O número de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS) aumentou, mas isso não se traduziu num crescimento de produtividade. A conclusão é do Relatório da Primavera do Observatório Português dos Sistema de Saúde e do qual o jornal Público teve acesso. A explicação pode estar relacionada com três fatores: a disrupção das equipas, o aumento do absentismo e a concorrência no setor privado.
De acordo com o documento, apresentado esta terça-feira, entre março de 2016 e março de 2022 registou-se um aumento de mais de 30 mil profissionais de saúde. Ainda assim, os relatos de falta de pessoal no terreno "têm sido contínuos". Julian Perelman, autor deste capítulo e professor da Escola Nacional de Saúde Pública, decidiu fazer aquilo que apelidou de "exercício simples": usou os dados do Portal do SNS para calcular o número de serviços prestados (consultas dos cuidados de saúde primários e hospitalares, cirurgias, internamentos, etc) e dividi-lo pelo total de profissionais do SNS, para calcular o valor da produtividade para cada ano. Calcularam também o custo médio por serviço.
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Apesar dos resultados terem de ser analisados de forma cautelosa, Julian Perelman fala numa "certa tendência, com diminuição da produtividade e aumento contínuo do custo médio". Aplicando o mesmo exercício, mas tendo por base o total de horas anuais realizadas pelos profissionais de saúde, os resultados "confirmam a tendência de diminuição" da produtividade. O especialista destaca que esta erosão "já se notava antes de 2020" e apresentou três possíveis explicações.
Sendo o número de profissionais limitado, público e privado concorrem para a sua contratação, mas é sempre o SNS que sai a perder. Porquê? Porque o processo de contratação é burocrático e sem liberdade para negociar vencimentos e salários. A juntar a isto está o facto de o privado se ter centrado prioritariamente em intervenções que são relativamente menos complexas, oferecidas a uma população mais saudável, traduzindo-se numa oferta de condições de trabalho mais favoráveis.
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