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O tipo de prenda que as pessoas mais gostam de receber

Aaron Ahuvia é professor de marketing e psicólogo do consumidor no College of Business da University of Michigan-Dearborn's, nos Estados Unidos

A minha família nunca foi muito dada a oferecer prendas, portanto, pode parecer irónico que eu tenha descoberto dois segredos para dar às pessoas prendas que elas vão adorar.

Ambos resultam da minha pesquisa enquanto psicólogo de consumo na Universidade de Michigan-Dearborn.

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O primeiro segredo: as prendas que as pessoas mais gostam raramente são as mais caras, mas muitas vezes são as mais adequadas. São uma prova palpável de que a pessoa que as comprou adora a pessoa que as vai receber, e esse carinho tem como base um conhecimento profundo das pessoas que recebem as prendas.

Conforme digo no meu livro, “The Things We Love: How Our Passions Connect Us and Make Us Who We Are”, quando gostamos de uma pessoa, fundimo-la na nossa noção de identidade, tornando-a uma parte de quem somos. Uma forma de isto acontecer é quando ganhamos um conhecimento íntimo e profundo sobre a pessoa de quem gostamos. Portanto, quando alguém nos oferece uma prenda que revela este tipo de conhecimento, confirma que essa pessoa gosta de nós e se preocupa connosco.

Oferecer prendas às pessoas que as façam sentir-se vistas requer muitas vezes que as conheçamos e falemos com elas, durante algum tempo. Para que alguém se sinta verdadeiramente visto, temos de observar com atenção.

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O meu amigo Steve ainda valoriza as prendas que as filhas lhe deram.

“A Jaime comprou-me uma caneca com desenhos das peças do Scrabble, e a Cari comprou-me uma caneca que ela personalizou com imagens da história 'Frog and Toad'”, recorda. “Aquilo que mais me comoveu em ambas as prendas foi perceber que as minhas filhas tinham reconhecido um elemento essencial de quem eu sou. Senti-me visto!”

Imaginemos que vai comprar uma prenda para alguém que adora cozinhar. Não peça à pessoa que diga aquilo que lhe falta na cozinha. Tente perceber o que faz essa pessoa adorar cozinhar, quais são os pratos preferidos, os utensílios preferidos, as frustrações na cozinha e tudo o mais que conseguir saber.

Com esse tipo de conhecimento profundo pode descobrir a prenda perfeita. No marketing e no design usamos esse tipo de entrevistas para criar o produto perfeito que o consumidor vai adorar.

Mas resulta ainda melhor na vida quotidiana para encontrar uma prenda que alguém vá adorar. E a única coisa que tem de fazer é manter uma curiosidade entusiástica sobre a vida e os interesses da outra pessoa com mais do que uma ou duas perguntas.

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Parafraseando Dale Carnegie, o segredo para uma amizade próxima não é ser interessante - é ser interessado. Mesmo que a prenda seja um pouco ao lado, os amigos vão adorá-la ainda mais, provavelmente, pois vai lembrá-los de uma conversa que tiveram durante a qual esteve mesmo interessado na pessoa e como essa conversa vos aproximou ainda mais. Na maioria das vezes, a conversa será uma prenda melhor do que qualquer coisa que se compre numa loja.

Isto leva-nos ao segundo segredo sobre as prendas adoradas: ou elas recordam a pessoa que as recebe de uma ligação passada connosco ou promovem uma ligação futura, ou ambas. O meu amigo Steve adorou as canecas de café não apenas porque o fizeram sentir-se visto, mas também porque essas prendas das suas filhas adultas o fizeram recordar algumas das atividades preferidas que partilharam na infância das miúdas, jogar Scrabble e ler a história “Frog and Toad”.

No meu livro resumi uma longa lista de estudos que apontam todos para a mesma conclusão: uma das principais razões pelas quais as pessoas adoram as coisas é porque elas nos ligam a outras pessoas. Essa ideia aparece com frequência na minha pesquisa, que resumi num artigo de 2015, “Nothing Matters More to People than People: Brand Meaning and Social Relationships”, publicado na Review of Marketing Research.

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O meu amigo Ed falou-me de alguns brinquedos adorados que recebeu quando era miúdo. Ele tinha à volta de cinco anos quando viu pela primeira vez os brinquedos 'Poppin Fresh' que a tia tinha como parte de uma coleção de artigos típicos de Pillsbury. “Ela disse-me, mais tarde, que os meus olhos brilharam com entusiasmo quando vi os bonecos e que eu pedia sempre para brincar com eles, quando ia a casa dela”, contou-me.

“Então, um dia, ela disse que tinha uma coisa muito especial para me dar, e ofereceu-me os bonecos. Adorei esta prenda porque era algo precioso que ela adorava e confiou em mim para cuidar deles [ainda hoje os tenho].”

Estas prendas significaram muito para ele pois foram dadas com coração e criaram uma ligação entre ele e a tia.

Dar como prenda algo que já foi nosso é especialmente poderoso. Mas também há uma forma de fazer com que uma prenda nova fortaleça uma ligação social. Use a prenda para passar algum tempo juntos. Isso funciona especialmente bem com as crianças mais novas e os familiares mais velhos.

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Eis como: ofereça um jogo a alguém e dedique tempo a jogar com essa pessoa. Se as pessoas a quem oferecer o jogo forem jovens, deixe que eles o ensinem a jogar. Se der a um familiar um livro de recortes vazio, reserve algum tempo para se sentar com a pessoa a preenche-lo. Tornar-se-á adorado assim que essa pessoa o encarar como uma ligação entre ambos.

Comprar uma prenda pode, às vezes, deixar-nos encurralados entre os nossos corações e as nossas carteiras. Podemos tentar consolar-nos dizendo: “O que conta é a intenção.”

Mas na pesquisa que fiz sobre as prendas que as pessoas adoram, não vi grande prova de que as boas intenções na compra de uma prenda tivessem um grande impacto. É mais importante ver as pessoas como elas querem ser vistas, valorizar as relações que temos e usar as prendas para criar ligações mais profundas com elas.

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