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Pensionista médio perde 330 euros de poder de compra nos últimos dois anos

Pensão média de 509 euros em 2021 passará para 563 euros no fim deste ano. São mais 10,5% em dois anos. Mesmo assim, este pensionista “médio” perde poder de compra.

Nem a meia pensão extraordinária paga no final do ano passado, nem os dois aumentos de pensões deste ano somados são suficientes – considerando a inflação composta de 2022 e 2023, os pensionistas perdem poder de compra.

Vejamos o caso de um reformado que recebe uma pensão média: em 2021, segundo dados oficiais da Segurança Social, essa pensão média era de 509 euros. Neste preciso momento, ela é de 544 euros; e no final deste ano será de 563 euros. Ou seja, mais 10,5% do que há dois anos. Acontece que a inflação composta destes dois anos está estimada em 13,35%, pelo que continua a haver perda de poder de compra.

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Vejamos as contas.

2022, meia pensão extraordinária

Com uma reforma de 509 euros mensais pago 14 vezes, o reformado-tipo usado neste exercício recebeu um total de 7.126 euros em 2021.

Em 2022, este reformado teve um aumento de dez euros, passando a receber 519 euros mensais – ou seja, um aumento de 1,96%. Além disso, recebeu no final do ano meia pensão extraordinária, um pagamento feito uma só vez e que não alterou o valor da pensão mensal. Assim sendo, no total do ano, este pensionista recebeu 7.525,5 euros (14 pagamentos de 519 mais a meia pensão de 259,5 euros). Ou seja, recebeu mais 5,61% do que em 2021.

São, pois, dois aumentos diferentes: o mensal (1,96%) e o anual (5,61%). Acontece que a inflação foi superior, fechando no ano passado em 7,85%. E este ano?

2023, dois aumentos

O reformado que tinha uma pensão média de 509 euros em 2021, e que passou para 519 euros em 2022, recebe este ano dois valores mensais diferentes, no primeiro e no segundo semestre.

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Nos primeiros seis meses deste ano, esta pensão beneficia do primeiro aumento anunciado pelo governo ainda no ano passado, que para este caso específico é de 4,83%. Ou seja, até ao final de junho, esta pensão mensal é de 544 euros. Depois de julho, a pensão já beneficia do segundo aumento anunciado entretanto pelo governo, de mais 3,57%. A pensão deste reformado passa assim para 563 euros.

Mais uma vez, os aumentos da pensão mensal e do total recebido durante o ano são diferentes. No final deste ano, o pensionista receberá uma pensão mensal 8,4% mais elevada do que no ano passado. Mas, no total deste ano, este pensionista receberá 7.747 euros, o que é apenas 2,94% mais elevado do que aquilo que recebeu ao longo de todo o ano de 2022. E também este último valor é inferior à inflação deste ano, prevista para 5,1% na última previsão disponível, pela Comissão Europeia.

Pensão média perde 14 euros de poder de compra por mês desde 2021

O facto de haver aumentos diferentes entre aquilo que o pensionista recebe por mês e aquilo que recebe por ano resulta das medidas do governo nestes dois anos: em 2022, houve um pagamento extraordinário de meia pensão que não afetou o valor de base da pensão mensal; em 2023, há dois aumentos separados no tempo, pelo que em metade do ano o pensionista recebe um valor e na outra metade recebe outro. Por outro lado, recorde-se, a fórmula dos aumentos das pensões – que o governo já admitiu alterar, recuando depois – tem como base as inflações passadas, o que significa que anda um ano “atrasada”. 

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Se somarmos os últimos dois anos, a inflação composta de 2022 (7,85%) e 2023 (estimada em 5,1%) significa que os preços subiram 13,35% em dois anos. Mas a pensão mensal média de 509 euros em 2021 subiu 10,5% nos dois anos; e o valor total recebido este ano é 8,71% superior ao total recebido em 2021.

Para manter o poder de compra destes dois anos, este reformado que recebia a pensão média de 509 euros em 2021 (último ano para o qual há dados públicos da pensão média) precisaria de receber hoje 577 euros mensais. Ou seja, está a perder 14 euros mensais de poder de compra em dois anos. E teria de receber no total deste ano 8.077 euros, ou seja, está a perder 331 euros de poder de compra este ano face a 2021.

As contas resumem-se na seguinte tabela:

 PENSÃO MÉDIA DE 509€ EM 2021  2021 2022 2023 Aumento 2023/21
Valor da pensão mensal 509 519 563 10,5%
Valor total recebido no ano 7126 7525,5 7746,6 8,71%

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Tendo em conta as taxas de inflação de 2022 e 2023 (estimada), a pensão média de 509 teria de ter tido aumentos diferentes para manter o poder de compra:

 PENSÃO MÉDIA DE 509€ EM 2021  2021 2022 2023 Aumento 2023/21
Valor necessário para cobrir inflação (mês) 509 549 577 13,35%
Valor necessário para cobrir inflação (mês) 7126 7685,4 8077,3 13,35%

Da confrontação destas duas tabelas resultas as diferenças já citadas: o reformado que recebia a pensão média de 509 euros em 2021, e que passará a receber no segundo semestre deste ano 563 euros, teria de estar a receber 577 euros (mais 14 euros mensais) para manter o poder de compra. E teria de receber ao longo de todo este ano 8.077,3 euros para manter o poder de compra do total do ano de 2021 (mais 331 euros do que receberá). 

Repare-se que estas contas assumem a inflação total. Tendo em conta que os rendimentos mais baixos tendem a gastar maior proporção do seu rendimento em alimentação, e que a inflação dos produtos alimentares deste dois anos é superior ao total da inflação, é provável que os reformados que recebem a pensão média tenham perdido ainda mais poder de compra.  

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