korolyova, que admite receber cada vez mais clientes no seu apartamento em São Petersburgo.
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A astróloga, de 63 anos, procura tranquilizar os seus clientes, garantindo que a Rússia não só irá sobreviver a esta "tempestade económica" provocada pelo avolumar de sanções sem precedentes por parte do Ocidente, como também vai sair vitoriosa deste conflito.
"O cataclismo global vai intensificar em setembro, mas a Rússia vai sair desta situação estável e próspera", assegura.
Korolyova cobra 5.000 rublos por consulta (cerca de 75 euros) e assinala que a procura pelos seus serviços tem vindo a aumentar desde que Vladimir Putin deu ordens ao exército para invadir a Ucrânia, a 24 de fevereiro.
De acordo com a agência de notícias francesa, só na primeira semana do conflito o número de pesquisas por "astrólogo" mais do que duplicou no principal motor de pesquisa da Rússia, o Yandex, aumentando de 42.900, em 19 de fevereiro, para 95.000, em 5 de março.
De São Petersburgo para Moscovo, a AFP entrevistou Konstantin Daragan, um astrólogo que se tornou famoso na Rússia depois de ter previsto a pandemia de covid-19, e que, tal como Korolyova, também prevê a vitória da Rússia - contra os ucranianos e contra o Ocidente.
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"A Rússia vai tornar-se no centro do mundo após o conflito", escreveu Daragan, numa publicação divulgada nas suas redes sociais.
Konstantin Daragan é natural da região leste da Ucrânia, no Donbass, que tem sido particularmente fustigada pelos confrontos, e diz ter aconselhado ministros, banqueiros e até membros dos serviços de inteligência da Ucrânia no passado. Mas em 2014 o astrólogo trocou a Ucrânia por Moscovo depois da chegada ao poder de autoridades pró-Ocidentais na região.
Daragan diz apoiar a guerra, mesmo depois de a sua terra natal, Lysychansk, ter ficado completamente destruída pelos recentes confrontos que obrigaram à retirada das tropas ucranianas.
Tal como Korolyova, também Daragan está a ver o seu negócio crescer. O astrólogo é dono de uma escola de Astrologia Clássica que viu o número de alunos duplicar desde o início da invasão da Ucrânia. Anna Markus está entre os 200 alunos de Daragan e revela que decidiu começar a observar as estrelas para tentar "encontrar a lógica nos eventos que decorrem na terra". Em declarações à AFP, Markus diz ter um mapa estrelar que prova que os Estados Unidos são "o verdadeiro culpado" da guerra na Ucrânia.
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Tal como os russos, também os ucranianos estão a procurar cada vez mais a ajuda dos astrólogos para obter respostas às dúvidas que assombram o seu quotidiano - embora com preocupações distintas das dos russos. De acordo com a astróloga Olena Umanets, os ucranianos querem saber "se vai acontecer uma guerra nuclear, se devem deixar o seu país, se os seus entes queridos estão em perigo".
Em entrevista à AFP, Olena Umanets recorda uma consulta online com uma cliente - uma produtora de televisão de Kiev, com 46 anos, que estava preocupada com o marido, que estava na linha da frente dos combates. Depois da consulta, a mulher voltou a contactar Umanets, desta vez para lhe contar que o marido lhe tinha telefonado. "Obrigado por ter me encorajado a rezar por ele, foi um alívio partilhar essa responsabilidade com as estrelas", disse na altura a cliente.
As previsões dos astrólogos ucranianos parecem, contudo, muito diferentes das dos russos. Vlad Ross, um astrólogo muito famoso nos media ucranianos, diz que Putin está "gravemente doente" e prevê que o chefe de Estado russo "não irá passar de março de 2023". Já a astróloga ucraniana Angela Peark garante que a vitória de Kiev "está iminente".
Ainda assim, uma coisa fica certa: russos e ucranianos procuram agarrar-se a tudo para encontrar um sinal de esperança numa altura em que a guerra parece estar longe de acabar.
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